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    Rainha dos computadores, Lenovo define ambições quanto a celulares

    ERIC PFANNER
    DO "NEW YORK TIMES"

    08/01/2014 18h20

    Nos Estados Unidos, a Lenovo continua a ser mais conhecida como a companhia chinesa que adquiriu as operações de computadores pessoais da IBM em 2005.

    Na China, ela é mais conhecida como a nova líder mundial no ranking de fabricantes de computadores, uma força que merece respeito no segmento de smartphones, e como empresa determinante para o poderio econômico e tecnológico do país.

    A fabricante de laptops já se tornou a segunda maior marca no segmento de smartphones da China, atrás apenas da Samsung Electronics. A Lenovo, uma companhia cujos planos jamais foram modestos, deseja reforçar esse sucesso e começar a penetrar nos Estados Unidos e em outros mercados de alta renda, em 2014.

    "Serei muito claro: nossa aspiração é um dia nos tornarmos líderes no espaço móvel", disse J. D. Howard, vice-presidente da Lenovo que comanda a expansão de suas operações de smartphones fora da China. "Sei que parece loucura, mas cinco anos atrás, se eu tivesse dito que planejávamos nos tornar a maior fabricante mundial de computadores pessoais, as pessoas diriam que estávamos loucos".

    A companhia precisa encontrar o equilíbrio entre a cultura chinesa e a norte-americana; ou, na opinião de alguns, precisa aprender a combiná-las. A Lenovo tem duas sedes –em Pequim e em Morrisville, Carolina do Norte. Entre seus cem principais executivos, há profissionais de 18 nacionalidades. Embora tenha obtido sucesso mundial com seus computadores pessoais, e sucesso na China com seus smartphones, nada assegura que tenha um destino igualmente afortunado nos mercados mais desenvolvidos, dominados pela Apple e Samsung, ambas com posições fortíssimas.

    Mas a Lenovo surpreende constantemente. Ela foi fundada em 1984 por Liu Chuanzhi, cientista da computação, e por um grupo de outros engenheiros, com financiamento da Academia Chinesa de Ciências, um instituto de pesquisa financiado bancado pelo governo que ainda continua a deter participação acionária indireta na companhia.

    Liu, que foi enviado a uma plantação de arroz para se reeducar como trabalhador rural durante a Revolução Cultural, surpreendeu o mundo com a aquisição das operações de computadores pessoais da IBM por sua companhia. O acordo com a IBM gerou credibilidade instantânea para uma empresa ainda pouco conhecida, e também lhe valeu prestígio, porque Liu garantiu o uso do nome ThinkPad para suas linhas de laptops; a marca criada pela IBM era muito popular em companhias de todo o mundo. Posteriormente, a Lenovo realizou outras aquisições que lhe deram presença em grandes mercados como Alemanha, Brasil e Japão.

    Em setembro de 2013, a Lenovo cimentou sua posição como líder do ranking mundial de fabricantes de computadores pessoais. Vendeu mais computadores que duas grandes companhias norte-americanas, Hewlett-Packard e Dell, e também superou rivais taiwanesas que enfrentam declínio, como a Acer e a Asus. No final do terceiro trimestre do ano passado, a Lenovo detinha participação de 16,7% no mercado mundial de computadores pessoais, de acordo com duas empresas que acompanham as estatísticas desses produtos, Gartner e IDC.

    A força da empresa esteve sempre na produção de laptops muito duráveis, mas recentemente ela também começou a fabricar tablets. Em janeiro de 2012, lançou um novo aparelho com a marca Yoga que combina os recursos de um tablet e de um laptop, incluindo uma tela de toque reversível. O modelo está à venda por menos de US$ 300 nos Estados Unidos.

    Além disso, o tablet opera com o sistema operacional Android, produzido pelo Google, que teve papel muito importante no sucesso dos smartphones e tablets da Samsung. E mostra o tipo de flexibilidade que falta à maioria dos produtores de computadores pessoais, que continuam presos ao sistema operacional Microsoft Windows.

