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    Fotos e trens flutuantes em Tóquio

    EWERTHON TOBACE

    30/10/2016 02h01

    Após dois anos de fechamento para obras, o Museu de Arte Fotográfica de Tóquio (TOP Museum ) reabriu as portas com um ar bem mais internacional, um novo nome –antes se chamava Museu Metropolitano de Fotografia de Tóquio– e um design totalmente reformulado.

    As mudanças fazem parte das comemorações dos 20 anos da instituição e refletem as grandes transformações que começam a acontecer na capital japonesa com vistas à Olimpíada de 2020.

    Para a reinauguração, o museu apresenta até 13/11 a exposição "Arquivo Perdido da Genética Humana", do fotógrafo japonês Hiroshi Sugimoto, que vive em Nova York desde os anos 1970.

    As imagens ocupam dois andares do prédio e retratam o "desaparecimento da humanidade e da civilização". Elas são divididas em três partes: "Teatro Abandonado", o mais recente trabalho do artista; "Arquivo Perdido da Genética Humana", mostrado pela primeira vez no Japão; e a instalação "Mar de Budas".

    A segunda parte é o conjunto que mais surpreende, não somente pela estética, mas pela capacidade de Sugimoto de criar uma missão arqueológica. São 33 perspectivas que retratam o fim do mundo. Nelas, fotos de raios, animais, do mar ou retratos de pessoas se fazem acompanhar de itens da coleção de objetos do artista, criando cenários pós-apocalípticos.

    Entre as diversas mensagens escritas por Sugimoto, uma em especial chama a atenção: "Hoje o mundo morreu. Ou talvez ontem". Os dizeres ecoam a abertura d' "O Estrangeiro", de Albert Camus ("Hoje mamãe morreu. Ou talvez ontem").

    ISOLAMENTO

    Como se o problema da queda populacional no Japão não fosse o suficiente, o governo federal divulgou há pouco uma pesquisa preocupante sobre pessoas que não saem de casa. O estudo revelou que 541 mil japoneses com idades entre 15 e 39 anos chegam a ficar reclusos por mais de seis meses, sem ir à escola ou sem ter contato com pessoas de fora da família.

    Esse tipo de comportamento tem um nome: "hikikomori", que literalmente significa "isolado em casa". O levantamento apontou que 35% dos entrevistados estão há mais de sete anos sem sair de casa. Mas há um alento: o número tem diminuído nos últimos dez anos. Especialistas criticam, contudo, o fato de a pesquisa não levar em conta pessoas de mais de 40 anos. Para eles, nesse caso, o diagnóstico seria ainda mais inquietante.

    GRANDES EXPECTATIVAS

    Pelas ruas da capital já são visíveis mudanças visando aos Jogos Olímpicos: estações de trem remodeladas, parques em processo de revitalização, prédios antigos em restauração e muitos canteiros de obras espalhados pela cidade.

    Apesar da polêmica em torno dos custos do evento –a governadora Yuriko Koike disse que o valor superaria os US$ 30 bilhões (cerca de R$ 96 bilhões), quatro vezes a estimativa inicial, e pressiona os organizadores a fazer cortes drásticos–, o Japão quer mostrar ao mundo sua capacidade de se repaginar e promete muitas inovações tecnológicas.

    Como se trata de um país que já vive na vanguarda da tecnologia, a propaganda pode soar um pouco exagerada. Por outro lado, é sabido que, da primeira que foi anfitriã da maratona esportiva, em 1964, Tóquio mostrou ao mundo como havia se recuperado da devastação da Segunda Guerra.

    Os japoneses impressionaram os visitantes com o trem de alta velocidade e transformações urbanas, num conjunto que compreendia metrô, autoestradas e parques.

    Agora, o país aposta em 2020 para sair de duas décadas de estagnação. Trem que flutua num campo magnético e chega a 600 km/h, carros que voam, táxis sem motoristas, robôs humanoides que interagem com as pessoas e uma infinidade de produtos estão sendo anunciados para os próximos anos.

    ABE NO PODER

    O Partido Liberal Democrata divulgou um projeto que visa a aumentar o limite das reeleições para presidente da legenda. Seriam até três períodos consecutivos de três anos. No país, o líder da sigla governista assume o cargo de primeiro-ministro. Atualmente, as regras permitem apenas dois mandatos seguidos, totalizando seis anos. Assim, o primeiro-ministro Shinzo Abe deixará a liderança do partido (e do país) em 2018.

    Se a proposta vingar, Abe poderá estar no poder na abertura da Olimpíada. Dizem que ele se entusiasmou com a aparição no encerramento dos Jogos do Rio, quando surgiu vestido como o personagem-título do game Super Mario, e que quer repetir a dose.

    EWERTHON TOBACE, 40, é jornalista, produtor e documentarista em Tóquio.

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