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    Doméstico pesa mais no gasto das famílias

    PEDRO SOARES
    DE SÃO PAULO

    02/03/2014 01h30

    De um lado, o salário mínimo subiu acima da inflação e, de outro, menos pessoas estão dispostas a trabalhar em serviços domésticos.

    Tal combinação trouxe custos adicionais ao orçamento das famílias que mantêm empregados em seus lares, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) levantados pela Folha.

    Desde 2004, o custo dos domésticos sobe acima da inflação e o aumento tem sido forte nos últimos anos.

    Pelos dados do IBGE, o custo do emprego doméstico aumentou 11,26% em 2013, quase o dobro da inflação medida pelo IPCA -de 5,91%. Em 2012, a alta chegou a 12,73%, ante uma inflação de 5,84%.

    Neste ano, a tendência se repete. Em janeiro, o custo do empregado doméstico avançou 1,03%, quase o dobro do IPCA (0,55%).

    Editoria de Arte/Folhapress

    ORÇAMENTO

    Manter um empregado doméstico superou até mesmo o já salgado reajuste dos serviços, que sobem mais do que a média dos preços da economia: 8,7% no ano passado.

    O custo com empregados em casa está entre as maiores altas dos itens de peso relevante no orçamento.

    Percentualmente, gastos com empregado doméstico giram em torno de 4% do orçamento das famílias. Trata-se, por exemplo, de despesa similar à feita com gasolina.

    Tal situação levou o gerente comercial Marcos Caleffi a dispensar, no ano passado, a empregada. Agora, cuida sozinho dos afazeres de casa.

    "O custo de uma diarista estava cada vez pesando mais. A única coisa que não faço é passar roupa. Mando para uma lavanderia."

    Para Adriana Molinari, economista da Tendências Consultoria, tanto o aumento real do salário mínimo nos últimos anos como a atração dos trabalhadores domésticos por outros setores explicam o forte aumento do custo desse serviço.

    Com o dinamismo de ramos como comércio e serviços, diz, há uma procura maior por trabalhadores.

    Esses segmentos oferecem melhores salários e condições de trabalho, o que leva pessoas habitualmente ocupadas nos serviços domésticos a migrarem para eles.

    O aumento da escolaridade, sobretudo entre as mulheres, também favorece esse movimento de esvaziamento do emprego doméstico, pois se abrem novas possibilidades em outros setores a partir da qualificação.

    PEC DAS DOMÉSTICAS

    Gabriel Ulisseya, economista do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), diz que o custo de manter um trabalhador doméstico aumentou não só por causa do reajuste do salário mínimo e da menor oferta de trabalhadores, mas também em razão da PEC das Domésticas, editada no ano passado e ainda em regulamentação no Congresso.

    É que, diz, o texto explicita direitos e encargos. Desse modo, muitos empregadores pensam duas vezes antes de manter ou contratar seus trabalhadores domésticos.

    Os dados do IBGE mostram uma tendência sazonal: sempre que a economia e o emprego vão mal, há um crescimento das ocupações em serviços domésticos.

    Para Molinari, isso ocorre porque a queda da renda leva especialmente as mulheres a buscar trabalho e complementação para o rendimento familiar em tempos de crise e de demissões.

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