    "O computador pessoal não desaparecerá amanhã", diz Peter Hortensius, presidente do Think Business Group, uma das unidades da empresa, que atende a clientes empresariais. "Um mercado de US$ 200 bilhões é uma grande torta, e acreditamos poder ficar com uma fatia maior dela", ele diz, mencionando o movimento anual do mercado mundial de computadores pessoais.

    A IDC prevê que a venda de computadores pessoais cairá em quase 14%, para 314 milhões de unidades, este ano, ante 364 milhões dois anos atrás. Alguns analistas acreditam existir demanda reprimida da parte de clientes empresariais que postergaram a compra de novos computadores de mesa devido à fraqueza da economia mundial. Mas a tendência de longo prazo parece clara: computadores pessoais são um produto que já atingiu a maturidade.

    "A Lenovo está sentindo a pressão, mas talvez esteja entre as companhias mais bem preparadas para enfrentar a tempestade", disse Jeff Orr, analista da ABI Research.

    Um dos motivos para isso é sua linha de smartphones.

    No terceiro trimestre de 2013, a Lenovo detinha 13% do mercado chinês de smartphones. A Samsung Electronics, que ingressou no segmento muito antes, está se saindo melhor, com 21%, de acordo com a Canalys, uma empresa de pesquisa. Mas a força da companhia na China basta para dar à Lenovo o terceiro posto no ranking mundial, atrás da Samsung e Apple. No terceiro trimestre, as vendas de tablets e smartphones da Lenovo, somadas, superavam suas vendas de computadores pessoais, ainda que os computadores pessoais continuassem a responder por 85% de seu faturamento.

    A Lenovo foi beneficiada por sua posição de liderança nos computadores pessoais e pelo seu relacionamento estreito com o varejo e com as operadoras de telefonia móvel da China, o maior mercado mundial de smartphones.

    "Eles conhecem o mercado chinês melhor do que qualquer das marcas estrangeiras, e já contam com uma rede de distribuição", disse Jenny Lai, analista do HSBC.

    Ainda que mais de 90% das vendas de celulares da empresa continuem a acontecer na China, há sinais promissores em outros mercados. Na Indonésia, outro mercado imenso, a participação da Lenovo já atinge os dois dígitos. No ano passado, a Lenovo começou sua campanha para expandir as exportações de smartphones pelo estabelecimento de subsidiárias na Índia, Vietnã, Filipinas e Rússia.

    Os analistas dizem que grande proporção do crescimento nas vendas de smartphones virá dos mercados em desenvolvimento, mas a Lenovo não planeja parar neles. No entanto, dada a força da Apple e da Samsung nos Estados Unidos e Europa, uma nova empresa pode encontrar dificuldades para se ajustar.

    "Não consigo imaginar que a Lenovo possa ingressar no mercado norte-americano de smartphones e ampliar rapidamente sua participação nele", disse Mikako Kitagawa, analista da Gartner.

    Apple e Samsung foram incluídas entre as dez marcas mais valiosas do planeta no ranking da Interbrand, uma companhia de pesquisa de marketing, e a marca da Lenovo não está nem mesmo entre as cem mais valiosas. A empresa é conhecida entre os executivos de compras nas grandes empresas, responsáveis pelas decisões de compra de computadores pessoais, mas sua marca é menos conhecida entre os consumidores. Até mesmo os executivos da Lenovo admitem que, se quiser desafiar a Apple e Samsung no mercado de smartphones, a empresa precisará polir sua imagem. Para fazê-lo, a companhia contratou Ashton Kutcher e Kobe Bryant para sua publicidade.

    A Lenovo não é a única fabricante chinesa de smartphones ansiosa para se expandir internacionalmente. Outras, como a Huawei, Xiaomi e ZTE, também começaram a se expandir para além de seu mercado de origem. Os executivos da Lenovo afirmam que estão em posição melhor que seus rivais chineses devido à força da companhia nos computadores. Ao acrescentar tablets e smartphones, dizem, a Lenovo poderá integrar aparelhos, e também e serviços de computação aos seus aparelhos.

    Eles afirmam que as pessoas estão em busca de alternativas à Apple ou Samsung.

    "Conversei com muita gente no setor, e há muito interesse em alternativas às duas grandes", diz Howard, da Lenovo. "O poder corrompe; essa é a natureza das coisas".

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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