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    Análise: Decisão mostra que manobras não enganam mais ninguém

    GUSTAVO PATU
    DE BRASÍLIA

    25/03/2014 02h00

    Quando surgiram as primeiras indicações de que a classificação de risco do país poderia ser rebaixada, já era tarde para mudanças nas convicções do governo Dilma Rousseff e na orientação da política econômica.

    Em 6 de junho do ano passado, data da primeira ameaça da agência Standard & Poor's (S&P), a escalada de gastos federais e estaduais já estava contratada até o fim do mandato da presidente.

    Também já estavam sepultadas, na época, as esperanças de uma retomada do crescimento da economia forte o bastante para acelerar a arrecadação de impostos e equilibrar as contas públicas.

    Restaram manobras e truques para, com eficácia cada vez menor, antecipar ou superestimar receitas e subestimar ou protelar despesas, na tentativa de embelezar as estatísticas oficiais.

    Ainda ontem, instantes antes do rebaixamento da nota brasileira, a área econômica havia divulgado um providencial aumento de R$ 4,2 bilhões na já otimista projeção de receita para o ano -o valor quase exato para acomodar a despesa extra com o subsídio da conta de luz anunciada neste mês.

    A nota divulgada pela S&P mostrou como artifícios do gênero não enganam mais ninguém de fora da Esplanada dos Ministérios.

    A agência lista a série de expedientes heterodoxos adotados nos últimos anos e, como todo o mercado, afirma não crer no cumprimento da meta fiscal do ano.
    dúvidas

    Mais importante, apontam-se dúvidas com relação à disposição do próximo governo de fazer o inevitável aperto a partir de 2015 -e nas entrelinhas está a incerteza eleitoral deste ano.

    "Há incerteza quanto ao tamanho e ao alcance" do ajuste esperado, diz o texto da agência de classificação.
    Favorita na eleição, Dilma já mostrou acreditar que sua política fiscal é dura o bastante para um cenário de crescimento econômico frágil.

    Não por acaso, ela recusou a única possibilidade à disposição para um corte mais agudo de gastos neste ano: reduzir as verbas da educação, que no Orçamento superam em R$ 25 bilhões o mínimo obrigatório.

    As demais despesas principais são permanentes e incomprimíveis, casos de salários, benefícios previdenciários e assistenciais, subsídios do Minha Casa, Minha Vida e da energia elétrica -os dois últimos podem ser, no máximo, adiados, piorando as perspectivas para o futuro.

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