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    Senado aprova PEC do trabalho escravo e texto vai à promulgação

    GABRIELA GUERREIRO
    DE BRASÍLIA

    27/05/2014 20h01

    Os proprietários de terras que mantiverem trabalhadores em regime análogo ao de escravidão terão suas terras expropriadas em todo o país.

    O Senado aprovou nesta terça-feira (27) PEC (proposta de emenda constitucional) que determina a expropriação onde houver trabalho análogo à escravidão no Brasil, com a destinação das terras para a reforma agrária.

    Depois de 15 anos em tramitação no Legislativo, a PEC segue para a promulgação do Congresso, sem a possibilidade de veto do governo federal.

    O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), marcou a promulgação para o dia 5 de junho.

    MEDIDAS

    A PEC determina que as propriedades rurais e urbanas que forem expropriadas em razão de trabalho escravo sejam destinadas à reforma agrária e a programas de habitação popular –sem qualquer indenização ao proprietário.

    A proposta também impõe o confisco de "todo e qualquer bem de valor econômico" que seja encontrado na propriedade, que deve ser revertido a um fundo especial a ser regulamentado por lei.

    A expropriação também não retira eventuais sanções legais a serem aplicadas ao titular da terra.

    A Constituição já prevê a expropriação de terras onde forem encontradas plantações ilegais de drogas psicotrópicas. A PEC estende a mesma regra às localidades onde houver trabalho escravo.

    RESISTÊNCIA

    A principal resistência à PEC vem dos ruralistas, que defendem que a expropriação ocorra somente depois que as fazendas cujas acusações de trabalho escravo já tenham transitado em julgado –ou seja, que tenham decisão definitiva na Justiça.

    O grupo teme que a expropriação ocorra por determinação de um fiscal do trabalho, mesmo sem a conclusão do processo.

    Para viabilizar a aprovação da proposta, senadores fecharam acordo para votar, nos próximos dias, projeto que defina o trabalho escravo e o modelo de desapropriação de terras onde for identificada essa prática.

    Relator do projeto, o senador Romero Jucá (PMDB-RR) flexibilizou o texto para atender parte das reivindicações dos ruralistas. O projeto não caracteriza, por exemplo, jornada exaustiva como trabalho escravo –nem trabalho degradante.

    "São interpretações muito subjetivas, não podemos deixar nada em aberto para permitir que um fiscal confisque a propriedade de alguém sem regras claras", disse Jucá.

    Segundo Jucá, o Senado vai votar o projeto que regulamenta a PEC na semana que vem.

    PRESSÃO

    O governo federal é favorável à proposta e mobilizou aliados para a sua aprovação.

    A ministra Ideli Salvatti (Direitos Humanos) acompanhou a votação no plenário do Senado e disse que o Congresso "marcou um gol de placa" ao aprovar a matéria.

    "Dados da Organização Internacional do Trabalho mostram que o lucro do trabalho escravo produz US$ 150 bilhões por ano. Quando você tem uma atividade ilegal dessa magnitude, você só a combate
    economicamente", afirmou.

    Artistas que integram o movimento "Humanos Direitos" também pressionaram os senadores pela aprovação da PEC.

    As atrizes Camila Pitanga e Maria Zilda se reuniram com congressistas ao longo do dia para defender a aprovação da proposta.

    "Essa PEC se arrastava há duas décadas. O que estamos fazendo é representar os interesses do povo brasileiro, já que a lei que aboliu a escravatura foi aprovada em 1888 e até hoje temos registro de trabalho escravo no país inteiro", disse Maria Zilda.

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