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    Erros prejudicaram conclusões de Piketty sobre capitalismo, diz 'FT'

    CHRIS GILES
    DO "FINANCIAL TIMES", EM LONDRES

    23/05/2014 16h27

    "Capital in the Twenty-First Century", livro de Thomas Piketty, vem sendo a sensação editorial do ano. Sua tese quanto a uma desigualdade crescente se enquadrou bem ao zeitgeist ("espírito do tempo") e eletrificou o debate sobre política pública pós-crise financeira.

    Mas, de acordo com um estudo conduzido pelo "Financial Times", o economista francês que se tornou uma espécie de astro pop parece ter se enganado nas contas.

    Os dados que embasam o volume de 577 páginas de Piketty, líder nas listas de mais vendidos das últimas semanas, contêm uma série de erros que adulteram suas conclusões.

    O "Financial Times" identificou erros e inclusões injustificadas nas planilhas, semelhantes aos que desacreditaram o trabalho de Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff sobre a relação entre dívida pública e crescimento.

    O tema central da obra do professor Piketty é o de que as desigualdades de renda estão voltando a crescer, para níveis vistos pela última vez antes da Primeira Guerra Mundial.

    O estudo do "Financial Times" contraria essa afirmação, indicando que existem poucas provas nas fontes originais de Piketty que sustentem a tese de que porção cada vez maior da riqueza mundial se concentra nas mãos da minoria mais rica.

    Piketty, 43, oferece fontes detalhadas para suas estimativas quanto à desigualdade de renda na Europa e nos Estados Unidos ao longo dos últimos 200 anos. No entanto, suas planilhas contêm erros de transcrição das fontes originais e fórmulas incorretas.

    Também parece que alguns dos dados foram escolhidos de maneira deliberada ou construídos sem fonte original.

    SIMPLIFICAÇÃO

    Por exemplo, depois que o "Financial Times" limpou e simplificou nos dados, os números quanto à Europa não apontam para qualquer tendência de alta na desigualdade de renda de 1970 para cá. Um especialista independente na mensuração da desigualdade tem preocupações semelhantes às do "FT" sobre o trabalho.

    Contatado pelo "Financial Times", o professor Piketty disse ter usado "um conjunto muito diversificado e heterogêneo de fontes de dados que precisa passar por uma série de ajustes nas fontes de dados brutos".

    Leia aqui a carta que o autor escreveu para o "FT".

    "Não tenho dúvida de que minha série de dados históricos possa ser melhorada e que será melhorada no futuro, mas seria uma grande surpresa para mim se qualquer das conclusões substantivas a que cheguei sobre a evolução das distribuições de riqueza em longo prazo fosse muito afetada por essas melhoras", ele declarou.

    Sua alegação de que descobriu "uma contradição central no capitalismo" fez dele um herói da esquerda nos últimos meses. Ainda que suas conclusões tenham provocado controvérsia, até agora havia elogios quase unânimes à qualidade de seu trabalho estatístico.

    Charles Platiau/Reuters
    O economista francês Thomas Piketty em seu escritório na Escola de Economia de Paris
    O economista francês Thomas Piketty em seu escritório na Escola de Economia de Paris

    CASA BRANCA

    Em visita aos Estados Unidos no mês passado, o professor Piketty foi recebido pelo secretário do Tesouro Jacob Lew, fez uma apresentação ao Conselho de Assessores Econômicos da Casa Branca e palestras no Fundo Monetário Internacional (FMI) e na ONU.

    Economistas ganhadores do prêmio Nobel cumularam de elogios o trabalho de Piketty. O professor Paul Krugman, da Universidade de Princeton, afirmou que era seguro afirmar que o livro "será o mais importante trabalho de economia do ano - talvez da década".

    A revista "Economist" chamou o autor de o novo Marx.

    O professor Joseph Stiglitz, da Universidade Colúmbia, disse que a "contribuição fundamental" de Piketty havia sido fornecer dados sobre a distribuição de riqueza. O trabalho foi tema de resenhas elogiosas no "Financial Times" e outras publicações.

    No Reino Unido, Ed Milliband, líder do Partido Trabalhista, declarou ao jornal "Evening Standard" que "estou começando a ler o livro. De certa forma, ele é sintomático daquilo que as pessoas realmente sentem".

    Em sua resposta ao "Financial Times", o professor Piketty disse que dados mais recentes, não incluídos em seu livro, demonstravam que "a ascensão da participação dos mais ricos na renda dos Estados Unidos foi ainda mais alta, em décadas recentes, do que aquela que demonstrei em meu livro".

    Em entrevista à Folha neste mês, Piketty afirmou que a desigualdade é ameaça à democracia. Leia aqui a entrevista.

    Editoria de Arte/Folhapress
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