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    Para acomodar inflação, embalagens diminuíram desde implantação do real

    RICARDO MIOTO
    DE SÃO PAULO

    01/07/2014 02h00

    Se os preços pararam de aumentar diariamente, algo mudou nas prateleiras dos supermercados nos últimos 20 anos, desde a implementação do Plano Real: várias embalagens diminuíram.

    Entre os exemplos, estão bandejas de iogurte, pacotes de biscoito recheado e de papel higiênico.

    Há duas explicações principais para isso. Por um lado, há razões demográficas e de comportamento do consumidor. Por outro, reduzir embalagens sem cortar preços pode ser uma maneira de acomodar a inflação.

    A principal razão demográfica é a redução no tamanho das famílias. Enquanto em 1991, segundo o IBGE, 1,9 milhão de brasileiros moravam sozinhos, em 2012 esse número já chegava a 8 milhões.

    Além disso, aumentou também o número de casais sem filhos, como aponta a especialista em estudos populacionais Ana Silvia Volpi Scott.

    Editoria de Arte/Folhapress

    "Mais e mais casais estão optando por isso. É uma mudança sensível para uma sociedade em que, até poucas décadas atrás, as pessoas eram educadas para se casar e procriar, como se o sucesso da família ou mesmo a felicidade dependesse disso."

    Com pouca gente em casa, aumenta a demanda por produtos com embalagens menores –especialmente no caso de perecíveis.

    No campo dos hábitos de consumo, é preciso levar em conta que há hoje tanto maior renda como maior variedade de produtos, lembra o professor da ESPM Fábio Mariano.

    Ele cita o caso dos xampus: "Hoje, não se compra mais só um pote grande para a família inteira, mas vários, de diferentes tipos, conforme os gostos de cada um."

    Há ainda as próprias limitações de renda da nova classe média –embalagens menores tornam o consumo mais acessível.

    Além disso, a queda da inflação tornou as compras mais picotadas –as famílias pararam de fazer estoque em casa. Ir ao mercado e encher dois ou três carrinhos se tornou uma cena mais rara.

    A decadência da compra mensal também deixou uma vítima: os enormes hipermercados, cujo modelo de negócios entrou em crise.

    Editoria de Arte/Folhapress

    MAQUIAGEM

    Nem tudo foi adaptação às novas necessidades do consumidor, porém. Do Plano Real para cá, em vários momentos fabricantes se opuseram a consumidores e governo, que acusavam "maquiagem" nas embalagens –elas teriam menos conteúdo, mas continuavam custando o mesmo. Seria uma espécie de inflação disfarçada.

    No começo da década de 2000, tais casos se tornaram tão frequentes que o Ministério da Justiça emitiu uma portaria obrigando os fabricantes a destacarem nas embalagens avisos sobre eventuais reduções. O argumento era que o consumidor estava habituado a determinada quantidade, e alterações poderiam induzi-lo ao erro.

    "Um caso típico foi o do papel higiênico, em que a percepção do consumidor sobre a quantidade de metros em cada rolo é limitada -afinal, ninguém mede isso no supermercado", afirma Mariano.

    Ele afirma, porém, que nem todas as reclamações sobre produtos menores e preço maior procedem.

    "A redução da embalagem leva a maiores custos operacionais. É preciso compreender que isso é repassado para o consumidor. É natural que, ao procurar, por exemplo, bandejas de iogurte menores, o consumidor acabe pagando mais por unidade."

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