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    Nissan importa trabalhadores para operar nova fábrica de carros no Rio

    EDUARDO SODRÉ
    ENVIADO A RESENDE (RJ)

    15/04/2014 14h07

    A escassez de mão de obra especializada na região de Resende (RJ) obrigou a Nissan, que inaugura hoje (15) uma linha de produção na cidade, a angariar trabalhadores. Muitos vieram do setor comercial ou de outros estados, como ex-funcionários da fábrica da GM em São José dos Campos, que saíram de lá em programas de demissão voluntária.

    A rápida expansão da indústria automobilística em um polo que engloba também as cidades fluminenses de Porto Real e Itatiaia, uma região que até o fim da década de 1990 era predominantemente turística, exigiu que as empresas investissem em parcerias para propiciar treinamento intensivo e também em propostas atraentes para importar trabalhadores.

    "Começamos a contratar há um ano e meio. No início foi um pouco difícil, pois as pessoas não conheciam a empresa. Foi preciso criar um pacote diferenciado de remuneração e benefícios. Tivemos de investir R$ 9 milhões em treinamento", diz Vera Gobetti, diretora de recursos humanos da Nissan do Brasil.

    Para as vagas de nível superior e também técnicos mais específicos, como inspetores de qualidade, foram trazidos funcionários de outros estados, com experiência no setor industrial.

    A chegada de trabalhadores de outras regiões tem movimentado o setor de hotelaria, que também encontra dificuldades para repor trabalhadores, pois muitos têm deixado o setor para tentar ingressar nas fábricas.

    "Muitos moradores da cidade trabalharam nas construções, mas não é tão simples entrar na linha de produção, pois é preciso muito treinamento, nem sempre disponível", afirma Juliana Cotrim, 30, gerente de um hotel em Itatiaia.

    Novos processos produtivos exigiram maior capacitação dos funcionários. Por exemplo, a montagem do tanque de combustível é feita por apenas um funcionário, que precisa operar um sistema específico para esse serviço, inédito no país.

    Antonio Lacerda/Efe
    O CEO da Nissan Motor Co, Carlos Ghosn, na cerimônia de inauguração da primeira fábrica da marca no Rio, que irá produzir inicialmente o compacto March
    Carlos Ghosn, CEO da Nissan, na cerimônia de inauguração da primeira fábrica da marca no Rio

    FÁBRICA

    A construção, que teve início em setembro de 2012, recebeu R$ 2,6 bilhões de investimento. O primeiro carro a produzido na unidade industrial será o hatch compacto March, que hoje é importado do México.

    O carro nacional chegará ao mercado em breve e terá mudanças de estilo e de acabamento em comparação ao atual. Será produzido também o motor 1.6 16v flex da marca.

    O complexo abrigará também fornecedores, cinco deles ainda não instalados no Brasil, como as japonesas Tachi-S, que produz bancos, e Yorozu, fabricante de suspensões.

    A empresa estima ter capacidade para produzir 200 mil automóveis e igual número de motores por ano, e tem a ambição de passar a Honda e a Toyota para ser a marca japonesa mais vendida do Brasil, conquistando 5% do mercado nos próximos anos –hoje tem 1,9% somando veículos de passeio e comerciais leves.

    "A proporção de veículos por habitante no Brasil é três vezes menor do que nos EUA, há espaço para crescer", afirma Carlos Ghosn, presidente-executivo da aliança Renault Nissan.

    Sobre a produção do elétrico Nissan Leaf no país, Ghosn disse que ela só seria possível se 50 mil veículos fossem comercializados, somando as vendas no país e exportações para os vizinhos.

    "Sem isso, seria um negócio muito difícil. Ainda não vimos nenhum interesse concreto em definir uma política de incentivos aos elétricos."

    QUEDA NAS VENDAS

    Inaugurar uma fábrica em meio a queda nas vendas e o aumento nos estoques não é problema para a Nissan, afirma Murilo Moreno, diretor de marketing da empresa.

    Para a montadora, a pior fase foi a primeira etapa de restrições aos carros importados do México, em 2012, que prejudicou as vendas desses produtos no país.

    O March, que, na época, havia acabado de ser lançado, sofreu com as novas regras. Teve a previsão de vendas reduzida e lotes parados nos portos, o que gerou longas filas de espera e cancelamento de pedidos.

    Neste momento, a evolução do mercado brasileiro é decepcionante, diz Ghosn. Contudo, ele acredita que os resultados a médio e longo prazos serão positivos.

    "As regras mudaram e atropelaram o desenvolvimento da Nissan, mas nosso objetivo global é aumentar a localização da produção em todas as regiões onde atuamos. No Brasil, queremos chegar a 60% este ano e a 80% em 2016", disse.

    EXPANSÃO

    Sobre a expansão do setor automotivo, Ghosn afirmou que ela deve ser muito pequeno em 2014 e em 2015, mas que a empresa está investindo no longo prazo. "É um tipo de ação que não pensa no imediato e não depende do desenvolvimento do mercado brasileiro", diz.

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