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    Juro pesa mais para quem ganha menos

    ÉRICA FRAGA
    CAROLINA MATOS
    DE SÃO PAULO

    09/03/2014 01h15

    O tempo necessário para pagar os juros de uma dívida pode variar até mais do que dez vezes de acordo com a modalidade de crédito e com o salário do consumidor.

    Quanto maior for a renda, menos dias de trabalho serão engolidos pelo encargo financeiro do empréstimo – sem contar o valor inicial tomado como crédito.

    SIMULAÇÃO

    Editoria de Arte/Folhapress

    A simulação abaixo mostra que um trabalhador com carteira assinada que recebeu R$ 810 líquidos por mês em 2013 precisou destinar, por exemplo, 52 dias de sua renda para pagar os juros de uma dívida de R$ 1.000 no cheque especial parcelada em 12 vezes.

    O tempo foi mais que seis vezes superior aos oito dias necessários para que um funcionário com salário líquido de R$ 5.000 por mês cobrisse os juros de uma dívida equivalente.
    Os cálculos foram feitos pelo economista Samy Dana, da FGV-SP (Fundação Getulio Vargas), para a Folha.

    A grande diferença do peso dos juros sobre a renda ajuda a explicar por que o nível de calote é maior entre os que têm salários mais baixos. "Para consumidores de renda muito baixa, a alta proporção da remuneração destinada aos juros é inadimplência na veia", diz Altamiro Carvalho, assessor econômico da FecomercioSP (federação do comércio de São Paulo).

    Para a mesma faixa de renda, os juros medidos em tempo de trabalho têm grande oscilação segundo a modalidade de crédito contratada. Linhas mais caras, como cartão de crédito e cheque especial, são as que engolem mais dias da renda.

    Ainda segundo a simulação, um trabalhador com salário mensal líquido de R$ 5.000 precisou destinar 11 dias de sua renda para cobrir os juros de uma dívida de R$ 1.000 parcelada em 12 vezes no cartão de crédito no ano passado.

    Esse tempo cairia para um dia se o mesmo empréstimo tivesse sido feito por meio do crédito consignado – disponível para funcionários com carteira assinada cujas empresas tenham convênio com bancos para a concessão.

    Editoria de Arte/Folhapress

    TEMPO É DINHEIRO

    O ditado "tempo é dinheiro" reflete, segundo economistas, a mais pura verdade. "O que a gente vende é o nosso tempo", diz Dana, da FGV. Assim como os dias dedicados ao trabalho são remunerados, o consumidor que se endivida terá de usar um fração do seu tempo, e da sua renda, para pagar apenas os juros do financiamento.

    Caso não tivesse feito o empréstimo, o dinheiro consumido poderia ter tido outro destino. "Saber o número de dias de trabalho necessários para pagar os juros dá uma medida da renúncia implícita na decisão de tomar um empréstimo", afirma Dana.

    Os juros representam o valor do serviço que o credor cobra para emprestar o dinheiro. Em compras à vista, esse encargo não existe. De acordo com o consultor de finanças pessoais Mauro Calil, esses conceitos precisam estar claros para o consumidor. "Os juros não agregam nada ao produto comprado."

    Para aqueles que decidem – por vontade ou necessidade– assumir uma dívida, consultores sugerem uma pesquisa minuciosa do custo de cada modalidade. Também ressaltam que é possível tentar renegociar no banco a troca de uma linha cara por outra mais barata.

    Folhainvest

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