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    Análise: Recall é herança maldita de anos de crise da GM

    EDUARDO SODRÉ
    EDITOR-ADJUNTO DE "VEÍCULOS"

    02/04/2014 03h00

    Ao depor na Câmara dos EUA, na terça-feira (1º), e pedir desculpas às vítimas de acidentes causados por defeitos de fabricação em automóveis da General Motors, Mary Barra, presidente-executiva da companhia, deu a real dimensão de um problema que teve início bem antes de o primeiro carro defeituoso deixar a linha de montagem.

    A onda de recalls pela qual passa a empresa -com milhões de veículos envolvidos e cerca de uma dúzia de mortes atribuídas aos problemas - é consequência dos anos de crise enfrentados em silêncio pela empresa até 2008, quando as dificuldades financeiras mais graves emergiram.

    Em seu depoimento, Mary Barra afirmou que a empresa promove uma investigação interna para saber o que gerou anomalias como falhas no sistema de ignição, que faziam o motor desligar repentinamente, bem como os sistemas de freios e de airbags.

    Os defeitos nos carros só foram admitidos agora pela fabricante, que também demorou para assumir que passava por sérias dificuldades financeiras.

    Os problemas começaram a ser percebidos pelo mercado no início dos anos 2000, mas o gigantismo das operações ajudaram a esconder os prejuízos de uma empresa que já operava no
    vermelho.

    CRISE

    Em junho de 2009, a fabricante recorreu ao chamado "Capítulo 11", recurso judicial que, nos EUA, equivale a um pedido de concordata. Foi criada uma nova empresa, cujo sócio majoritário era o governo americano, com 60,8% de participação.

    Esse passo marcou a reestruturação da GM, que reduziu seu portfólio de marcas e encerrou a produção de diversos modelos -vários deles estão envolvidos agora no recall, que inclui, por exemplo, carros produzidos entre 2004 e 2011, justamente o período mais crítico da história da montadora.

    Empresas em crise profunda precisam rever procedimentos e cortar custos, além de passarem um bom tempo sem apresentar novos projetos ou produtos que exijam grandes investimentos.

    É provável que, dentro desse processo de quase falência e reestruturação, tenham surgido falhas no controle de qualidade da GM e de seus fornecedores, que só estão sendo percebidas agora, com a manifestação dos defeitos em série.

    NO BRASIL

    Em todo esse processo, a subsidiária brasileira manteve-se à margem da crise, pois o mercado nacional vivia seu melhor momento. O país é o terceiro maior mercado da GM, atrás de China
    e EUA.

    Nos dois últimos anos, a empresa começou a equilibrar as contas e a renovar sua gama de veículos em todo o mundo. Contudo, os anos difíceis começam a cobrar um preço alto agora.

    OS PERCALÇOS DA GM

    21.nov.2013
    - Tesouro americano informa que tem apenas 2% do total das ações da GM e pretende vender todas até o fim do ano, encerrando resgate feito em 2008 para salvar a companhia

    10.dez.2013
    - Mary Barra é anunciada como nova presidente-executiva da companhia

    30.mar.2013
    - Montadora anuncia recall de quase 1,5 milhão de veículos na China devido a problemas de segurança

    13.mar.2014
    - Um grupo americano que analisa dados de segurança veicular afirmou que dois modelos da GM, alvos de recall,
    estariam envolvidos em parte de 303 mortes computadas entre 2003 e 2012

    17.mar.2014
    - Montadora anuncia três chamados paralelos para fazer a manutenção de vários modelos. As medidas, em conjunto,
    vão custar US$ 300 milhões

    18.mar.2014
    - Mary Barry diz que não tinha detalhes, até 31 de janeiro, dos defeitos nos automóveis da montadora ligados a 12 mortes

    28.mar.2014
    - Empresa anuncia recall de 824 mil veículos nos EUA por suspeita de problemas de ignição

    31.mar.2014
    - GM convoca 1,3 milhão de carros no mundo para consertar problema no sistema de direção

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