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    Pacote para indústria é bem recebido, mas não salva 2014, diz economista

    MARIANA CARNEIRO
    TONI SCIARRETTA
    DE SÃO PAULO

    19/06/2014 02h00

    As medidas de apoio à indústria, anunciadas nesta quarta-feira (18), não têm impacto para tirar a economia da rota de desaceleração neste ano, afirmam analistas.

    Embora considerado positivo "do ponto de vista conceitual", segundo o economista Júlio Gomes de Almeida, o apoio é tímido. "É um pacotinho, mas é um bom pacotinho", disse Almeida, ex-secretário-executivo do ministro Guido Mantega (Fazenda).

    O apoio mais relevante é a volta do Reintegra, programa que devolve parte do imposto pago pelo exportador. Porém, o percentual de 0,3% anunciado para este ano é considerado muito pequeno.

    "É quase nada", afirmou o diretor de pesquisa econômica da consultoria GO Associados, Fábio Silveira. "Não terá nenhum impacto em 2014, é uma política restrita."

    "Este ano não tem muito resultado. Vai pegar mais em 2015. Mas serve para mudar o humor do empresariado, que só tem tido notícia negativa", disse o empresário Roberto Giannetti Fonseca.

    Para Almeida, o retorno do Reintegra "repara um erro". "Não é um subsídio, não é passível de questionamento na OMC (Organização Mundial do Comércio) e não é uma redução de impostos. É uma compensação", afirmou.

    Estudo da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo) estimou que os impostos não-reembolsáveis representam cerca de 6% do preço dos produtos exportados, o que tira competitividade das vendas do país no exterior.

    Também foi anunciada uma nova lei do Refis da crise - programa de parcelamento de débitos tributários. O governo barateou a entrada que as empresas devem pagar para terem direito ao parcelamento de até 180 meses.

    O governo ainda definiu ainda que vai manter o PSI (Programa de Sustentação de Investimento), que concede financiamentos a juros baixos ao empresariado por meio do BNDES. As taxas de juros dos empréstimos não foram anunciadas.

    Regis Filho 25.mai.12/Valor/Folhapress
    Economista Julio Gomes de Almeida, ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda
    Economista Julio Gomes de Almeida, ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda

    PARA REANIMAR

    As medidas chegam em um momento em que a economia brasileira dá sinais de perda de fôlego. Depois de um primeiro trimestre de expansão modesta (crescimento de 0,2% ante o quatro trimestre de 2013), analistas preveem que o PIB pode encolher entre abril e junho, devido aos dias parados com a Copa e o pessimismo com a economia.

    Segundo sondagem da FGV, a confiança de empresários da indústria caiu 5% entre abril e maio e a dos consumidores, 3,3%.
    Para Lucy Sousa, conselheira da Apimec (Associação dos Analistas do Mercado) paulista, as medidas são positivas para tentar reverter o mau humor em relação ao desempenho da economia.

    No entanto, ela afirma que a confiança só terá reforço duradouro se o país discutir resolver gargalos e injustiças tributárias de maior alcance.

    "No Brasil, os empresários têm uma visão muito de curto prazo. Qualquer mudança de cenário, eles descem do ônibus do investimento. Eles precisam olhar para o futuro. E essas medidas tentam reverter essa falta de confiança."

    Para Giannetti, o governo adotou o pacote para minimizar o efeito negativo para os exportadores da atuação do Banco Central no câmbio. Ele afirma que a autoridade mantém o dólar mais baixo para conter os efeitos na inflação.

    A ampliação de prazo do PSI para 2015 tem como objetivo incentivar o investimento. Porém, deve ter pouca eficácia em um momento de baixa confiança para investir.

    Neste ano, o BNDES liberou R$ 25 bilhões até abril em empréstimos para a compra de máquinas. A maior parte foi usada em caminhões.

    Já a melhora das condições para adesão ao Refis não receberam o mesmo apoio. "Esse é um tipo de medida que só tem impacto de vez em quando", disse Almeida.

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