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    Fusão coloca presidente da Oi no primeiro time da telefonia global

    DAVID FRIEDLANDER
    JULIO WIZIACK
    DE SÃO PAULO

    20/07/2014 03h10

    A descoberta de uma dívida de R$ 2,7 bilhões escondida no armário da Portugal Telecom (PT) ameaçou a fusão com a operadora Oi nos últimos dias. As ações da empresa portuguesa despencaram, arrastaram os papéis da brasileira, mas o tumulto não contaminou a cotação de Zeinal Bava, presidente da Oi.

    Um dos mentores da fusão, Zeinal negocia um novo pacote de remuneração. O objetivo é levar seu contracheque ao patamar dos melhores salários da telefonia global, de R$ 3 milhões a R$ 6 milhões ao ano, sem contar o bônus.

    Com a fusão, ele passará a comandar uma empresa com negócios no Brasil, em Portugal e em países da África. Foi a saída para tentar salvar a combalida Oi, uma empresa altamente endividada, que dá pouco lucro e não consegue investir o suficiente para enfrentar os concorrentes.

    Simon Dawson/Bloomberg
    Zeinal Bava, presidente da Oi desde junho de 2013
    Zeinal Bava, presidente da Oi desde junho de 2013

    No setor de telefonia, a avaliação é que a Oi não tem solução. Aos 48 anos e carreira feita no mercado financeiro europeu, o moçambicano Zeinal Bava foi na contramão e apostou que essa será sua grande jogada profissional.

    Colegas contam que o executivo é movido por desafios, também na vida pessoal.

    Meses atrás, começou a tomar aulas para surfar com os filhos. Um dia após o batismo, foi atrás das ondas de 1,5 metro em Imbassaí, na Bahia. Quebrou uma costela.

    Zeinal odeia trânsito e gosta de dizer que tirou carta de motorista só porque a futura mulher o desafiou -ela havia dito que não se casaria com um homem que não dirigisse. Casaram-se, ele bateu o carro 12 vezes e, hoje, só dirige em autoestradas.

    Da fase nos bancos de investimento trouxe a frieza na cobrança de resultados. No ano passado, ainda na PT, ligou para o técnico da seleção de futebol de Portugal, Paulo Bento, e ameaçou: a classificação para a Copa no Brasil ou o fim do patrocínio.

    Portugal passou na repescagem, e o técnico ligou para comemorar. O executivo levou um dia para dar retorno. Para seus padrões, a vaga na Copa era uma obrigação.

    DESAFIO

    Hoje, Zeinal comanda um time que, no campeonato das grandes operadoras, está na lanterna há cinco anos.

    A Oi não consegue crescer tudo o que precisa porque carrega uma dívida de R$ 30 bilhões, resultado da compra da concorrente Brasil Telecom, em 2008. A operação teve a bênção do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que alterou a legislação para o negócio ser fechado.

    O governo queria criar uma supertele nacional para fazer frente às rivais estrangeiras no país. Para isso, desde a privatização da telefonia (1998), a Oi recebeu 60% dos recursos que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social emprestou ao setor. Em 2010, a Portugal Telecom virou sócia da Oi e o discurso da tele nacional se dissipou.

    Entre 2008 e 2013, até Zeinal, a Oi teve dois presidentes, além de um interino. Nenhum pôs a empresa no eixo.

    O antecessor, Francisco Valim, ficou 18 meses e saiu brigado com os controladores -a LaFonte, a Andrade Gutierrez e a PT, então presidida pelo moçambicano.

    Pessoas que têm restrições a Zeinal e acompanharam o episódio dizem que ele trabalhou contra Valim e pela confiança dos brasileiros da Oi, pois queria mudar de lado.

    Os aliados do executivo, no entanto, afirmam que o único interesse dele era defender o investimento que a PT tinha feito na empresa.

    Naquele momento, os sócios brasileiros e portugueses já discutiam a fusão. O acordo foi assinado, e a primeira missão de Zeinal para levar o projeto adiante foi levantar R$ 8 bilhões para capitalizar a Oi. Foi a quinta maior operação do tipo no mundo neste ano, segundo o Institutional Investor, que monitora grandes operações globais.

    Banqueiros que participaram da transação dizem que Zeinal foi crucial. Abriu sua agenda e foi atrás de investidores. Formou uma dupla afinada com o BTG Pactual, banco contratado para estruturar a capitalização, que acabou se tornando sócio da Oi.

    ESQUELETO

    O plano é concluir a fusão até outubro. Tudo ia bem até vir à tona, semanas atrás, um "empréstimo" de R$ 2,7 bilhões da PT a um de seus sócios, uma empresa do grupo português Espírito Santo.

    A dívida não foi paga, a PT teve de assumi-la e os termos do acordo de fusão foram revistos. Os controladores brasileiros e os demais sócios portugueses disseram que desconheciam essa operação.

    Nos bastidores, alguns afirmaram que Zeinal sabia do empréstimo e deixou de avisar os acionistas. Ele nega, e a maior parte dos donos da operadora acredita nele.

    Procurado, Zeinal Bava não quis dar entrevista para esta reportagem.

    OI + Portugal Telecom/2013
    * faturamento R$ 37,1 bilhões
    * ebitda R$ 13 bilhões
    * clientes no mundo 101 milhões
    * total de dívidas R$ 44,7 bilhões
    * investimentos R$ 8,6 bilhões

    RAIO-X
    ZEINAL BAVA

    Idade: 48 anos

    Naturalidade: Lourenço Marques, em Moçambique

    Formação: engenheiro pela University College London

    Carreira: mercado financeiro em Londres e Madrid (1989-99); Portugal Telecom (começou como diretor financeiro da divisão de TV paga e chegou a presidente em 2008); Oi (jun.2013-atual)

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