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    China ultrapassa os EUA no quesito desigualdade, segundo estudo

    MARCELO NINIO
    DE PEQUIM

    03/05/2014 02h00

    Após três décadas de crescimento econômico vertiginoso, a desigualdade de renda na China ultrapassou a dos Estados Unidos e está entre as maiores do mundo –junto com a do Brasil.

    A conclusão é de um novo estudo da Universidade de Michigan (EUA), que indica aumento progressivo da desigualdade e contrasta com os números do governo chinês, mais otimistas.

    Ele aponta que a disparidade entre ricos e pobres na China quase dobrou de 1980 a 2010 segundo o coeficiente de Gini, cálculo mais usado para medir a concentração.

    Pelo estudo da universidade norte-americana, o Gini chinês atual é de 0,55. Em 1980, quando o país começava sua abertura econômica, o índice era de 0,3.

    O coeficiente Gini varia de 0 a 1. Quanto mais próximo do zero, menor é a desigualdade de renda de um país, ou seja, melhor a distribuição de renda entre a população.

    Mark Ralston -20.fev.14/AFP
    Chineses da zona rural lavam roupa em córrego perto da cidade de Anshun, na província de Guizhou
    Chineses da zona rural lavam roupa em córrego perto da cidade de Anshun, na província de Guizhou

    Governado pelo Partido Comunista, o país que já foi norteado pelo ideal de igualdade nos tempos de Mao Tsé-tung tem hoje índice superior ao dos EUA, maior símbolo do capitalismo, que possui Gini de 0,45.

    Assim, a China está no grupo de países com pior distribuição de renda do mundo, como o Brasil, que também tem coeficiente Gini de 0,55, de acordo com as estatísticas do Banco Mundial.

    Um índice acima de 0,5 é considerado desigualdade "severa".

    Há anos o crescimento do abismo entre pobres e ricos na China é visto como uma dos principais fatores de instabilidade no país.

    O estudo da universidade norte-americana cita uma pesquisa de opinião de 2012 em que a desigualdade é apontada como o maior problema do país, acima de corrupção e desemprego.

    No último ano, o governo chinês lançou uma intensa campanha contra a ostentação entre membros do partido, em meio a críticas de alguns economistas à falta de ações concretas para melhorar a distribuição de renda.

    Segundo os sociólogos Yu Xie e Xiang Zhou, autores do estudo da Universidade de Michigan, "o rápido aumento da desigualdade de renda pode ser atribuído, em parte, às políticas de desenvolvimento de longo prazo que beneficiaram residentes urbanos à custa das populações rurais".

    Procurado pela Folha, o Escritório Nacional de Estatísticas (ENE) não quis comentar o estudo, mas reiterou que não há mudança na estimativa oficial, de que a desigualdade na China está em queda.

    Criticado por ficar 12 anos sem divulgar índices de concentração de renda, o governo chinês rompeu o silêncio em 2013. O ENE apresentou um gráfico em que o índice Gini do país está em declínio caindo para 0,474.

    Muitos discordam.

    Li Shi, diretor do Instituto de Distribuição de Renda e Estudos de Pobreza da Beijing Normal University, afirma que a maioria dos especialistas concorda que o Gini da China é mais alto que o oficial, em torno de 0,5, e que a tendência é piorar.

    Na China e fora do país, poucos analistas duvidam que a economia chinesa será a maior do mundo, a questão é quando.

    De acordo com uma previsão divulgada nesta semana pelo Banco Mundial, a China chegará à primeira posição já em 2014, se considerado o critério de paridade de poder de compra.

    Baseado em dados de 2011, o relatório do Programa de Comparação Internacional mostra que, em termos de PIB per capita, a China, com sua população de 1,35 bilhão, está em 99º lugar.

    O Brasil aparece como a sétima economia do mundo, mas no ranking do PIB per capita está na 80ª posição, entre 199 países.

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