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    Um prólogo inédito para 'Game of Thrones', só que em língua valenciana

    DIOGO BERCITO

    03/09/2017 02h00

    Enquanto esperam mais dois longos invernos pela última temporada de "Game of Thrones", espanhóis terão um alento: o livro "Rogues", organizado por George R.R. Martin, criador da série, será publicado no país em breve. A obra inclui um conto ambientado no continente de Westeros (onde se passa a maior parte da trama de "Game") cem anos antes da série, com valiosas informações sobre o clã Targaryen.

    Mas felicidade de dragão dura pouco, como bem sabe quem assiste ao programa, e o texto estará inicialmente disponível apenas em valenciano, um dialeto falado por 2,4 milhões de nativos. Só meses depois o complemento a "Joc de Trons" chegará ao castelhano e a seus 570 milhões de falantes.

    O diretor da editora Llibres de L'Encobert, José López Camarillas, explicou a decisão ao jornal "Vanguardia": é uma maneira de pôr em evidência sua língua regional, de valorizar a cultura de um dos reinados –não de Westeros, mas da Espanha.

    Esses incentivos são recorrentes no país, e o peso dado aos idiomas se emaranha à política. Tamanha é a sensibilidade do tema que a mídia espanhola ainda discute as implicações de um chefe policial ter explicado à imprensa em catalão os detalhes do atentado terrorista de 17 de agosto em Barcelona.

    O jornalista holandês Marcel Haenen se frustrou com as informações, limitadas à língua regional, e deixou o local. O chefe de polícia disse, como quem não se importa: "Bueno, pues molt bé, pues adiós" (bom, pois muito bem, pois adeus).

    TODO CARNAVAL TEM SEU FIM

    Com o fim de agosto, a Espanha entrou em um período que equivale ao nosso fim de Carnaval –escritórios voltaram a funcionar, médicos voltaram a atender, as ruas se encheram outra vez. As férias de verão, com temperaturas que chegaram aos 40º C, foram encerradas por festas tradicionais em toda a região de Madri, marcadas neste ano pelo incremento na segurança. As autoridades temem que algo de dimensão similar à do atentado de Barcelona se produza em outras paragens. Houve 16 mortos nos ataques da Catalunha.

    Em Colmenar Viejo, povoado de 48 mil habitantes, a polícia ergueu barreiras de concreto para controlar a entrada de pedestres. Veículos de segurança foram posicionados em ziguezague para impedir que automóveis se chocassem contra o público.

    Em Alcalá de Henares, de 195 mil habitantes, onde nasceu Miguel de Cervantes (1547-1616), o tráfego foi suspenso em todo o centro. Já em Alcorcón, de 167 mil habitantes, a segurança será feita por 235 policiais e um sem-fim de câmaras –as festanças ali se arrastam até 10 de setembro.

    Silvio Cioffi - 21.abr.2016/Folhapress
    Rua do centro histórico de Alcalá de Henares, cidade natal de Cervantes
    Rua do centro histórico de Alcalá de Henares, cidade natal de Cervantes

    TURISMO PARA TODOS

    Não basta na Espanha que um vilarejo tenha castelos e igrejinhas medievais. Como essas atrações se distribuem democraticamente pelo território, a arquitetura antiga não serve de diferencial. Os turistas acabam então se amontoando nos cartões postais de "toda la vida", como se diz ali –Toledo, Ávila, Segóvia.

    Para espalhar um pouco melhor os visitantes e assim socializar os lucros, o governo da região de Madri está financiando programas de incentivo ao turismo em pequenos povoados.

    O projeto existe desde 2014 e passa agora a incluir cidades de menos de 200 habitantes, como Patones de Arriba e Torrelaguna. São auspiciosos os precedentes –o número de turistas em Nuevo Baztán, por exemplo, saltou de 8.500 a 15.000 entre 2014 e 2017. A iniciativa já inclui 11 municípios.

    PENSANDO NA MORTE DA PESETA

    O Banco da Espanha recentemente recontou seu vil metal e anunciou, no fim de agosto, que há 1,6 bilhão de euros (cerca de R$ 6,1 bilhões) desaparecidos. "No limbo", como descreveu o jornal "El País". É o montante de dinheiro que ainda existe em forma de pesetas, a antiga moeda espanhola, provavelmente escondido embaixo de colchões ou dentro de porquinhos.

    A Espanha aderiu ao euro em 1º de janeiro de 2002 e decretou ali a morte da peseta, depois de 133 anos de circulação. É uma morte lenta, e essa pesada moeda ainda poderá ser trocada por euros até o primeiro dia de 2021. Mas os proprietários precisam acelerar um pouco o passo –no atual ritmo, esse câmbio demoraria 130 anos.

    DIOGO BERCITO, 29, é correspondente da Folha em Madri e assina os blogs Mundialíssimo e Orientalíssimo no site do jornal.

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