Os produtores de grãos do Centro-Oeste estão pedindo para que órgãos de controle do governo fiscalizem a fusão da ALL com a Rumo, subsidiária da Cosan.
Os fazendeiros temem que a companhia que vai controlar a ferrovia priorize seus produtos, açúcar e combustível, em detrimento de outros itens que são transportados na linha, como grãos e fertilizantes.
Por isso, já entraram com um pedido no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) para que o órgão de controle da concorrência investigue a fusão
Eles pretendem entrar com requisições semelhantes em outros órgãos do Estado.
A ALL é a única ferrovia que pode transportar grãos da região de Mato Grosso para o porto de Santos (litoral de São Paulo).
capacidade limitada
Mas, como a capacidade de transporte da empresa está limitada devido à falta de
investimentos na linha, não há espaço para levar a carga de todos os clientes que solicitam.
Com isso, a companhia vinha escolhendo os clientes mais rentáveis, e a soja, por ser transportada ao longo de uma distância maior, vinha tendo prioridade.
Isso levou a uma disputa da ALL com a Cosan, que reclamava que a empresa ferroviária não estava cumprindo contrato para o transporte do açúcar em São Paulo.
Em 2012, a ALL transportou 10 milhões de toneladas de açúcar e combustível.
De acordo com Edeon Vaz, que coordena o movimento Pró-Logística da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso, o temor dos agricultores é não saber como ficará a situação a partir de agora.
Segundo ele, no ano passado foram transportadas 14 milhões de toneladas de soja pela ferrovia e a previsão eram 16 milhões neste ano.
"É um volume que não podemos abrir mão", afirmou o dirigente.
DISPUTA
A disputa entre produtores de grãos e de açúcar deverá se agravar nos próximos dois anos, segundo apurou a Folha com analistas do setor.
Isso porque não há perspectiva de que obras importantes da ALL fiquem prontas nesse prazo.
E, sem essas obras, a capacidade de transporte da ferrovia vai ser reduzida.
A principal obra é o Ferroanel de São Paulo, que o governo vem prometendo destravar desde 2011, mas que continua sem solução.
A partir do ano que vem, o governo de São Paulo vai começar a diminuir o espaço para a passagens de trens de carga pelo centro de São Paulo para dar prioridade ao transporte de passageiros.
Sem o Ferroanel pronto, a capacidade de chegar a Santos vai ser muito reduzida.