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    Inflação já opõe varejista a produtor e afeta as gôndolas em supermercados

    JOANA CUNHA
    DE SÃO PAULO

    06/07/2014 02h00

    "Há duas semanas, fui ao supermercado e não tinha o molho que costumo comprar. Semana passada, ele estava de volta, mas era o macarrão da marca que eu gosto que estava em falta. Agora apareceu, mas voltei sem o presunto. Tem acontecido muito, com vários produtos", conta a cozinheira Jovina Ribeiro.

    A queixa tem sido compartilhada por grande parte dos consumidores e reflete uma elevação do índice de ruptura nos supermercados, termo usado no setor para medir a falta de certas marcas e produtos. O índice subiu de 7,9% no primeiro trimestre de 2013 para uma média de 9,1% no mesmo período deste ano, segundo
    a Apas (Associação Paulista de Supermercados).

    Em maio, último dado disponível, recuou para 8,5%, mas permanece muito acima dos 4,6% registrados no mesmo mês do ano passado.
    "Eu já fiquei sem comprar a garrafa d'água", diz a administradora Maíra Meyer.

    Editoria de Arte/Folhapress

    O superintendente da Apas, Carlos Corrêa, explica que a ruptura pode ser provocada por diversos fatores. No histórico recente, os protestos nas ruas atrapalharam a logística, enquanto a variação de demanda devido à Copa dificultou o planejamento das empresas.

    No plano macroeconômico, o baixo crescimento e a persistência da inflação acirram o cabo de guerra entre a indústria e o varejo.

    Na tentativa de postergar ou atenuar a elevação dos preços ao consumidor final, e consequentemente proteger suas vendas, os supermercadistas endureceram as relações com seus fornecedores, com o objetivo de distribuir ao longo da cadeia o aumento de custos de produção.

    O resultado é um alongamento das negociações.

    "A demanda do consumidor está menor e os custos sobem. Como o varejo enfrenta alta concorrência e trabalha com margens baixas, precisa negociar para evitar o repasse de preço ao consumidor", diz Sussumu Honda, presidente do conselho consultivo da Abras (Associação Brasileira de Supermercados).

    Um dos sinais do varejista para rejeitar a alta é deixar de comprar o produto temporariamente, segundo Fernando de Bairros, presidente da Afrebras (que reúne
    fábricas de refrigerante). "É um meio de pressão. Ele substitui o produto e tira da gôndola até que a indústria abaixe", diz.

    "Está difícil colocar aumento. O varejo não aceita porque não está em um ano bom", diz Alexandre Colombo, presidente da Anib (indústria de biscoitos).

    A tensão varia nas regiões do país, segundo Juracy Parente, professor da FGV-SP. E a disputa piora nas indústrias de produtos mais perecíveis.

    Se o impasse não cede, o estoque do varejo pode acabar, levando o produto a faltar nas lojas por alguns dias, até que se chegue ao acordo.

    "Esse tipo de ruptura que vem por causa de negociação é normal e aceitável pois não significa que há crise de abastecimento e falta de produto. As empresas estão brigando por preço baixo", diz Honda.

    Segundo pesquisa do site de defesa do consumidor Reclame Aqui com 2.000 clientes, mais de 76% foram às compras nos últimos dois meses e ficaram sem algum item.

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