Após anunciar uma bilionária reformulação de seu portfólio global essa semana, a farmacêutica suíça Novartis reduz o passo para reorganizar os planos de uma importante fábrica de biotecnologia em Pernambuco.
Enquanto isso, a indústria nacional dá os primeiros lances para, com o apoio do governo, desenvolver os biomedicamentos, remédios avançados feitos a partir de organismos vivos para tratar doenças complexas, como o câncer.
Um projeto que foi fortemente anunciado em 2007, a fábrica da Novartis em Jaboatão dos Guararapes (PE) gerou grandes expectativas e prometia ser o nascimento da biotecnologia no Brasil.
O país venceu uma acirrada disputada com a Itália e Cingapura para receber o investimento.
Devido a uma série de dificuldades burocráticas e ambientais, a unidade não ficou pronta e as novas previsões foram jogadas para 2017.
Nesta semana, a Novartis comprou a área de oncologia da GSK, que por sua vez adquiriu o ramo de vacinas da suíça, levando ao cancelamento dos planos de fabricar a vacina para meningite B em Jaboatão.
As decisões estratégicas sobre o futuro da fábrica de Pernambuco ainda não foram tomadas, segundo o presidente da Novartis no Brasil, Adib Jacob.
Ainda não há previsão do momento em que a empresa anunciará em quais produtos pretende investir.
"Resolvemos manter a fábrica no grupo e isso mostra o compromisso que a empresa tem com o Brasil", afirma Jacob.
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BRASILEIRAS
Paralelamente ao esforço da Novartis em sair do papel com a biotecnologia no Brasil, a indústria nacional começou a se movimentar na mesma direção há cerca de dois anos, incentivada pelo governo.
Apesar de ainda iniciantes, as empresas de biotecnologia nacionais ganharam no mercado o apelido de "superfarmas", por reunirem gigantes do setor na formação de duas companhias, a
Bionovis e a Orygen. Libbs e Cristália recentemente decidiram criar projetos sozinhas.
RECURSOS DO BNDES
Com o apoio do banco de fomento estatal BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) elas devem investir, juntas, quase R$ 1,5 bilhão, recursos que ainda não foram depositados.
"A política industrial é fundamental", diz Reginaldo Arcuri, presidente do Grupo FarmaBrasil, entidade que reúne empresas brasileiras envolvidas em projetos de inovação.
"É o Estado criando as bases. Não é privilégio porque segue modelos internacionais", afirma.
A ideia é que o governo federal seja o principal comprador dos medicamentos biológicos produzidos no Brasil.
BALANÇA COMERCIAL
Isso reduziria os impactos sobre a balança comercial da saúde, cujo deficit saltou de cerca de US$ 5 bilhões em 2005 para US$ 11,6 bilhões em 2013.
Trata-se de medicamentos de altíssimo valor agregado, que consumiram 43% da verba do Ministério da Saúde com remédios em 2012, embora tenham representado só 5% das unidades adquiridas pelo governo.
Elas devem operar por meio de PDPs (Produto de Desenvolvimento Produtivo), resultando na transferência de tecnologia da produção para laboratórios públicos.