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    'FT' diz que saída de Mantega é jeito mais fácil de país recuperar confiança

    DO "FINANCIAL TIMES"

    26/02/2014 13h12

    O caminho mais fácil para reconstruir a credibilidade na economia brasileira é substituir o ministro da Fazenda, Guido Mantega, por um "candidato com visões pró-mercado", segundo o jornal "Financial Times".

    Em editorial publicado nesta quarta-feira (26), o jornal criticou a piora no ambiente econômico do país, que deixou para trás os anos de crescimento vistos no governo Lula.

    O "Financial Times" atribuiu o momento complicado às decisões tomadas por Dilma, que, segundo o periódico, levaram à perda de credibilidade com os investidores.

    Leia abaixo o editorial na íntegra.

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    ECONOMIA BRASILEIRA: DE VAMOS LÁ A DEIXA LÁ

    Foi um horrível ato falho freudiano, em público. Na semana passada, o Brasil anunciou cortes de gastos de US$ 19 bilhões, com o objetivo de sustentar sua credibilidade diante dos investidores, que está em queda.

    Mas durante a apresentação, a ministra do Planejamento acidentalmente chamou a presidente Dilma Rousseff de "presidente Lula" - seu carismático predecessor, que governou o país em um período em que o Brasil aparentemente não era capaz de erros.

    Ainda que o engano tenha sido recebido com risadas, diz muito sobre a transformação do Brasil de um país "vamos lá" em um país "deixa pra lá".

    Nos anos do boom, quando Luiz Inácio Lula da Silva era presidente, o Brasil cresceu em média 4% ao ano - e em 2010 teve uma arrancada de impressionantes 7,5%.

    Agora, em contraste, sua economia de US$ 2,2 trilhões oscila à beira de uma recessão técnica. E o pior é que ninguém parece divisar de onde poderia vir o crescimento futuro. O Brasil até mesmo se tornou parte dos "cinco frágeis", um grupo de países considerados especialmente vulneráveis caso o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) eleve suas taxas de juros.

    No plano doméstico, o boom alimentado pelo consumo perdeu o gás. O baixo investimento durante os anos de boom se revelou em forma de uma série de gargalos de oferta que bloqueiam o crescimento.

    No plano externo, os preços mais baixos para as commodities deram origem a um deficit em conta corrente potencialmente preocupante. Equivalente a 4% do Produto Interno Bruto (PIB), ele vem sendo coberto por influxos de investimento externo. Mas por quanto tempo mais?

    Os grupos de capital privado são apenas a mais recente categoria de investidores a recuar.

    Rousseff herdou alguns desses problemas de seu predecessor. Outros derivam da piora no ambiente econômico mundial. Mas muitos são responsabilidade da presidente, que está se aproximando do fim de seu primeiro mandato.

    Uma série de incentivos fiscais e outras medidas de "supply side" concebidos para estimular a produção industrial só serviram para aumentar o deficit orçamentário, depois manipulado por meio de contabilidade criativa. Rousseff encorajou o banco central a reduzir as taxas de juros, o que estimulou a economia mas também fez aumentar a inflação.

    Além disso, os juros mais baixos enfraqueceram a moeda, o que era muito necessário mas serviu como novo estímulo à inflação. Combinado a um estilo autoritário, "Dilma sabe tudo", o resultado final foi uma perda de credibilidade por Rousseff e seu governo aos olhos dos investidores, e no exato momento em que as coisas estão se complicando e credibilidade é aquilo de que ela mais precisa.

    No entanto, tudo está longe de perdido -e isso não é verdade apenas quanto às chances da seleção brasileira de futebol na Copa do Mundo. Quase todos, no governo e fora dele, concordam em que a economia precisa mudar. A verdadeira questão é como.

    Uma limitação é a eleição presidencial de outubro. A popularidade de Rousseff se recuperou da queda sofrida em função dos protestos de rua do ano passado, e ela continua favorita a uma vitória.

    Mesmo assim, a maioria dos observadores acredita que adiará as decisões duras para depois do pleito. (Pouca gente tem fé em que o Brasil consiga realizar os cortes de gastos prometidos, porque o custo dos subsídios à energia está disparando devido a uma longa seca que drenou os reservatórios das hidrelétricas.)

    Outro caminho seria estimular o crescimento levando adiante o ambicioso programa brasileiro de infraestrutura. Mas embora alguns projetos ofereçam termos atraentes a investidores estrangeiros, outros não atraem interesse: a ampliação do principal aeroporto de São Paulo resultou até o momento apenas em um novo estacionamento.

    Por fim, há a imensa dificuldade de manobrar no Congresso. Rousseff, uma tecnocrata severa, não tem a capacidade de Lula de convencer os legisladores a aprovar medidas impopulares.

    O que a leva de volta ao ponto de partida. Como reconstruir a credibilidade? Pelo menos o banco central recebeu carta branca para elevar as taxas de juros a fim de conter a inflação, enquanto Rousseff divulga os méritos do país, enfatizando seu compromisso para com a inflação baixa e probidade fiscal. O caminho mais fácil, porém, seria reformar a equipe de governo.

    Guido Mantega, o ministro da Fazenda, há muito perdeu o respeito dos investidores. Substitui-lo por um candidato com visões pró-mercado faria maravilhas. Infelizmente, é provável que isso também seja adiado para depois da eleição.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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