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    Indústria tem em maio a 3º queda seguida e já recua 1,6% no ano

    PEDRO SOARES
    DO RIO

    02/07/2014 09h04

    A crise da indústria parece estar longe de seu fim.

    Após a queda de 0,5% na produção em abril (dado revisado), a produção do setor manteve a tendência e recuou 0,6% em maio, na comparação livre de efeitos típicos de cada período. Os dados foram divulgados pelo IBGE nesta quarta-feira (2).

    O resultado ficou quase em linha com a previsão do mercado, que previa recuo de 0,5%.

    Na comparação com maio de 2013, a indústria registrou uma perda de 3,2%. Já no acumulado do ano, considerando os dados de janeiro a maio, a produção registra uma queda de 1,6%.

    O índice acumulado em 12 meses acumula alta de apenas 0,2%. Em abril, o índice em 12 meses havia sido de alta de 0,7% (dado também revisado).

    Os dados de maio mostram que a indústria segue fraca no segundo trimestre deste ano.

    O setor completou três meses consecutivos de retração na comparação com o mês imediatamente anterior. Maio também teve a maior perda mensal desde dezembro, quando o recuo foi de 3,6%. Tal cenário configura um padrão diferente do de 2013, quando o movimento era de alternâncias entre taxas positivas e negativas.

    Segundo André Macedo, gerente da pesquisa industrial do IBGE, a sequência de quedas resultou uma perda de ritmo na taxa em 12 meses. As perdas contínuas se intensificaram em abril e foram mais espalhadas dentre os setores, segundo ele.

    "Alguns setores importantes estão com estoques elevados. Há ainda a maior concorrência com produtos importados e o consumo mais fraco, com a inadimplência em níveis elevados, o que compromete a renda das famílias. Outro fator é o encarecimento e maior seletividade do crédito, com juros mais altos", disse Macedo.

    SETORES

    De abril para maio, o fraco desempenho da indústria foi determinado especialmente pela queda de importantes setores como refino de petróleo e fabricação de álcool (recuo de 3,8%), veículos (queda de 3,9%), metalurgia (queda de 4%) e equipamentos de informática e eletrônicos (recuo de 5%).

    No caso de veículos, esta é a terceira retração consecutiva. As montadoras já anunciaram férias coletivas em algumas unidades por conta da demanda reduzida –o que fez o governo prorrogar, mais uma vez, a alíquota reduzida de IPI para alguns modelos, além de móveis.

    A perda da indústria foi disseminada entre as atividades: 15 dos 24 ramos pesquisados pelo IBGE mostraram retração.

    Dentre as altas, destacam-se apenas alimentos (2,5%) e a indústria extrativa (1,4%) –esta, graças ao avanço da extração de petróleo em maio, mês no qual voltou a subir, ainda que de modo discreto.

    Na comparação anual, a queda foi registrada em 18 de 26 atividades*.

    DESEMPENHO EM MAIO/2014 CONTRA MAIO/2013

    SETOR* DESEMPENHO (em %)
    Veículos automotores, reboques e carrocerias -20,1
    Impressão e reprodução de gravações -13,4
    Metalurgia -10,5
    Produtos diversos -10,5
    Móveis -10,3
    Produtos de metal -9,5
    Outros produtos químicos -5,7
    Produtos de madeira -4,2
    Produtos têxteis -4,2
    Produtos de borracha e de material plástico -3,6
    Confecção de artigos do vestuário e acessórios -3,4
    Couro, artigos de viagem e calçados -3,1
    Máquinas e equipamentos -3,1
    Produtos de minerais não-metálicos -2,9
    Coque, prods. deriv. do petróleo e biocombustível -2,4
    Máquinas, aparelhos e materiais elétricos -1,8
    Celulos, papel e produtos de papel -1,5
    Outros equipamentos de transporte -1,2
    Produtos do fumo 0,1
    Produtos alimentícios 2,1
    Bebidas 2,9
    Perfumaria, sabões e produtos de limpeza 5,7
    Indústrias extrativas 7,6
    Equips. de informática, prods. eletrônicos e ópticos 7,8
    Produtos farmoquímicos e farmacêuticos 8,1
    Manut., reparação e instalação de máqs. e equips 9,6
    INDÚSTRIA GERAL -3,2

    Fonte: IBGE
    * Na última revisão metodológica, o IBGE incluiu dois novos setores que não possuem série histórica suficientemente longa para fazer o ajuste sazonal, que elimina os efeitos típicos de cada período e permite a comparação com o mês imediatamente anterior; os ramos incluídos, que aparecem apenas na comparação contra o mesmo mês do ano anterior, são manutenção e instalação de máquinas industriais e impressão e reprodução de gravações

    ANO EM QUEDA

    Após a forte retração de abril, consultorias, que esperavam uma discreta alta da produção neste ano, refizeram suas contas e passaram a projetar uma perda entre 0,5% e 0,8% do setor em 2014.

    Afetam o setor –o mais dinâmico da economia por seus "altos e baixos" e com importante encadeamento com os serviços e a agropecuária (como fornecedor ou "cliente") –juros maiores, crédito restrito, inflação elevada e especialmente empresários com menos disposição a investir neste ano eleitoral.

    Além disso, os consumidores estão mais cautelosos diante de um mercado de trabalho já não tão vigoroso como antes e do menor crescimento da renda.

    Segundo o Ministério do Trabalho, o recuo da indústria já causou o corte de quase 30 mil vagas de trabalho somente em maio.

    PIB

    A piora da indústria também mexeu com as previsões para o PIB.

    Segundo o Boletim Focus do Banco Central –que colhe projeções entre cerca de cem instituições– divulgado nesta segunda-feira (30), a previsão do mercado para o crescimento da economia passou de 1,16%, na semana anterior, para 1,10%. É o quinto recuo seguido.

    A paralisação para férias coletivas de alguns ramos, como o automobilístico, e os feriados decretados em algumas cidades por conta da Copa também prejudicam o setor.

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