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    Indústria, construção e investimentos ditam PIB fraco no trimestre

    PEDRO SOARES
    SAMANTHA LIMA
    DO RIO

    30/05/2014 12h47

    Setor mais volátil da economia, a indústria puxou o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) para baixo e não dá sinais de uma recuperação diante de empresários pouco otimistas e em compasso de espera devido às eleições –o que os faz postergar investimentos e a contratação de pessoal.

    A queda de 0,8% do PIB industrial no primeiro trimestre frente aos três últimos meses de 2013 –a terceira seguida– foi ditada pelo menor nível de atividade da indústria de transformação, o coração do setor.

    O PIB do país avançou 0,2% no período, segundo dados do IBGE divulgados nesta sexta-feira (30).

    O ramo da transformação, o de maior peso dentro da indústria, caiu também 0,8% na mesma base de comparação, numa clara perda de ritmo. Um consumo mais fraco –o consumo das famílias recuou 0,1%– e um comércio estagnado, ao lado de investimentos menores (queda de 2,1%), levaram as fábricas a produzir menos.

    Um dos destaques negativos é o setor de veículos, tido como o "motor" da indústria, pois tem uma longa cadeia de fornecedores –plástico, aço, vidros, borracha etc.– e irradia seu desempenho (ruim, no primeiro trimestre) aos demais ramos.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Em relação ao primeiro trimestre de 2013, a indústria ainda manteve um crescimento (0,8%), mas abaixo do PIB (1,9%). Ou seja, o setor, que pesa 27% da economia, limitou a expansão do PIB de janeiro a março.

    Nessa base comparativa, a indústria de transformação caiu 0,5%. O setor sofre ainda com as menores exportações, sobretudo para a Argentina, grande comprador do país, especialmente de veículos.

    MÁQUINAS

    Além de veículos, tiveram fraco desempenho os ramos de máquinas e aparelhos elétricos, produtos de metal (utensílios para o lar e outros) e móveis. Esses ramos estão mais ligados ao consumo das famílias, que míngua diante de crédito caro e restrito.

    Esses bens são ainda de mais alto valor, em geral. Desse modo, mais dependentes de financiamento.

    Dentre os que que vieram melhor, estão farmacêutica, que se beneficia do envelhecimento da população há anos e do lançamento de novos medicamentos, perfumaria, além de informática, que a cada dia ganha novos produtos e versões dos antigos, atraindo sobretudo os mais jovens.

    "A situação da indústria é trágica. O setor voltou ao nível de produção de 2007 [volume físico de produtos que saem das fábricas]", diz segundo Sérgio Vale, da MB Associados.

    Só a energia elétrica e outros serviços públicos (saneamento, água e gás), com alta de 1,4% frente aos três [últimos meses de 2013], evitaram uma queda maior do PIB industrial (mais amplo do que os dados divulgados mensalmente pelo IBGE).

    Com o consumo maior e a necessidade de evitar um racionamento, a produção de energia cresceu no primeiro trimestre.

    CONSTRUÇÃO E INVESTIMENTOS

    Duas más notícias podem ser extraídas dos dados do PIB, divulgados pelo IBGE. A primeira é a queda da construção civil, setor que vinha de bons resultados e caiu 2,3%, o maior tombo desde a o primeiro trimestre de 2009, auge da crise global. Ao lado da indústria de transformação, puxou o setor industrial para baixo.

    Outro ponto de frustração –e talvez o mais grave– veio de investimentos, que encolheram 2,1% tanto na comparação com o quarto trimestre (um tombo bastante expressivo para esse indicador) quanto em relação aos três primeiros meses de 2013. Foi o pior resultado em dois anos na comparação com igual trimestre do ano anterior.

    Para Rebecca Palis, gerente da coordenação de Contas Nacionais do IBGE, o destaque negativo foram os investimentos em obras de infraestrutura, que caíram apesar das concessões públicas (rodovias, portos, aeroportos) e da Copa -cujo pico dos desembolsos para colocar em pé projetos de arenas e melhorias no entorno já ficou em 2013.

    Editoria de Arte/Folhapress

    O investimento foi comprometido com o menor ritmo de gastos com infraestrutura, a importação de máquinas para a indústria e retração da construção civil, segundo Palis.

    Muito dessa queda dos investimentos tem a ver com a expectativa ruim quanto ao crescimento da economia neste ano de eleições e o pessimismo de empresários, segundo Sérgio Vale, da MB Associados.

    "Há o receio de mais quatro anos de baixo crescimento do PIB com a reeleição da presidente Dilma", disse o analista.

    Sob Dilma, o país cresceu 2,1% na média dos três primeiros anos de governo. Analistas esperam uma expansão entre 1,3% e, no máximo, 2% neste ano.

    Para a LCA Consultores, a "desaceleração da economia brasileira nos últimos trimestres, em relação ao ritmo razoavelmente forte observado entre o 3º trimestre de 2012 e o 2º de 2013 foi puxada pelo desempenho" ruim do consumo das famílias e do investimento.

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