Poucos podem chegar à Argentina cantando "A taça do mundo é nossa, com brasileiro, não há quem possa" e sair sob aplausos. Vinicius de Moraes era um deles.
Em 1970, o poeta começava assim seus shows em Buenos Aires: comemorando a vitória brasileira na Copa do México. Apesar da rixa entre os países, ele caiu na graça dos portenhos. O LP que registrou esse momento ficou conhecido como "La Fusa" e está entre os mais vendidos e amados do Brasil aqui.
Mais de 45 anos depois, a pernambucana Josi Dias remonta a apresentação no território do inimigo, mas não arrisca se meter no futebol. Diz não querer gerar polêmica: "No palco, é melhor não falar de política, religião e futebol".
No show atual, há algumas outras alterações na ordem das canções e a inclusão de "Você Abusou" –grande hit no país.
Há dois anos em cartaz no Notorious (um pequeno clube de jazz e restaurante no bairro da Recoleta), a apresentação foi criada para homenagear o centenário do nosso poeta e diplomata, em 2013. Com a casa lotada todos os sábados por mais de um mês, o show acabou não saindo mais de cartaz.
A CASA
O Notorious tem um selo –Random Records– que detém os direitos do disco "Vinicius de Moraes - La Fusa con Maria Creuza y Toquinho en Buenos Aires", gravado em 1970 ao vivo.
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A Fusa foi um tradicional café e bar que surgiu no fim dos anos 60 no Uruguai, em Punta del Este, por onde também passou a argentina Mercedes Sosa.
O show de Vinicius estreou por lá e depois foi transferido para a segunda versão da Fusa, instalada dentro de uma galeria da avenida Santa Fé, em Buenos Aires.
A ideia de gravar ali o disco ao vivo foi do produtor Alfredo Radoszynski. A Fusa, no entanto, não tinha uma boa acústica, e seu ambiente foi recriado dentro do estúdio Ion. Para lá foram levados público, mesas de bar e uísque –Vinicius queria (e conseguiu) que o ambiente íntimo e de celebração da casa pudesse ser sentido nas músicas.
A história do poeta e de suas apresentações na Argentina e no Uruguai é contada no documentário de 52 minutos "Vinicius en La Fusa", de Lorena Muñoz.
Nele, há depoimentos de Maria Creuza e de dois músicos argentinos que participavam dos concertos –o baterista Enrique Roizner e o contrabaixista Mario Fernández–, além de vários contos da vida de Vinicius no Cone Sul. Um deles é sobre sua passagem por Mar del Plata, na costa argentina.
Lá, existiu a terceira La Fusa, na qual Vinicius e Toquinho ficaram dois meses em cartaz. Os dois eram acompanhados por mais um cantor, que era trocado a cada 15 dias. Esse terceiro artista podia ser Maria Bethânia (que depois também gravaria um disco ao vivo em Buenos Aires com o poeta) e Chico Buarque, entre outros.
Todos os envolvidos no projeto moravam juntos em uma casa no litoral. Vinicius passava horas trabalhando na banheira da casa, na qual, imerso na água, recebia amigos e cantava.
O documentário, de 2013, pode ser visto no site do canal público argentino Encuentro.
SEM BOSSA
Festas de música eletrônica estão proibidas na cidade de Buenos Aires desde o início da semana passada. A decisão da prefeitura foi tomada após cinco pessoas morrerem em uma rave realizada no dia 16 de abril, por ingestão de drogas. Outros jovens permanecem internados em estado grave.
O prefeito Horacio Rodríguez Larreta deverá liberar as festas após a aprovação de um projeto de lei que obriga os organizadores dos eventos a adotarem medidas de prevenção, como a distribuição de folhetos sobre o uso abusivo de drogas.
NO SALÃO DE EVITA
Desde o último dia 22, turistas podem subir ao balcão da Casa Rosada em que o presidente Mauricio Macri dançou para comemorar sua posse, no fim do ano passado.
A sede do Executivo foi aberta para visitas guiadas que incluem o salão Eva Perón –onde há exposição de objetos da mítica primeira-dama, morta em 1952– e o gabinete do presidente.
Os passeios podem ser feitos nos fins de semana e em feriados, e é preciso se inscrever no site visitas.casarosada.gob.ar.
LUCIANA DYNIEWICZ, 30, é correspondente da Folha em Buenos Aires.