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    "Ensaio" foi essencial para o Eixo

    RICARDO BONALUME NETO

    24/01/2016 02h05

    A Guerra Civil Espanhola costuma ser chamada de "ensaio" da Segunda Guerra Mundial. Armas importantes que seriam usadas no maior conflito da história humana foram testadas na Espanha, e a luta no país serviu de experiência de combate para militares que voltariam a se enfrentar.

    Ela não teria durado três anos sem a intervenção das principais potências autoritárias da Europa –a Alemanha nazista e a Itália fascista de um lado, e a URSS comunista de outro. Foi a polarização ideológica que manteve a guerra acesa por mais do que o esperado.

    O conflito foi importante para definir táticas de combate de bombardeio e de aviação de caça. Mas, ironicamente, o apoio alemão mais importante aos rebeldes veio de meros aviões de transporte –o líder nacionalista Francisco Franco pediu a Hitler e Mussolini ajuda para enviar, por ar, tropas leais do Marrocos espanhol à Espanha, esquivando os bloqueios da Marinha republicana.

    Maurizio Gambarini - 6.abr.2006/Efe
    Avião Junker Ju-52 sobrevoa Hamburgo em comemoração aos 70 anos de sua criação
    Avião Junker Ju-52 sobrevoa Hamburgo em comemoração aos 70 anos de sua criação

    O resultado foi uma decisiva ponte aérea entre África do Norte e Espanha utilizando aviões de transporte trimotores –o alemão Junkers Ju-52 e o italiano Savoia-Marchetti SM-81. Milhares de tropas regulares de soldados marroquinos e da Legião Estrangeira espanhola assim transportadas consolidaram a revolta em um momento crítico.

    A aviação alemã na Espanha, com pequeno apoio de tropas terrestres, foi chamada Legião Condor. Sua participação inicial foi fundamental, mas era modesta: foram designados para a Espanha em 1936 meros 20 Ju-52 e seis aviões de caça biplanos Heinkel He-51 (já quase obsoletos em termos de potência e poder de fogo).

    Os Ju-52 eram de transporte, mas logo foram improvisados como bombardeiros de "nível", ou de "horizonte"–aqueles que voam em trajetórias retas, abrem o compartimento de bombas na parte de baixo da fuselagem e as deixam cair. Como o Ju-52 não tinha esse compartimento, foi feito um buraco embaixo para que as bombas fossem lançadas manualmente!

    A intervenção ítalo-germânica ativou uma resposta soviética, já em 1936. Os russos enviaram caças como o biplano Polikarpov I-15 e o monoplano Polikarpov I-16 –este, o mais moderno então, criou problemas para os nacionalistas.

    Os alemães responderam enviando seus aviões de ponta: o bombardeiro Heinkel He-111, o caça Messerschmitt Bf-109 e uns poucos exemplares do bombardeiro de mergulho Junkers Ju-87, popularizado pela abreviatura Stuka, do alemão "Sturzkampfflugzeug" –avião de combate de mergulho.

    O Stuka voou pela primeira vez em 1935, mesmo ano em que a Força Aérea alemã, a Luftwaffe, até então clandestina, foi revelada ao mundo por Hitler –a essa altura já tinha mais de 1.800 aviões.

    Há informações de que um Ju-87 teria sido testado brevemente na Espanha em 1936; três deles chegaram em 1938 e participaram de várias operações, como um bombardeio do porto de Barcelona. A carga de bombas máxima do avião era de 500 kg. Em geral eram usadas bombas de 50 kg e 250 kg. Versões posteriores da aeronave usadas na Segunda Guerra mais que dobraram essa capacidade de carga.

    Por limitados que tenham sido os "experimentos" na Espanha, bastaram para os alemães usarem o Stuka com sucesso em 1939 e 1940 contra a Polônia, a França, a Bélgica e a Holanda. Mas não na Grã-Bretanha em 1940. Atacando sem escolta, os pequenos bombardeiros eram dizimados pelos caças Spitfire e Hurricane.

    RICARDO BONALUME NETO, 55, é repórter da Folha.

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