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    Análise: "Cinco frágeis" são mais recente clube de mercados em crise

    LANDON THOMAS JR.
    DO "NEW YORK TIMES"

    29/01/2014 18h29

    O longo boom dos países emergentes veio a ser identificado, se não exatamente sustentado, pela ampla aceitação do termo "BRIC", usado para designar Brasil, Índia, Rússia e China, países de rápido crescimento. O recente tumulto nesses mercados e em economias semelhantes já resultou em uma expressão rival: os "cinco frágeis" (fragile five).

    O novo apelido, cunhado por um analista financeiro pouco conhecido do Morgan Stanley, na metade do ano passado, identifica Turquia, Brasil, Índia, África do Sul e Indonésia como economias que se tornaram demasiadamente dependentes de volátil investimento estrangeiro para financiar suas ambições de crescimento.

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    O termo pegou em larga medida porque coloca em destaque o desgaste que ocorre quando países enfatizam demais a manutenção de um ritmo acelerado de crescimento. E o novo termo também desperta questões prementes não só sobre os países do grupo BRIC mas sobre os mercados emergentes em geral.

    O relatório do Morgan Stanley saiu em agosto, quando surgiram informações de que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) em breve começaria a reduzir os montantes de seu programa de aquisição de títulos. O termo que o relatório cunhou se tornou uma maneira rápida e fácil de os investidores expressarem preocupação quanto a uma derrocada mais ampla nos mercados emergentes, causada por corridas à lira turca, ao real e ao rand sul-africano.

    Esses temores foram concretizados esta semana quando a Turquia, vista pela maioria dos investidores como o mais frágil entre os cinco frágeis, elevou suas taxas de juros em 4,25% na terça-feira (28).

    O aumento superior ao esperado, anunciado por um banco central que até então havia adotado uma atitude bastante passiva quanto à proteção de sua moeda, tinha por objetivo persuadir os investidores estrangeiros, bem como os poupadores domiciliares e empresariais, a manter suas posições no mercado de liras, em lugar de converter a moeda turca em dólares.

    Como os demais membros dos cinco frágeis, a Turquia depende pesadamente do volúvel investimento de curto prazo por parte de estrangeiros para a financiar seu imenso deficit em conta corrente —e o resultado disso é uma moeda que muitos investidores consideram supervalorizada.

    Os analistas de investimentos adoram criar nomes chamativos que simplificam sua visão e, com sorte, apanham o espírito do mercado em um dado momento. No período inicial da crise do euro, o termo PIGS (porcos) veio, com alguma rudeza, a designar Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha. E quando a Grécia e seu futuro na zona do euro se tornaram o tema dominante, a palavra "Grexit" (combinação de "Grécia" e "saída", em inglês) logo ganhou ampla circulação.

    Mas nem todos esses termos pegam. Em setembro, analistas do Deutsche Bank criaram o termo BIITS para designar o mesmo grupo de países que a expressão "cinco frágeis", mas ele não foi reproduzido em muitos relatórios de análise.

    Os países afetados pela crise financeira asiática de 1997 não ganharam um apelido. Naquela e em outras crises dos mercados emergentes, os investidores retiraram seu dinheiro principalmente devido à preocupação mais ampla quanto a incertezas políticas e econômicas.

    E embora tenha havido fugas fortes de capital da Turquia e de outros membros dos cinco frágeis, em termos gerais o que temos é um recuo dos investidores estrangeiros quanto a essa categoria de ativos como um todo.

    Nada disso surpreende Jim O'Neill, que, trabalhando como economista para o Goldman Sachs em 2001, criou o termo BRIC para destacar o potencial de crescimento em longo prazo das grandes economias emergentes.

    "Continuo a acreditar que elas são as melhores oportunidades de investimento do planeta", disse O'Neill, que reconhece se irritar quando tem de defender sua tese a cada vez que um mercado emergente oscila.

    O'Neill, que deixou o Goldman Sachs recentemente e agora trabalha autonomamente, acaba de identificar um novo clube, igualmente dinâmico.

    Ele criou para o grupo o termo MINT, porque ele engloba México, Indonésia, Nigéria e Turquia.

    Quando O'Neill cunhou o termo BRIC, os influxos de capital estrangeiro para os mercados emergentes eram da ordem de US$ 190 bilhões ao ano, de acordo com dados do Instituto Internacional de Finanças, a organização setorial dos bancos internacionais.

    O momento não poderia ter sido mais oportuno. O Fed estava adotando uma política de taxas de juros muito baixas, e o propulsor de crescimento chinês estava se acelerando, o que sustentaria o duradouro boom das commodities subsequente.

    Os investidores, que buscavam rendimento desesperadamente, começaram a despejar fundos nos mercados e economias apontados por O'Neill. De 2010 para cá, o influxo líquido anual de capital para esses mercados foi de em média pouco mais de US$ 1 trilhão ao ano.

    Como resultado, O'Neill se tornou famoso em todo o mundo. Era celebrado pelos investidores e pelos países do grupo BRIC, que até formaram um banco de desenvolvimento conjunto.

    Tudo isso mudou na metade do ano passado, quando o anúncio do Fed de que pretendia eliminar seu programa de compra de títulos causou pânico entre os deslumbrados investidores nos mercados emergentes. Outras preocupações, como uma desaceleração do crescimento na China, incertezas políticas na Rússia e Turquia e, o mais importante, moedas vulneráveis no Brasil e África do Sul, causaram tensão generalizada quanto à possibilidade de um pânico mais amplo nos mercados.

    Assim, no começo de agosto, quando James Lord, um analista de câmbio bastante subalterno no Morgan Stanley, divulgou uma nota de pesquisa alertando sobre os riscos dos "cinco frágeis", o termo se espalhou rapidamente, especialmente entre os investidores já nervosos quanto às suas posições em títulos de países emergentes.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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