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    Diário de Berlim: Antídoto ao discurso de ódio da "direita alternativa"

    SILVIA BITTENCOURT

    19/02/2017 02h03

    O Breitbart News, portal ultraconservador norte-americano, representante da chamada "direita alternativa", acaba de ganhar um adversário na Alemanha. Trata-se do Schmalbart, iniciativa lançada por profissionais de mídia contra o ódio e a manipulação de informações na internet.

    Seu nome faz alusão irônica ao Breitbart, cujo conteúdo racista e xenófobo teria contribuído para a vitória de Donald Trump na eleição do ano passado. Breitbart é o sobrenome do fundador do site americano e, em alemão, significa "barba larga". Schmalbart quer dizer barba fina.

    A ideia partiu do jornalista Christoph Kappes, depois que ele leu sobre as intenções do Breitbart de abrir, neste ano de eleições na Europa, uma sucursal na Alemanha. Há tempos a plataforma extremista destaca a crise dos refugiados -não raro, por meio de notícias falsas. No último Réveillon, por exemplo, informou erroneamente que um grupo de muçulmanos teria incendiado uma igreja na cidade alemã de Dortmund.

    O objetivo do Schmalbart não é somente fiscalizar o oponente norte-americano. Com vídeos e textos curtos e precisos, o novo portal tenciona agir nas redes sociais contra a incitação promovida pelos grupos radicais de direita -que, desde o acirramento da crise dos refugiados, em 2015, vêm ganhando fôlego na Alemanha.

    Para isso pretende criar um "banco de fatos on-line", capaz de fornecer ao usuário, de forma rápida, argumentos e fontes seguras sobre temas polêmicos, como criminalidade entre estrangeiros ou mudança climática.
    A dificuldade, diz Kappes, é falar mais alto do que os populistas.

    JUBILEU

    A Alemanha está se preparando para comemorar o quinto centenário da Reforma Protestante. Ao longo do ano, muitos concertos, palestras e exposições lembrarão o monge Martinho Lutero, que supostamente fixou, em 31 de outubro de 1517, em Wittenberg, suas 95 teses contestando a autoridade da Igreja Católica.

    Fabrizio Bensch/11.ago.2010/Reuters
    Estátuas de Martinho Lutero, artífice da Reforma Protestante, compõem uma instalação do artista Ottmar Hoerl exposta em Wittenberg (Alemanha), cidade a partir da qual o sacerdote lançou a insurreição

    Um dos eventos mais esperados é a exposição "Lutero e a Vanguarda", que será aberta em maio numa antiga prisão de Wittenberg, assim como em igrejas de Kassel e Berlim. Ali estarão obras de 60 artistas contemporâneos, entre eles o chinês Ai Weiwei, o dinamarquês Olafur Eliasson e a indiana Shilpa Gupta.

    O objetivo é mapear os ecos, na atualidade, das teorias do monge rebelde, além de questionar as relações entre igreja, poder e cultura neste século.

    NOVOS LIVROS

    Não podiam faltar inúmeras obras sobre Lutero e seu tempo, como romances históricos, livros de arte, música e até mesmo culinária. Entre as novas biografias destaca-se a da historiadora Lyndal Roper, de Oxford, "Martin Luther: Renegade and Prophet" (Lutero - renegado e profeta), que acaba de sair na Alemanha.

    Roper é uma das maiores especialistas em história alemã do século 16 e trabalhou por mais de dez anos com cartas, textos e documentos a fim de escrever essa obra monumental.

    Em sua detalhada análise psicológica de Lutero, ela mostra a personalidade contraditória do monge e como conflitos pessoais o levaram a contendas com o papa e com o imperador.

    INAUGURACÃO

    Desde o mês passado, os museus de Berlim têm um novo concorrente: o Barberini, localizado na cidade vizinha de Potsdam. O nome vem do Palácio Barberini, uma galeria de arte que Frederico, o Grande, construiu ali há mais de 250 anos, ao lado de sua residência, inspirando-se no "palazzo" romano também assim chamado.

    Mas o palácio de Potsdam foi destruído na Segunda Guerra Mundial (1939-45), e por muitos anos seu terreno foi um espaço livre, servindo até como estacionamento. Foi só em 2013 que começou a ser reerguido, com a fachada original.

    "A Arte da Paisagem", com 140 obras do período impressionista, e "Clássicos do Modernismo" (com trabalhos de Edvard Munch, Emil Nolde e Max Liebermann, entre outros) são os títulos das exposições inaugurais, abertas até maio. Grande parte das obras pertence ao fundador da empresa alemã de software SAP, o mecenas Hasso Plattner, que vem patrocinando a nova instituição.

    O Barberini promete ser um dos museus particulares mais nobres do país.

    SILVIA BITTENCOURT, 51, jornalista, é autora de "Folha Explica o Euro" (Publifolha).

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