A presidente Dilma ficou irritada com a entrevista do ministro Garibaldi Alves (Previdência) classificando de subestimado o cálculo do governo sobre o deficit previdenciário. Na análise do governo, a declaração do ministro provocou um "estrago na imagem do país" e poderia afetar a avaliação da agência Standard & Poor's (S&P) sobre contas públicas do país.
A agência se reuniu com o governo na semana passada, para avaliar se mantém ou rebaixa a classificação do grau de risco em investimentos na dívida brasileira. Embora as classificadoras de risco tenham errado em suas avaliações na crise de 2008, suas notas são acompanhadas pelo mercado e afetam os juros cobrados por credores.
Em entrevista ao jornal "Valor" publicada anteontem, Garibaldi afirmou que o deficit na Previdência deve ficar em R$ 50 bilhões neste ano, e não nos R$ 40,1 bilhões divulgados pela equipe econômica.
Ele declara que o número projetado não foi discutido com a Previdência e que "não é a expectativa" do ministério. Lembra ainda que, em 2013, o deficit real no final do ano ficou acima do previsto pela Fazenda.
O ministro não chegou a se reunir com a missão da agência quando ela esteve no Ministério da Previdência.
A equipe da Standard & Poor's esteve com técnicos da pasta, que apresentaram como oficial a previsão de deficit divulgada pela Fazenda.
A agência levantou dúvidas sobre a possibilidade de cumprimento da meta, já que no ano anterior ela não se realizou. Os técnicos argumentaram que a tendência neste ano é de redução do deficit porque o governo pagou uma série de dívidas atrasadas.
Eles também destacaram que o deficit no primeiro bimestre deste ano está inferior em mais de R$ 2 bilhões ao do mesmo período em 2013.
"DESMENTIDO"
Dilma acionou o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) para "esclarecer" a declaração de Garibaldi Alves.
Mercadante negociou com a Previdência a divulgação de nota, postada no blog do ministério no final do dia, dizendo que iniciativas vão "trazer resultados bastante significativos já em 2014" e deixar o deficit "num patamar de cerca de R$ 40 bilhões, conforme prevê o governo".
Entre elas, o ministério cita novo modelo de reabilitação de profissionais que recebem auxílio-doença, programa de formalização de trabalhadores autônomos e cobrança de dívidas.
Apesar da irritação da presidente, a ordem era não transformar o episódio em nova crise com o PMDB, diante das especulações de que Garibaldi, senador peemedebista, teria tentado atingir o governo. Segundo assessores, não foi essa a intenção do ministro.