Sob impacto da forte alta dos alimentos, a inflação, medida pelo IPCA, acelerou em março e bateu em 0,92%, segundo dados do IBGE divulgados nesta quarta-feira (9).
O resultado supera o de fevereiro, quando o índice oficial do país havia sido de 0,69%. Em janeiro, a taxa fora de 0,55%. Trata-se, portanto, do terceiro mês consecutivo de pressão sobre a inflação.
O resultado do IPCA corresponde à maior variação para o mês de março desde 2003 (1,23%), quando o país vivia os reflexos de um choque cambial.
A inflação de março também repete a maior alta, considerando todos os meses do ano, desde abril de 2003, ou seja, a mais elevada em dez anos. A mesma marca de 0,92% havia sido registrada em dezembro de 2013.
Diante da elevação da taxa nos dois últimos meses, o indicador acumulado em 12 meses se aproximou mais do teto da meta do governo e fechou março em 6,15%.
A meta de inflação é de 4,5%, com intervalo de tolerância de dois pontos para cima (6,5) ou para baixo (2,5).
O índice em 12 meses, que mostra a tendência de longo prazo da inflação, é o mais alto desde julho de 2013 (6,27%).
Em fevereiro, havia ficado em 5,68%. O IPCA encerrou 2013 com alta de 5,92%.
No primeiro trimestre, a inflação subiu 2,18%. O IPCA sente o reflexo, principalmente nos dois últimos meses, do clima desfavorável e seus efeitos sobre os preços especialmente dos alimentos in natura.
ALIMENTOS
Secas prolongadas em algumas regiões e chuvas em excesso em outras resultaram no aumento de 1,92% do grupo alimentação, principal foco de pressão sobre o índice geral de preços.
Dentre os alimentos, importantes itens de consumo quase que diários subiram com força e corresponderam aos aumentos de destaque de março, tais como tomate (32,85%), batata (35,05%), feijão carioca (11,81%), hortaliças e verduras (9,36%), ovos (8,21%) e leite (5,17%).
Todos esses itens sofrem efeitos diretos ou indiretos do clima desfavorável que compromete lavouras e pastagens para os animais. Sozinhos, os alimentos a pouco mais da metade da
variação do IPCA de março (0,51%).
Outra fonte de pressão do IPCA em março veio do grupo transportes, que subiu 1,38%, após uma queda de 0,05% em março. O repique dos preços foi provocado pela alta de passagens aéreas (26,49%), etanol (4,07%) e gasolina (0,67%).
O resultado ficou acima das projeções de analistas, que indicavam uma taxa ao redor de 0,85% para o mês.
VEJA A ALTA DOS ALIMENTOS
ALIMENTO | MARÇO (em %) | ANO (em %) | 12 meses (em %) |
---|---|---|---|
Hortaliças e verduras | 9,36 | 29,17 | 20,19 |
Frutas | 1,96 | 8,43 | 19,59 |
Cafezinho | 3,32 | 7,75 | 17,87 |
Farinha de trigo | 1,07 | 0,78 | 17,1 |
Pão francês | 0,68 | 2,7 | 13,82 |
Iogurte e bebidas lácteas | 3,12 | 5,39 | 13,39 |
Lanche | 1,08 | 3,33 | 12,61 |
Macarrão | 0,72 | 2,04 | 12,32 |
Pescados | 3,06 | 8,55 | 10,98 |
Carnes | 2,25 | 5,39 | 10,9 |
Carne seca e de sol | 3,57 | 9,1 | 10,12 |
Refeição | 1 | 2,85 | 9,67 |
Leite longa vida | 5,17 | -4,36 | 9,33 |
Refrigerante fora | 0,95 | 3,04 | 8,45 |
Pão de forma | 1,09 | 3,03 | 7,23 |
Ovo de galinha | 8,21 | 9,34 | 6,68 |
Batata inglesa | 35,05 | 17,37 | 6,05 |
Tomate | 32,85 | 31,72 | -6,07 |
Feijão-fradinho | 3,43 | 10,73 | -9,01 |
Óleo de soja | 3,23 | 3,15 | -12,14 |
Cebola | 2,59 | 23,14 | -26,77 |
Feijão-carioca | 11,81 | 2,57 | -30,97 |
Fonte: IBGE
PROJEÇÕES
Apesar do consumo mais fraco diante de uma economia combalida com juros maiores e crédito em desaceleração, a inflação avança por conta do choque de preços dos alimentos, do câmbio ainda pressionado e do reajuste maior de tarifas públicas, em especial a de energia elétrica.
Diante desse cenário, a maioria dos analistas espera um IPCA muito perto do topo da meta do governo neste ano, com alta de 6,3%.