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    Eleições alemãs nas redes sociais

    SILVIA BITTENCOURT

    11/12/2016 02h04

    Enquanto os políticos tradicionais em Berlim juntam os cacos da vitória de Donald Trump, a nova agremiação populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) está seguindo a mesma estratégia do presidente americano recém-eleito e investindo nas redes sociais.

    Já apelidada de "partido do Facebook", a agremiação acaba de comemorar mais de 300 mil curtidas na rede social, bem mais do que a CDU da chanceler Angela Merkel, do social-democrata SPD ou dos Verdes. Calcula-se que, compartilhadas, suas mensagens nacionalistas e xenófobas alcancem até 5 milhões de pessoas, número maior do que a audiência dos grandes jornais televisivos do país.

    A AfD considera-se vítima dos meios de comunicação, que chama de mentirosos, e proíbe a entrada de jornalistas em seus eventos. Optou então por "informar", ela mesma, seus simpatizantes, divulgando nas redes sociais sua própria realidade –a de uma Alemanha ameaçada pelos estrangeiros.

    Na semana passada, por exemplo, o partido aproveitou-se de um caso isolado –o estupro seguido de morte de uma estudante em Freiburg– para praguejar contra Merkel, sua política migratória e os refugiados (o principal suspeito é um jovem afegão de 17 anos). A linha é a mesma de Trump: frases de efeito, fotomontagens, insultos aos adversários e pouco programa.

    A AfD até cogitou empregar no próximo ano, quando acontecem as eleições federais, os chamados "bots", programas de software que propagam conteúdos, muitas vezes falsos, como se fossem escritos por usuários das redes sociais. Depois de críticas, voltou atrás.

    EXÍLIO

    Um grupo de intelectuais está reivindicando a criação de um museu do exílio, que traga a experiência de milhares de alemães que fugiram do terror nazista, entre 1933 e 1945. Reunidos num colóquio na Casa da Literatura, no mês passado, eles louvaram o esforço dos arquivos literários na abordagem do tema, mas insistiram na instituição de um "lugar central", de preferência em Berlim, voltado não só para o exílio de escritores, artistas e políticos, mas também de outros profissionais.

    Para a Prêmio Nobel de Literatura Herta Müller, o museu poderá "fazer uma ponte" para a atual crise dos refugiados, mas o principal enfoque deverá ser a vida no exílio durante o nazismo –segundo ela, tema pouco valorizado pelas autoridades e desconhecido do público.

    Os intelectuais saudaram como um primeiro passo a recente compra, pela Alemanha, da mansão onde Thomas Mann (1875-1955) vivera durante seu exílio na Califórnia, na década de 1940. O local servirá para alojar jovens bolsistas e a promoção de eventos culturais.

    DANÇA-TEATRO

    Até 9 de janeiro o museu Martin-Gropius-Bau traz uma bela exposição sobre a coreógrafa Pina Bausch (1940-2009), pioneira da dança-teatro. Além de fotos e documentos inéditos, que recuperam seus tempos de estudante na Alemanha e nos EUA, dezenas de vídeos mostram cenas de suas principais criações, como "Café Müller" (1978) e "Cravos" (1982).

    No centro da exposição há uma grande réplica do lendário Lichtburg (burgo luminoso), uma antiga sala de cinema de Wuppertal, onde desde o final dos anos 1970 até hoje a companhia de Bausch ensaia suas produções (o Tanztheater Wuppertal permanece atuando, mesmo depois da morte da coreógrafa).

    Enquanto em Wuppertal poucas pessoas de fora têm acesso à sala, em Berlim ela é um espaço para workshops de dança, ensaios abertos da companhia e troca de ideias com o público.

    MENOS CARROS

    Ampliar ainda mais o espaço público de Berlim para pedestres e bicicletas. Este é um dos objetivos da coalizão rubro-rubro-verde (entre os social-democratas, os socialistas do partido da Esquerda e os Verdes), que acaba de assumir a prefeitura da cidade. Além de aumentar as ciclovias, o novo governo fechará para carros particulares a pomposa avenida Unter den Linden –e não só aos domingos.

    O bulevar se tornará em parte calçadão a partir de 2019, entre o Portão de Brandemburgo e o novo fórum Humboldt, futuro centro cultural e científico, cuja inauguração também é prevista para aquele ano. Os pedestres dividirão o espaço com ônibus, táxis e bicicletas.

    Fonte de inspiração para romancistas e poetas alemães, a Unter den Linden (sob as tílias) surgiu em 1647, quando foram plantadas ali as primeiras árvores. Mas só no século seguinte tornou-se uma rua majestosa e um polo turístico, com a Ópera Estatal, a Biblioteca Real e o palácio que precedeu a Universidade Humboldt.

    Hoje também é o endereço do hotel mais famoso da cidade, o Adlon, de museus e embaixadas.

    SILVIA BITTENCOURT, 51, é jornalista, autora de "A Cozinha Venenosa" (Três Estrelas).

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