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    'Atacarejo' investe em sofisticação para atrair classe alta

    CLAUDIA ROLLI
    DE SÃO PAULO

    29/03/2014 03h00

    Para atender consumidores de classes mais elevadas e também a maior demanda de clientes que tentam proteger o bolso da inflação, o "atacarejo" no Brasil passa por um processo de "sofisticação" que só tende a se acentuar.

    A principal característica desse modelo, com origem nos Estados Unidos, é a venda no varejo pelo preço de atacado.

    Mas as transformações físicas das lojas, maior sortimento de produtos e maior qualidade de serviços já é prova de que, além do preço baixo, esse comércio quer quebrar a resistência que existe em algumas cidades e se aproximar também de clientes das classes A e B.

    Divulgação/GPA
    Belmiro Gomes, presidente da rede Assaí, atacarejo do Grupo Pão de Açúcar
    Belmiro Gomes, presidente da rede Assaí, atacarejo do Grupo Pão de Açúcar

    A avaliação é de Belmiro Gomes, presidente da rede Assaí, atacarejo do Grupo Pão de Açúcar, que atua há 25 anos nesse segmento. Ele trabalhou no Atacadão, comprado do grupo Carrefour em 2007, por 22 anos, e migrou para o concorrente Assaí em 2010.

    Em 2013, a rede faturou R$ 6,8 bilhões, o que representa 34,1% sobre o ano anterior. Há três anos, quando o executivo chegou ao grupo, a rede havia faturado R$ 3,2 bilhões.

    Considerando o crescimento real (descontada a inflação do período) do Grupo Pão de Açúcar no ano passado, 38% dessa expansão já vem da rede Assaí. Esse percentual é mais do que o dobro que do registrado em 2012. Os cálculos foram feitos por analistas do varejo, a partir das vendas líquidas de cada bandeira do grupo. A rede não divulga o dado.

    A seguir trechos da entrevista concedida à Folha na quarta-feira, véspera da abertura da 77ª loja da rede no país.

    *

    Folha - A inflação mudou o comportamento do consumidor?
    Belmiro Gomes - Há de fato uma busca maior por menor custo. Você percebe esse comportamento menos pela renda de perda, mas com a percepção de uma possível crise que tem levado o consumidor a buscar mais o segmento (compra no atacado). Esse movimento acontece ao mesmo tempo em que as lojas se sofisticam para atender melhor o consumidor.

    Como é esse processo de sofisticação?
    As lojas têm pé direito mais alto, com 9 metros, ar-condicionado, fachadas envidraçadas e mudanças na iluminação,,piso de maior qualidade e estacionamento cobertos.

    Existe uma maior capacitação para atender melhor o consumidor final. Isso acontece para que, cada vez mais o público de classes melhores, olhe para o atacado e fale: ok é uma operação ainda de baixo custo, mas não tenho resistência em comprar aqui.

    Essa resistência ainda é forte?
    Temos registrado mais [clientes] da classe A e B.

    Fora do Estado de São Paulo, não há rejeição. Mas em São Paulo e no Rio de Janeiro como o modelo começou mais na periferia, com lojas mais espartanas, estrutura menor ainda há um pouco mais de resistência.

    Qual o perfil do consumidor da rede?
    No público de classe A, observamos a forte presença de empreendedores. Não necessariamente atua no segmento alimentar.

    Ele tem, por exemplo, uma loja de roupas, pode ter renda de R$ 150 mil mensais, e um comportamento controlado em relação com gastos. Está em busca de custo menor porque acaba tendo esse comportamento nos negócios e no seu dia a dia. São pessoas que têm um cuidado maior na hora de gastar.

    Mas nosso principal público ainda é o pequeno e o médio comerciante, que busca a loja como um centro de abastecimento rápido e preços mais competitivos.

    A vantagem é que ele não tem a necessidade de criar estoque, o que alivia o capital de giro dele. Isso evita também a sobrecarga logística no país no meio de transporte, uma vez que você tem uma unidade de atacado que carrega seu próprio estoque.

    Isso acontece tanto em São Paulo, em que o custo é elevado por causa do adensamento urbano, trânsito pesado; como no Juazeiro do Norte, onde não tem trânsito, mas o custo do transporte é alto porque as distâncias são maiores.

    Divulgação/GPA
    Interior de supermercado de 'atacarejo' da rede Assaí em Cuiabá
    Interior de supermercado de 'atacarejo' da rede Assaí em Cuiabá

    Como manter preço baixo e maior sofisticação no atacarejo?
    Nosso papel é ser distribuidor complementar da indústria. O atacado de autosserviço tem se consolidado como ponto de abastecimento da micro e pequena empresa. Ao elevar o pé direito das lojas (algumas estão sendo reformadas e outras construídas dessa forma), por exemplo, se amplia a área de venda e a de estoque.

    Com isso, o produto vem direto do fabricante sem necessidade de passar por um centro de distribuição para depois ser entregue a loja. Essa economia de custo de estocagem e logística é repassada para o cliente. Dependendo da região do Brasil, varia de 3% a 8% do valor final de venda ao consumidor.

    Existe uma tendência no atacado de evoluir [melhorias, qualificação e treinamento], mas jamais ele irá se igualar a outros modelos [supermercados e lojas de conveniência]. Não é esse o objetivo porque sairia do foco do negócio e agregaria mais custo à operação.

    Quais são os planos de investimento para o Assaí?
    Não estou autorizado a detalhar números. Mas uma boa fatia dos R$ 2 bilhões anunciados pela companhia [GPA] para investir até 2014 é para o atacado.

    No ano passado, abrimos 14 lojas e ampliamos a presença da rede de seis para 12 Estados. Esse ritmo de expansão deve se manter.

    Qual é a peso da rede nos negócios do grupo? Analistas comentam que essa participação já chega a 38%.

    Nossa participação tem aumentado e deve avançar porque o ritmo de crescimento deve se manter neste ano, ainda há muito espaço para crescer. Não divulgamos essa informação.

    Quais os planos dos franceses do grupo Casino, controladores da companhia, para o atacado?
    O investimento feito e o número de lojas abertas respondem essa questão.

    Em crescimento orgânico, o Assaí é o que recebe maior aporte do volume de investimentos do Casino. Existe a possibilidade de até ele ser levado para fora, talvez exportado para outra localidade em que o grupo atua. Ao contrário do que se imagina, o atacado não é um modelo brasileiro. Nasceu na Europa e nos Estados Unidos.

    O sr. tem 25 anos de atuação no segmento de atacado. Como chegou ao varejo?
    Como digitador e programa da linguagem Cobol em 1988 no Atacadão. Depois como vendedor. Somados são 22 anos de Atacadão e três de Assaí.

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