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    Venezuela muda câmbio e complica vida das múltis

    WILLIAM NEUMAN
    DO "NEW YORK TIMES", EM CARACAS

    13/07/2014 02h00

    A Brink's, operadora de carros blindados, pode ver o desaparecimento de cerca de US$ 400 milhões em faturamento neste ano, em suas operações na Venezuela.

    A Procter & Gamble anunciou estar contabilizando prejuízo de US$ 275 milhões em suas operações, e a American Airlines e a Delta Airlines estão reduzindo os voos ao país. A Venezuela, no passado um aparente centro de lucros para as multinacionais, se parece cada vez mais com um buraco negro financeiro.

    A despeito do governo socialista do país, grandes empresas norte-americanas e de outros países prosperaram lá durante anos, beneficiadas pela concorrência limitada, pelos consumidores ávidos por grifes e pelos estreitos laços comerciais com os EUA.

    Ao mesmo tempo, a moeda venezuelana supervalorizada elevava muito o valor em dólares das vendas, o que criava lucros mais altos, ao menos em termos nominais. Agora o caos econômico da Venezuela está causando estrago, e as restrições a transações cambiais e uma forte desvalorização fizeram com que os lucros desabassem.

    Desde a morte do veterano presidente Hugo Chávez, em março do ano passado, a crise econômica nesse grande país exportador de petróleo só cresceu. O novo presidente, Nicolás Maduro, não conseguiu desenvolver um conjunto coerente de políticas para conter a disparada da inflação e outros males, ainda que existam sinais de mudanças por acontecer.

    Meridith Kohut -13.fev.2013/Bloomberg
    Máquina conta notas de bolívar, a moeda venezuelana
    Máquina conta notas de bolívar, a moeda venezuelana

    "Creio que batemos no muro", diz Carlos Tejera, gerente-geral da Câmara de Comércio Venezuela-EUA. "Todas as indicações são de que as multinacionais terão de encarar com muita frieza o que está acontecendo e tomar uma decisão, porque a situação atual é insustentável."

    A causa é a moeda do país, o bolívar. Companhias americanas contabilizam seu faturamento e lucro na Venezuela usando a taxa de câmbio ditada pelo governo. A moeda do país passou anos supervalorizada, o que permitia registrar números fortes. A alta inflação (de cerca de 60% ao ano) também inflava os preços em bolívares cobrados pelas empresas.

    Essas distorções podem ser vistas nos resultados financeiros da Femsa, maior engarrafadora de Coca-Cola da América Latina. No ano passado, a companhia reportou faturamento de US$ 2,4 bilhões na Venezuela, pouco superior ao registrado no Brasil, um país muito maior. Mas o número de unidades vendidas foi duas ou três vezes mais alto no Brasil.

    "É tudo prestidigitação", disse Jonathan Rosenthal, cofundador do Newfoundland Capital Management, um fundo de hedge sediado em São Paulo que têm posições vendidas na Brink's e na Femsa, apostando que os preços das ações cairão. Agora as empresas estão sentindo a dor de uma série de desvalorizações cambiais nos últimos 18 meses.

    Primeiro o governo mudou a taxa de câmbio oficial de 4,30 bolívares/dólar para 6,30. Depois, criou três faixas de taxas de câmbio. A de 6,30 bolívares/dólar se destina à importação de bens essenciais (alimentos e remédios).

    A de 10,50 bolívares/dólar está disponível para empresas que o governo convida a participar de leilões cambiais. E a terceira taxa, criada este ano, de 50 bolívares por dólar, supostamente estaria aberta a todas as empresas e pessoas físicas, mas o acesso vem sendo restrito. Essas duas novas taxas flutuam ligeiramente.

    A Brink's, por exemplo, registrou receita de US$ 447 milhões em 2013 e declarou que a Venezuela representava "componente significativo" de seus lucros operacionais.

    Mas tudo mudou no final de março, quando passou a usar a taxa de câmbio de 50 bolívares/dólar. Em abril, avisou aos acionistas que a operação venezuelana não seria mais significativa na receita global nos meses seguintes.

    Se a taxa de câmbio desvalorizada tivesse sido aplicada ao faturamento venezuelano em 2013, informou a Brink's, ele teria encolhido em 88% e o lucro operacional da empresa seria 31% mais baixo.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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