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    Sem reajuste, Petrobras perde até R$ 4,2 bi no ano

    SAMANTHA LIMA
    DO RIO

    29/06/2014 03h07

    A ansiedade da Petrobras em ter o aval do governo para reajustar preço de combustíveis ganha, com o recém-fechado acordo com a União para produzir mais em áreas no pré-sal, contornos de urgência. Eleições e inflação jogam o aumento para o fim do ano -o que lhe custaria até R$ 4,2 bilhões em 2014.

    A previsão é do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura), considerando, hoje, uma defasagem da ordem de 18% no preço da gasolina e de 11,3% no do diesel em relação ao mercado internacional. O valor equivale a 78% do lucro da empresa no primeiro trimestre, de R$ 5,4 bilhões.

    Está em jogo o caixa da empresa, pressionado por ter de comportar investimentos de R$ 44 bilhões em 2014 e a dificuldade em aumentar a produção de petróleo -que, no Brasil, não sai do patamar de 2 milhões de barris por dia.

    A meta da empresa é elevá-la em 7% este ano.

    O novo compromisso assumido pela estatal -pagar à União R$ 2 bilhões em 2014 e R$ 13 bilhões até 2018 pelo direito de produzir mais 15 bilhões de barris em área do pré-sal a partir de 2021, como anunciado na semana passada- é mais impacto no caixa.

    Emitir títulos para levantar dinheiro não é uma opção. A companhia tem dívida líquida de R$ 230 bilhões, o que leva a relação entre dívida e geração de caixa, importante indicador avaliado pelo mercado, a 4.

    No início do ano, era 3,5.

    Quanto menor o indicador, mais confortável é a dívida de uma empresa. O compromisso de Graça Foster, presidente da empresa, com o conselho de administração é trazê-lo para 2,5. "Não há espaço para endividar-se mais", diz Gilberto Braga, professor de finanças do Ibmec-Rio.

    Se, de um lado, a Petrobras ganhou mais uma conta, de R$ 2 bilhões, para pagar neste ano, do outro, também na semana passada, o BC disse que vê risco maior de a inflação oficial superar o teto da meta para o ano, de 6,5%.

    Trata-se de um risco que o governo não vai querer correr em período eleitoral, dizem analistas. "O reajuste não vem nem neste ano, para não contaminar a meta", diz Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria.

    Sem o reajuste, sobram para a empresa dois caminhos, segundo analistas. O primeiro é cortar investimentos. "O foco tem que ser aumentar a produção de petróleo, e rápido", diz Pedro Galdi, da SLW Corretora. Hoje, 70% dos investimentos são em exploração, e 18%, em refino.

    Outro caminho seria a empresa fazer nova emissão de ações. "Cresce no mercado a avaliação de que esta é a única saída", diz Flávio Conde, analista-chefe da Gradual Investimentos.

    Nessa operação, investidores antigos são obrigados a comprar novas ações se quiserem manter a mesma fatia -e a mesma participação no lucro- na empresa. O que não for comprado é oferecido a novos investidores.

    Oficialmente, Graça rechaça a alternativa. O último aumento de capital, de R$ 120 bilhões, foi em 2010. O governo, que tem 50,2% do controle da companhia, não pôs dinheiro para manter sua participação. Em vez disso, repassou-lhe reservas no pré-sal em volume estimado de 5 bilhões de barris.

    O aumento de capital não é bem-visto. "A confiança do investidor com a empresa não é das melhores, tendo em vista a dívida, a ingerência do governo e o não aumento da produção", diz Bruno Piagentini, da Coinvalores.

    Procurada, a Petrobras não comentou.

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