• Ilustríssima

    Sunday, 05-May-2024 19:25:45 -03

    Diário de Buenos Aires: Biblioteca Nacional incorpora coleção de Bioy Casares

    SYLVIA COLOMBO

    16/04/2017 02h00

    Quase um ano após ter assumido a Biblioteca Nacional, o escritor Alberto Manguel, 68, diz ter voltado a se sentir à vontade na cidade em que nasceu e na qual passou a adolescência, mas de onde se afastou pela maior parte da vida –morou na França, no Canadá e nos Estados Unidos.

    Manguel conta não ser fácil andar pelas ruas de Buenos Aires sem se lembrar dos amigos que já não estão aqui, ou porque se exilaram, ou porque morreram no enfrentamento da ditadura militar. O que o ajuda, diz, é a leitura diária que faz de um trecho da "Divina Comédia", de Dante Alighieri, antes de ir caminhando até a biblioteca.

    Desde que Manguel assumiu, houve mostras de manuscritos de Jorge Luis Borges, de homenagem aos 50 anos da morte de Oliverio Girondo e em torno dos 40 da desaparição de Rodolfo Walsh. Agora, Manguel planeja uma seção dedicada aos povos originários. Por fim, o acervo da biblioteca conta, desde março, com a coleção do casal Adolfo Bioy Casares (1914-1999) e Silvina Ocampo (1903-1993), constituída por 17 mil volumes.

    Marcelo Huici/Divulgacao
    O escritor Alberto Manguel, diretor da Biblioteca Nacional argentina, junto a manuscritos do conto "A Biblioteca de Babel". Os originais foram emprestados aa biblioteca pelo bibliofilo brasileiro Pedro Correa do Lago para mostra de manuscritos do autor argentino EXCLUSIVO ILUSTRADA - NAO USAR ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    O escritor Alberto Manguel, diretor da Biblioteca Nacional argentina

    FEIRA DO LIVRO

    Buenos Aires abriga sua feira do livro de 27 de abril a 15 de maio, na Sociedade Rural, em Palermo. Estão escalados para o evento o espanhol Carlos Ruiz Zafón ("A Sombra do Vento"), o alemão Bernhard Schlink ("O Leitor") e o Nobel sul-africano J.M. Coetzee ("Desonra").

    ARQUEOLOGIA NA CIDADE

    Escavações arqueológicas no subsolo de Buenos Aires, inclusive em lugares movimentados, como a Plaza San Martín e o Parque Lezama, revelaram a presença de tribos nômades na beira do rio da Prata desde, possivelmente, 3.000 anos antes da chegada dos espanhóis.

    O mistério, porém, continua. Pesquisadores querem detalhar as circunstâncias que levaram os primeiros fundadores (1536) a abandonar a cidade. Sabe-se que faltava alimento e que a ameaça dos ataques indígenas era constante, mas não se conhecem a cronologia ou o local exato dos eventos.

    Buenos Aires só seria refundada em 1580, após um massacre dos povos nativos.

    DIREITOS HUMANOS

    Apesar de a Argentina estar na vanguarda da região quanto ao julgamento dos crimes da repressão da ditadura (1976-1983), alguns dilemas ainda surgem.

    As Avós da Praça de Maio, que procuram os bebês de guerrilheiros nascidos em cativeiro e entregues a outras famílias, viveram seu grande momento em 2014. Após retraçar a identidade verdadeira de 113 deles, finalmente encontraram o neto da fundadora da organização, Estela de Carlotto, 86.

    Agora, porém, ela e o rapaz, Ignacio, vivem um momento difícil. Estela sempre exigiu que a Justiça investigasse os responsáveis por cada adoção ilegal. No caso de Ignacio, entretanto, tem hesitado.

    Apesar de reconhecer o que chama de erro dos pais adotivos por terem recebido um bebê roubado, Ignacio crê que eles são inocentes e foram enganados pelo dono da fazenda em que trabalhavam, que lhes ofereceu o bebê, doado a ele por um militar, dizendo que a criança fora abandonada. A Justiça pediu que o casal seja processado por apropriação ilegal de menor.

    Ignacio é filho de Laura de Carlotto, sequestrada quando tinha 22 anos, e de Walmir Montoya, desaparecido aos 26. Ambos atuavam no grupo guerrilheiro Montoneros. Estela recebeu o corpo da filha pouco depois, com a notícia de que ela tinha dado à luz em cativeiro. Foi o que a moveu a fundar, em 1977, as Avós da Praça de Maio, que já identificaram as famílias de origem de 121 dos estimados 500 bebês apropriados no período.

    Martín Zabala/Xinhua
    Ramiro Menna (de pé, em 1º plano) comemora anúncio da real identidade do 121º neto da ditadura argentina descoberto pelas Avós da Praça de Maio; Menna é irmão do neto identificado
    Avós da Praça de Maio anunciam identificação do 121º bebê apropriado durante a ditadura

    MALVINAS

    No último dia 2, foram lembrados os 35 anos do início da Guerra das Malvinas, conflito entre a Argentina e o Reino Unido pelo controle de ilhas no Atlântico Sul.

    Os corpos dos soldados que morreram no combate jamais voltaram à Argentina e estão enterrados, a maioria sem identificação, no cemitério de Darwin, nas ilhas.

    Com o anúncio dos governos do presidente argentino, Mauricio Macri, e da primeira-ministra britânica, Theresa May, de um novo momento da relação entre os países, os familiares obtiveram uma pequena vitória. Peritos identificarão os corpos de Darwin, em cujas lápides consta apenas: "Soldado argentino solo conocido por Dios" (soldado argentino conhecido apenas por Deus).

    A expressão também é o título de um filme recém-lançado. Baseado em caso verídico, conta a história de dois soldados do mesmo povoado de Córdoba que são levados às ilhas. Um morre em combate. O outro sobrevive, mas trava nova batalha com o trauma deixado pela guerra.

    SYLVIA COLOMBO, 45, é correspondente da Folha em Buenos Aires

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024