Todas as segundas-feiras à noite, após o fechamento da Bolsa de Nova York, um outro pregão começa ao lado, a menos de cem metros do histórico prédio em Wall Street.
Apesar de imitar em praticamente tudo a Bolsa vizinha -com direito a sino de abertura, transações registradas na parede por meio de um projetor de vídeo e o anúncio em voz alta das operações por um corretor vestido a caráter-, o ritual no Bitcoin Center de Nova York se destina à negociação de moeda virtual.
Ali, num ambiente bem menos formal, o bitcoin pode ser trocado por dólar, euro ou qualquer outra moeda aceita por seus participantes.
Há a possibilidade, inclusive, de comprar bitcoins com peças de valor, como roupas ou eletrônicos -basta conseguir um interessado.
Desde que foi criado, em dezembro, o centro reúne entusiastas do bitcoin e gente interessada em abrir uma carteira virtual, tendo a "garantia" de negociar pessoalmente com cada comprador.
Na última semana, quando a reportagem participou de um pregão, o burburinho sobre a iminente quebra da Bolsa Mt Gox já era usado pelos idealizadores do centro para reafirmar a importância de um espaço físico para negociar a moeda virtual.
"Essas transações são feitas por pessoas em todo o mundo, mas nós não sabemos quem elas são. Pensamos que um espaço físico seria bastante complementar à atmosfera bitcoin.
Especialmente após a quebra da Mt Gox", afirma Nick Spanos, fundador do Bitcoin Center.
A pretensa sensação de segurança ajuda curiosos como a artista plástica Marianne Huntington a investir.
"Tenho amigos que investem, então vim para conhecer mais e decidi comprar um pouco de bitcoins para ver o que acontece", diz Huntington após investir US$ 30.
Nos eventos semanais, há corretores que orientam os iniciantes, mas cada negociação é feita entre pares. Não há cobrança de taxa, e a cotação é acertada individualmente, com base na estimativa diária do valor do bitcoin.
"As pessoas podem vir aqui e trocar bitcoins por dólares imediatamente, eles não têm que se preocupar com liquidez, por exemplo", observa o consultor de investimento Mark Anthony.
Ex-corretor da então American Stock Exchange, em Wall Street, Anthony frequenta os pregões do Bitcoin Center desde o início do ano, sempre com o jaleco azul que usava na Bolsa "real".
Agora, ele sempre leva pregado na roupa a imagem do QR code (espécie de código de barras) de sua carteira virtual.
"Eu sempre achei que o bitcoin ia ser uma 'onda' e que não ia vingar. Ele ainda é muito volátil e é tratado como uma commodity, mas acho que vai se estabilizar e ser mais útil como moeda."
Para a maioria dos adeptos da moeda virtual, sua confiança não será afetada com a falência da Mt Gox, que deu um prejuízo de mais de 750 mil bitcoins (cerca de US$ 418 milhões ou R$ 970 milhões) a clientes.
"Compartilhamos a frustração de quem perdeu seus bens. Mas, a longo prazo, a falência da Mt Gox presta um serviço ao eliminar maus atores desse mercado", diz o diretor de comunicação do Bitcoin Center, James Barcia.
O centro pretende seguir promovendo os pregões e palestras sobre a moeda virtual. "Queremos que os nossos vizinhos e Wall Street entendam o que fazemos, em vez de só ler relatórios sobre bitcoin na internet", diz Spanos.