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    Acordo da Petrobras no pré-sal reforça interferência do governo, diz mercado

    ANDERSON FIGO
    FABÍOLA SALANI
    DE SÃO PAULO
    PEDRO SOARES
    DO RIO

    25/06/2014 19h05

    O mercado financeiro recebeu mal o acordo entre governo e Petrobras para a exploração, pela estatal, de volumes extras de petróleo em quatro campos do pré-sal, em troca de R$ 15 bilhões –a serem pagos de modo escalonado até 2018.

    A avaliação de analistas que acompanham a Petrobras é que a notícia traz mais efeitos negativos do que positivos. Eles citam o apertado caixa da petroleira, o fato de a companhia já ter mais reservas do que consegue desenvolver no médio prazo e a dificuldade em aumentar sua produção de modo rápido.

    Para Marcelo Varejão, da corretora Socopa, a operação foi "mais uma interferência do governo numa companhia de capital aberto". Por isso, diz, a reação do mercado foi negativa (com queda das ações), além da necessidade de antecipar recursos para o governo. "Será algo que a empresa terá de pagar agora para ter benefícios em um futuro que ainda é duvidoso."

    As ações preferenciais (mais negociadas e sem direito a voto) da Petrobras fecharam em queda de 1,98% nesta quarta-feira (25), para R$ 17,29 cada. Os papéis chegaram a cair 2,89% ao longo do dia. Já o Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, cedeu 1,58%, a 53.425 pontos.

    Em relatório enviado a clientes, a analista Paula Kovarsky, da Itaú Corretora, avalia que a Petrobras tem claramente mais reservas do que consegue desenvolver no médio prazo. "A Petrobras não precisa de mais reservas. Ela precisa de mais produção [para gerar mais caixa]", concorda Andrew Muench, analista do banco Brasil Plural.

    A estatal promete um aumento de 7,5% em sua produção neste ano, mas não atingiu tal meta nos primeiros meses deste ano e a extração se manteve na faixa de 2 milhões de barris/dia.

    PREÇOS

    O balanço da empresa continua apertado, enquanto o governo segue adiando a paridade internacional para os preços do diesel, gasolina e gás natural a fim de evitar pressões inflacionárias, segundo o relatório da analista do Itaú. O repasse dos preços externos é visto como uma necessidade para dar uma folga de caixa à companhia e permitir que ela acelere seus investimentos.

    A analista lembra que o desempenho recente das ações se deve, principalmente, pela influência das eleições e pela apreciação do real, enquanto a tão esperada melhora na produção não acontece.

    DÍVIDA

    Já Luiz Caetano, da corretora Planner, diz que ampliar reservas sempre é "uma boa notícia" para qualquer empresa de petróleo, mas no caso da Petrobras não necessárias ressalvas. A operação entre a Petrobras e o governo anunciada ontem vai garantir à estatal reservas adicionais de até 15,2 bilhões de barris de petróleo.

    O analista da Planner cita o elevado endividamento da companhia –que subiu 350% em cinco anos e atingiu 4 vezes a geração de caixa da empresa (medida pelo Ebtida), indicador visto como preocupante pelo mercado. "O anúncio inesperado de um novo contrato adiciona peso extra sobre o balanço [da Petrobras]", afirma o Citibank, em relatório.

    Mesmo que a Petrobras negue que irá se endividar para pagar ao governo, será necessário levantar recursos para investir nos campos. A companhia prevê dez novas plataformas –cada uma custa entre R$ 1 bilhão a R$ 1,5 bilhão.

    Ricardo Moraes/Folhapress
    A presidente da Petrobras, Graça Foster, vê o novo negócio como boa oportunidade para a companhia
    A presidente da Petrobras, Graça Foster, vê o novo negócio como boa oportunidade para a companhia

    'TIMING' RUIM

    Para Caetano, a "sensação é de que o governo está buscando antecipar receitas" num momento de contas ruins. As reservas repassadas à Petrobras são "ótimas, muito produtivas e numa área conhecida" pela empresa, mas o "timing" da operação foi "péssimo", diz.

    "O governo fez isso com a Petrobras porque precisa de dinheiro para fechar as contas, ou tentar fechar as contas, o quanto antes. Poderia ter esperado mais uns três anos, já que o valor que terá de ser desembolsado pela petroleira até 2018 se refere ao óleo que vai ser produzido daqui a 15 anos, no mínimo", diz Pedro Galdi, da corretora SLW.

    SEM LÓGICA

    No relatório que a Santander Securities enviou a clientes, a avaliação geral do negócio é também negativa. A corretora diz não "entender a lógica" da antecipação de lucro que a companhia teria de pagar ao governo –R$ 15 bilhões em bônus e antecipações até 2018.

    Esse valor, pelas regras do modelo de partilha de produção, só começaria a ser pago em 2021, quando terá início a produção do primeiro campo. Pelo modelo, governo e empresa dividem, em petróleo, o lucro da extração, descontados os custos e investimentos feitos pelas companhias.

    No caso dos quatro campos, o percentual que caberá ao governo varia de 47% a 49%. No campo de Libra, concedido no ano passado, a fatia da União ficou em 41%.

    Folhainvest

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