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    Análise: Corte da nota do Brasil pode ter efeito moderado em juros

    MARCELO D'AGOSTO
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    18/03/2014 03h00

    As notas de crédito atribuídas pelas agências de classificação de risco têm impacto relevante sobre o custo da dívida de empresas e países. Quanto melhor a classificação, menor tende a ser o desembolso com os juros dos financiamentos, e vice-versa.

    A S&P (Standard & Poor's) está reavaliando a economia brasileira. A expectativa é que o Brasil não perca o grau de investimento, mas o conceito do país pode cair. As taxas dos títulos públicos de longo prazo, negociados no mercado secundário, já incorporam essa possibilidade.

    editoria de arte/folhapress

    O gráfico acima compara a remuneração das NTN-B (Notas do Tesouro Nacional Série B) para 2024 e 2035 com a evolução do
    risco Brasil, segundo os critérios da S&P. A nota "BBB-" é a mínima para que os títulos sejam considerados investimentos seguros.

    Desde 1994, início da estabilização da economia, a S&P e as demais agências de risco vêm aumentando a nota do Brasil. O grau de investimento veio em 30 de abril de 2008.

    Em 17 de novembro de 2011, a S&P subiu novamente a nota do Brasil, para a atual classificação "BBB". É uma margem mais segura em relação ao grau de investimento.

    As taxas de juros das NTN-B fizeram caminho oposto. Em agosto de 2005, quando a nota do Brasil era "BB-", a NTN-B com vencimento em 2024 remunerava inflação mais 9% ao ano. Na época, a taxa Selic (juro básico) era de 19,75% ao ano.

    No período em que o país conseguiu a classificação mínima para o grau de investimento, a remuneração dos papéis ficou em cerca de 6% ao ano. A Selic no período oscilou de 8,75% a 13,75% ao ano.

    A melhora seguinte da nota de risco contribuiu para queda mais acentuada da taxa dos títulos. Tanto a NTN-B para 2024 quanto a para 2035 passaram a oferecer remuneração de cerca de 4% ao ano.

    O Banco Central também conseguiu reduzir a Selic ao menor nível histórico, 7,25% ao ano, no período de outubro de 2012 a abril de 2013.

    Mais recentemente, porém, as taxas de juros voltaram a subir. Entre os fatores que aumentaram a aversão ao risco dos investidores em relação aos títulos brasileiros está a possibilidade de rebaixamento da nota pelas agências.

    A política monetária também foi impactada. A Selic está em 10,75% ao ano e muitos analistas acreditam que continuará a subir.

    Desde que o governo mostre capacidade de reação para corrigir os rumos da política econômica, a revisão da nota para "BBB-" pode ter um impacto moderado nas taxas dos títulos.

    O temor, no entanto, é que os ajustes fiquem apenas para depois das eleições. Um cenário que aumentaria o custo financeiro do país.

    MARCELO D'AGOSTO é economista e consultor de investimentos

    Folhainvest

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