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    Acusado de ter defendido bancos na crise de 2008, Timothy Geithner se defende em livro

    RAUL JUSTE LORES
    DE WASHINGTON

    21/06/2014 02h00

    Secretário do Tesouro até o início do ano passado, Timothy Geithner foi o vilão favorito do governo Obama para boa parte dos democratas e da esquerda americana.

    Há mais de 20 livros retratando Geithner como o responsável por convencer o presidente Obama a não buscar maiores punições contra os excessos de Wall Street na crise de 2008, ser contrário a maiores estímulos para a economia e a que o governo não nacionalizasse parte dos bancos após os bilionários pacotes de resgate.

    Seu livro, "Stress Test" [teste de resistência], é uma longa resposta aos seus críticos, especialmente ao fogo amigo vindo do próprio partido do presidente (ainda que Geithner tenha sido republicano e atualmente se declare independente).

    Jonathan Ernst/Reuters
    O então secretário do tesouro dos Estados Unidos Timothy Geithner e autor de "Stress Test", em 2012;
    O então secretário do tesouro dos Estados Unidos Timothy Geithner e autor de "Stress Test", em 2012;

    Dois terços das 540 páginas esmiúçam os bastidores da crise de 2008 –desde quando Geithner ainda era o presidente da divisão em Nova York do banco central dos EUA até os anos como secretário do Tesouro.

    Ele cita a corrida aos bancos do filme "A Felicidade Não se Compra [clássico de Frank Capra]" para descrever o pânico inicial, mostrando os riscos que o país corria se todo americano corresse ao banco no mesmo momento querendo retirar seus depósitos.

    Também diz que metade do sistema financeiro americano em meados da década de 2000 era como um "shadow banking" [termo usado para descrever bancos "nas sombras", sem nenhuma regulamentação], que não dependia de depósitos reais e que se sustentava com empréstimos de curtíssimo prazo.

    Contrário à sugestão de Paul Krugman de que o governo deveria ganhar participação nos bancos resgatados com dinheiro público, Geithner argumenta que a nacionalização levantaria mais dúvidas sobre a saúde financeira dos bancos e que o ideal era a realização de "testes de resistência", que medissem a reação dos bancos em cenários mais adversos.

    É o que foi feito e Geithner comemora o "pouso suave" da crise, sem quebradeira maior. A conclusão do livro é que uma segunda Grande Depressão foi evitada. Mas o "sucesso" que ele proclama aqui ainda é discutível.

    Ao narrar uma de suas primeiras conversas com o então presidente eleito Obama, no final de 2008, sobre quais deveriam ser os objetivos do Tesouro, Geithner diz "evitar a segunda Grande Depressão". Obama rebate: "não quero ser definido pelo que não deixei acontecer". Pesquisa da rede NBC e do "Wall Street Journal" de março deste ano revela que, para 57% dos americanos, o país ainda está em recessão.

    BOM HUMOR

    Escrito em linguagem leve, bem humorada até, o livro tem bons bastidores da política econômica americana –e das inseguranças dele.

    Assim descreve seu primeiro grande discurso no Departamento do Tesouro, explicando o pacote de resgate aos bancos: "Eu balancei de um lado para outro, como um passageiro infeliz em um navio instável. Um comentarista disse que parecia que eu tinha roubado alguma coisa em um supermercado".

    Das reações ao discurso: "Acabei convencendo o público de que estaríamos sendo muito generosos com Wall Street, enquanto convencíamos os mercados de que não seríamos suficientemente generosos. O ex-economista-chefe do Banco Mundial Joseph Stiglitz descreveu nosso plano como 'bancos ganham, investidores ganham, contribuintes perdem'".

    Para Geithner, a alternativa menos pior prevaleceu. Ao final, diz que o contribuinte "recebeu retornos positivos" e que o preço de resgatar o sistema financeiro não foi tão grande quanto previsto.

    "Stress Test - Reflections on Financial Crises"
    AUTOR Timothy Geithner
    EDITORA Crown
    QUANTO A partir de US$ 12,80 (R$ 29)
    CLASSIFICAÇÃO Bom

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