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    Análise: América Latina pode ser joia na transação entre AT&T e DirecTV

    LIANA B. BAKER
    MARINA LOPES
    DA REUTERS, EM NOVA YORK

    19/05/2014 11h28

    A proposta da AT&T para a aquisição da DirecTV dará à operadora de telecomunicações norte-americana uma presença na América Latina, região que promete grande potencial de crescimento em TV paga e banda larga móvel.

    A DirecTV, com 18 milhões de assinantes na América Central e do Sul, é a maior provedora de TV paga na América Latina, onde o mercado para esse tipo de serviço já vem crescendo em ritmo mais rápido que nos Estados Unidos, um mercado já maduro.

    A DirecTV está "em vantagem quando comparado com as operadoras de cabo e telecomunicações da América Latina", afirmou a AT&T em press release depois de anunciar sua proposta de US$ 48,5 bilhões, no domingo. "A América Latina tem um mercado de TV paga com subpenetração, com cerca de 40% dos domicílios assinando serviços de TV paga e uma classe média crescente, e é o segmento de clientes de mais rápido crescimento para a DirecTV".

    Sublinhando a importância da América Latina para a lógica da transação, a AT&T anunciou que abriria mão de sua participação de US$ 5 bilhões na America Movil do bilionário Carlos Slim, a fim de facilitar o processo regulatório e conquistar os negócios da DirecTV na região.

    As operações latino-americanas da DirecTV são consideradas como a joia em sua coroa, nos últimos anos, respondendo por 95% do crescimento de sua base de assinantes mas apenas 20% da receita da companhia.

    A DirecTV antecipa que as receitas da região fiquem entre os US$ 8 bilhões e US$ 9 bilhões até 2016, ante projeção anterior de US$ 10 bilhões.

    A DirecTV tem participação de 93% na Sky Brasil, a maior operadora de TV via satélite na maior economia da região. Tem participação de 41% na Sky Mexico, controlada pelo grupo mexicano Televisa e operando no México, América Central e República Dominicana.

    Também tem participação de 100% na PanAmericana, que oferece serviços de TV via satélite sob a marca DirecTV em países que incluem Venezuela, Argentina, Chile, Colômbia e Porto Rico.
    Em dezembro, a DirecTV anunciou que seu ritmo composto de crescimento anual era de 22% na Argentina, 16% na Venezuela e quase 32% nos demais países servidos pela PanAmericana, como Colômbia e Chile.

    MAIS FUSÕES

    A combinação entre AT&T e DirecTV poderia também tirar vantagem de oportunidades de aquisições que a DirecTV não seria capaz de realizar sozinha.

    Em 2013, a DirecTV estava interessada em comprar a GVT, da Vivendi, que oferece serviços de Internet, TV e telefonia em 149 cidades brasileiras. As negociações deram errado porque a Vivendi, da França, afirmou que as ofertas recebidas eram baixas demais.

    Um ativo que os analistas mencionaram como potencial oportunidade para uma tomada de controle acionário é a TIM Participações, uma operadora de telefonia móvel que a Telecom Italia deve vender em 2014, ou assim espera amplamente o mercado. Isso daria à AT&T uma oportunidade de acelerar a oferta de serviços de Internet de alta velocidade pela DirecTV no Brasil, e ofereceria à empresa acesso aos 73 milhões de assinantes da TIM Brasil.

    DESAFIOS FORMIDÁVEIS

    Alguns países latino-americanos, no entanto, apresentam oportunidades menores de crescimento e formidáveis obstáculos econômicos.

    As flutuações cambiais e a inflação são crescentes problemas na região. O peso argentino caiu em 24% em um ano, e ameaças de instabilidade política pendem sobre os negócios da DirecTV na Venezuela, onde ela é a maior operadora de TV paga, com 43% do mercado.

    Com a desvalorização cambial na Venezuela e Argentina, a receita média por assinante (ou ARPU) para a PanAmericana caiu a US$ 41,23 no primeiro trimestre, ante US$ 46,54 no período um ano atrás. No Brasil, onde a fatia de mercado da Sky Brasil é de 30%, o real também perdeu força.

    A receita por assinante nos Estados Unidos, enquanto isso, subiu a US$ 100,16 no primeiro trimestre, ante US$ 96,05 no ano anterior.

    Em fevereiro, Craig Moffett, analista da MoffettNathanson Research, disse que o atrito maior na base de assinantes, a queda na receita por assinante e os custos mais altos de aquisição de clientes registrados no primeiro trimestre estavam prejudicando os negócios da DirecTV na América Latina. Mesmo assim, ele disse que boa parte do declínio reflete mudanças no câmbio e não deterioração nos fundamentos.

    Na América Latina, "a penetração ainda é baixa, as rendas estão crescendo e a marca da DirecTV é muito, muito forte", ele afirmou.

    NOVA TECNOLOGIA

    Nos Estados Unidos, a DirecTV só oferece serviços de televisão, mas na América Latina a companhia está lentamente se aventurando no mercado de banda larga sem fio, no qual a infraestrutura fraca vem prejudicando a adoção dos serviços de Internet de alta velocidade concorrentes.

    A companhia tem ativos no setor de banda larga sem fio que cobrem 43 milhões de domicílios na Argentina, Brasil, Colômbia e Peru, e seu objetivo é oferecer serviços de Internet a mais de cinco milhões de domicílios nesses países até o final de 2014, de acordo com o seu site.

    A AT&T tem ampla experiência de aquisição e construção de frequências de comunicação sem fio para a formação de redes de celulares, e a América Latina oferece amplas oportunidades de crescimento adicional nos serviços de Internet. A penetração de banda larga no Brasil é de apenas 33%, por exemplo, de acordo com a BTIG Research.

    "A DirecTV vem sendo muito conservadora em sua estratégia latino-americana. Existe oportunidade para que um novo proprietário explore mais crescimento, especialmente no mercado de banda larga sem fio, onde eles viram sucesso inicial", disse Walt Piecyk, analista da BTIG.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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