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    Desenhos do Ghibli e fim do violão das gueixas

    EWERTHON TOBACE

    08/01/2017 02h06

    Chiaki Tsukumo - 26.ago.2002/Associated Press
    Os irmãos Ryoichiro Yoshida (esq.) e Kenichi tocam shamisen em estúdio em Tóquio
    Os irmãos Ryoichiro Yoshida (esq.) e Kenichi tocam shamisen em estúdio em Tóquio

    Em julho de 2016, o Museu Ghibli reabriu as portas após dois meses de reforma. Mas foi somente no começo de dezembro que consegui o concorrido ingresso para visitar o local, depois de três longos meses de tentativas frustradas.

    Mesmo para quem não é fã de animação, vale a pena visitar o museu, localizado ao lado do parque Inokashira. Mais do que um espaço para mostrar as obras do Studio Ghibli –responsável por filmes como "A Viagem de Chihiro", "Túmulo dos Vagalumes" e "Meu Vizinho Totoro", entre outros–, o local é dedicado à animação como um todo. Cerca de dez milhões de pessoas já passaram por ali desde a inauguração, em outubro de 2001.

    A sensação é de estarmos dentro de um cenário de desenho. Um dos atrativos do lugar é a seleção de curtas-metragens produzidos exclusivamente para o museu. A grande novidade pós-reforma é uma sala em forma de ônibus-gato, personagem do desenho "Meu Vizinho Totoro".

    Espalhados pelo prédio de três andares, os personagens famosos da premiada companhia japonesa de animação se misturam com a arquitetura. O museu tem ainda um café, um parque infantil, um jardim na cobertura e uma loja de lembrancinhas.

    É estritamente proibido tirar fotos na parte interna. "O Museu Ghibli é um portal para um mundo de contos. Como o protagonista de uma história, pedimos que você experimente o espaço do museu com seus próprios olhos e sentidos, em vez de usar o visor de uma câmera", justifica a direção.

    APOSENTADORIA

    O que todos os fãs de anime (animação japonesa) querem saber é se o cineasta Hayao Miyazaki, considerado o "deus da animação" e um dos fundadores do Studio Ghibli, aposentou-se mesmo. Há pouco mais de três anos, ele anunciou que não produziria mais filmes. Mas em 2016 foi divulgado que Miyazaki estava trabalhando em um curta-metragem exclusivo para o museu.

    "Kemushi no Boro" (a lagarta Boro, em tradução livre) está previsto para estrear na primavera de 2017. É um curta de 12 minutos que Miyazaki começou a produzir em 2015, mas que vem sendo pensado desde os anos 1990. Em um documentário exibido pela rede pública de TV NHK no final do ano passado, o cineasta deixou claro que quer transformar esse trabalho em uma animação de longa duração a ser lançada antes das Olimpíadas de Tóquio, em 2020.

    SHAMISEN EM CRISE

    São poucos os instrumentos musicais que se integram tão perfeitamente à tradição cultural de uma nação quanto o shamisen, uma espécie de violão de três cordas –em japonês, shamisen significa literalmente "três cordas". O instrumento está presente no teatro Kabuki, nas peças com bonecos, nas músicas tradicionais e nas performances de gueixas.

    No entanto, o shamisen vive uma crise existencial. É cada vez menor o número de artesãos capazes de fabricar o objeto na sua forma original, que tem cobertura com couro de gato ou de cachorro.

    Já se tentou usar couro de canguru e de bode, além de produtos sintéticos, mas os tradicionalistas argumentam que o som nunca será o mesmo se a matéria-prima for outra.

    O couro dos felinos e dos cães é usado desde o período Edo (1603-1868). Hoje o país importa o material de países como China e Tailândia, mas o comércio vem diminuindo por causa de grupos de defesa dos direitos dos animais.

    Segundo dados da Associação de Promoção da Música de Shamisen, são vendidos por ano cerca de 2.000 instrumentos. O número vem caindo drasticamente. Até 1975, havia cerca de 700 lojas especializadas. Hoje, restam apenas 200.

    RELAÇÃO BILATERAL

    Incerteza é a palavra que a mídia japonesa mais tem usado para definir a relação bilateral com os Estados Unidos após a eleição de Trump. Preocupado, o primeiro-ministro, Shinzo Abe, agiu rápido e foi o primeiro líder mundial a se encontrar com o presidente eleito.

    A grande preocupação do país é perder a proteção das tropas norte-americanas, presentes em diversas bases militares instaladas no país desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Afinal, a região é um barril de pólvora, com a China ganhando poder bélico e a Coreia do Norte desenvolvendo arsenal nuclear.

    Abe tem feito sua parte. No final de 2016, seguindo os passos de Obama (primeiro presidente americano em exercício a visitar Hiroshima), o premiê aportou em Pearl Harbor para uma visita histórica.

    Os vizinhos asiáticos, é claro, não gostaram. Coreia do Sul e China disseram que o país deveria se esforçar para se reconciliar com os países que foram vítimas do Exército imperialista japonês antes e durante a Segunda Guerra.

    EWERTHON TOBACE, 40, é jornalista, produtor e documentarista em Tóquio.

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