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    Análise: Falta de concorrência desestimula inovação

    NAERCIO MENEZES FILHO
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    18/05/2014 02h00

    Nos últimos anos, o Brasil tem crescido com base no crescimento do emprego, ao contrário de outros países emergentes, que cresceram aumentando sua produtividade.

    Isso ocorre por várias razões. Em primeiro lugar, porque os custos de entrada e expansão de novas firmas inovadoras no nosso país são muito elevados, pois as burocracias cartoriais e fiscais são grandes. Assim, os mercados não conseguem transferir produção e emprego das firmas menos produtivas para as firmas mais inovadoras.

    Nos EUA, ao contrário, grande parte do crescimento da produtividade se dá por meio da expansão das firmas mais produtivas.

    Além disso, para aumentar a produtividade das firmas, é necessário que elas inovem. Essa inovação pode ocorrer internamente ou pela absorção de novos produtos ou processos desenvolvidos em outras firmas ou países.

    Nos últimos anos, o governo tem lançado várias políticas de incentivo à inovação, inclusive com recursos a fundo perdido. Apesar disso, o número de patentes obtidas por firmas brasileiras é mínimo e o gasto empresarial com pesquisa e desenvolvimento, muito pequeno. O que está ocorrendo?

    O principal problema está na falta de concorrência para as grandes empresas. Nossa política industrial, ao proteger o setor industrial estabelecido e escolher campeões nacionais, desestimula a inovação.

    As empresas geralmente só inovam quando se sentem ameaçadas pela concorrência. Ao proteger as grandes firmas existentes, por meio de tarifas de importação elevadas, por exemplo, o governo está diminuindo a realocação da produção para as firmas novas e mais eficientes, que é o grande motor do crescimento da produtividade.

    A porcentagem de empresas que recebem apoio do governo aumentou nos últimos anos. Entretanto, o esforço inovativo dessas empresas não cresceu. Isso ocorre porque as empresas usam os recursos públicos para realizar inovações que elas fariam de qualquer forma, dispensando, assim, o uso de recursos gerados internamente. Dessa forma, os recursos aportados pelo governo não geram novas inovações e patentes.

    Finalmente, nós temos problemas sérios de capital humano, práticas gerenciais e interação entre academia e setor privado. O nível educacional dos nossos trabalhadores é muito baixo, resultado do descaso com a educação que ocorreu no passado.

    Pesquisas indicam que as práticas gerenciais das nossas empresas são muito atrasadas com relação às aplicadas em outros países. Finalmente, os artigos acadêmicos produzidos pelos nossos cientistas dificilmente são aplicados em nossas empresas, pois falta uma maior aproximação entre o mundo acadêmico e empresarial.

    Em suma, a política industrial correta seria aumentar a abertura da economia, reduzindo as tarifas de importação e aumentando a concorrência para eliminar as firmas ineficientes.

    Além disso, seria necessário desburocratizar o processo de criação de novas empresas e simplificar a estrutura tributária para que as pequenas empresas inovadoras possam crescer. É importante também melhorar a qualidade da educação nas escolas públicas brasileiras, para que possamos formar mais engenheiros e cientistas no curto prazo.

    Finalmente, é importante que nossas empresas atualizem suas práticas gerenciais e se aproximem mais da acadêmica, contratando mais doutores.

    NAERCIO MENEZES FILHO é professor titular da Cátedra IFB, coordenador do centro de políticas públicas do Insper e professor associado da FEA-USP

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