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    Em Lisboa, vitória da seleção portuguesa marca fim da profecia

    ISABEL COUTINHO

    17/07/2016 02h00

    Já havia piadas por ser o dia dos F. O dia da Final do Europeu de Futebol. O dia de França contra Portugal. O dia de uma equipa Favorita e de outra com um treinador chamado Fernando Santos. O dia de todas as palavras começadas por F que gritamos ao ver as lágrimas de Ronaldo a sair em maca do relvado, impossibilitado de ultrapassar Platini como o melhor marcador da história dos Europeus. As mesmas lágrimas que o já chamado "d. Sebastião de chuteiras" tinha chorado na Euro 2004 quando perdeu a final para a Grécia.

    A França nunca tinha sido derrotada numa final disputada em casa e a seleção nacional há 41 anos que não lhes ganhava. E tudo aconteceu, desde a invasão de mariposas à bola do jogo ter estoirado. "Isso tinha de acabar tragicamente ou não fossemos portugueses", ecoava pelo Twitter durante a partida. Mas o dia tinha começado bem para o desporto português. Com um F de Felicidade. Sara Moreira sagrou-se campeã europeia de meia-maratona nos Europeus de Atletismo em Amsterdã, a equipa portuguesa ganhou o título coletivo e Patrícia Mamona sagrou-se campeã europeia do triplo salto. E o dia terminou com o mesmo F, de Felicidade, quando o "patinho feio" Éder, cuja presença na equipa tantas vezes foi questionada, aos 109 minutos arriscou e, do meio da área, acertou em cheio.

    Nessa noite, Lisboa saiu à rua até de manhã e não era a festa de Santo Antônio. Na tarde do dia seguinte, recebeu em apoteose os campeões que passearam de autocarro pela cidade a entoar "A Portuguesa" –"heróis do mar, nobre povo"– e a cantar de improviso "pouco importa, pouco importa, se jogamos bem ou mal. Somos campeões da Europa, viva o nosso Portugal".

    FESTA PORTUGUESA

    Fez-se a festa de um país que se viu sem fronteiras. Uma imensa alegria lusófona correu o mundo. Um humorista cumpriu a promessa que tinha feito se Portugal ganhasse e deixou-se filmar a correr e a saltar no Marquês de Pombal tal como veio ao mundo. Tornou-se viral o vídeo do pequeno Mathis, de dez anos, a confortar o adepto francês que chorava. O ator Harrison Ford, de férias em Portugal, foi apanhado naquela noite com o cachecol dos campeões ao pescoço. A atriz Julia Louis-Dreyfus juntou-se aos festejos no Marquês. Na Guiné-Bissau, onde nasceu Éder, devem ter-se ouvido gargalhadas depois do seu espontâneo: "É feriado hoje, caralho!" quando aterrou em Lisboa e viu o mar de gente que o aclamava.

    Em todos os lugares onde se fala ou se falou português houve explosão de alegria. Acabou-se o nosso fado. Cumpriu-se um ideal, por Eusébio e por todos os que haviam tentado e nunca conseguido. Acabaram as "profecias da desgraça".

    À MESA MARCADA

    E agora que sabemos que somos um imenso Portugal, podemos voltar ao dia a dia do que nos espera, as sanções da União Europeia, a crise, o desemprego, lamentos do que mudou nos últimos anos em Lisboa. Coisas de que o antigo publicitário e agora crítico gastronômico Miguel Pires, do blog Mesa Marcada (goo.gl/xxqe8O), sabe bem.

    Em cinco anos muitos restaurantes e lojas fecharam e outros abriram, por isso lança seu guia "Lisboa à Mesa – Guia Onde Comer. Onde Comprar" (Planeta) em nova edição. Estruturado por bairros, tem pontuações e estimativa de preços por refeição. O crítico voltou aos mesmos lugares do primeiro livro e a outros que não existiam em 2011. Quando lhe perguntam onde ir comer em Lisboa, diz que "o mais fácil é sempre partir para os restaurantes tradicionais". Mas no livro só dá cinco estrelas a dois restaurantes: ao Belcanto, do chef José Avillez, único com duas estrelas Michelin da cidade, e ao Kanazawa, só para oito pessoas, do chef japonês Tomoaki Kanazawa, que só funciona ao jantar.

    LÁ VAI

    Também acaba de sair o "Guia Ler e Ver Lisboa" (goo.gl/w5p941), que nasceu de uma ideia original de Afonso Cruz, autor de "O Pintor Debaixo do Lava-Loiças" (Peirópolis) e de Patrícia Portela, autora de "Para Cima e não para Norte" (Leya). Convidaram escritores da nova geração (como David Machado, Valério Romão, Joana Bértholo, Bruno Vieira Amaral) e outros mais consagrados (Gonçalo M. Tavares, Alice Vieira, Rui Cardoso Martins e Miguel Real) para escreverem contos sobre a cidade.

    Aos ilustradores Alex Gozblau, André Carrilho, André Letria, António Jorge Gonçalves, João Fazenda e Bárbara Assis Pacheco, pediram desenhos. O livro está à venda no Museu do Fado e na Casa Fernando Pessoa.

    ISABEL COUTINHO, 49, é repórter do jornal português "Público".

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