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    Opinião: Não há espaço para redução da taxa de juros no curto prazo

    ANDRÉ PERFEITO
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    25/07/2014 02h00

    O mercado financeiro tem dessas coisas; quando o futuro perde o norte esperado, disparates surgem aqui e acolá tentando colocar ordem no insondável, e algumas percepções equivocadas se estabelecem como verdade.

    O último delírio coletivo foi a leitura de que, dado a atividade baixa e a inflação em queda na margem, o BC iria cortar os juros em setembro.

    Essa ideia não faz sentido por dois motivos. O primeiro é que em setembro o IPCA em 12 meses estará batendo seu pico de inflação (projeto 6,77%).

    Seria um esforço retórico de monta explicar ao mercado, e, principalmente, à sociedade, porque a autoridade monetária resolveu cortar os juros com a inflação estourando o teto da meta.

    O segundo motivo é mais tático. Cortar os juros antes da eleição presidencial seria um enorme salto no escuro uma vez que a variável fiscal será apenas decidida em outubro, com a eleição.

    Fazer um movimento antes de decidido o pleito seria assumir uma trajetória do superavit muito incerto, afinal, se há uma diferença entre os candidatos é, em tese, seus compromissos fiscalistas.

    Não seria sábio fazer isso.

    O mercado esquece que queria ver a Selic subindo até pouco tempo atrás, e o mercado também esquece que, se confirmada a vitória de Aécio, Armínio tende a subir.

    Porque iria cair a taxa agora? Nonsense típico de momentos de muita incerteza.

    O fato de surgir uma percepção equivocada como essa revela, porém, algo muito precioso. O mercado não sabe qual a trajetória esperada dos juros; a curva de juros pode ficar ªflatº e isso é sinal de indefinição que antecede formações de novos consensos.

    O Brasil vive um momento importante, em que o amadurecimento do Plano Real fez as taxas de juros caírem para patamares inéditos. A dúvida é: os juros vão continuar caindo como tem ocorrido desde o início do Plano Real?

    Minha resposta é sim, mas lá para o final de 2015. E o motivo é simples; não importa quem ganhe, o espaço para elevação dos juros é reduzido.

    Já pagamos mais que o dobro de juros que o segundo colocado, e subir mais os juros não vai resolver a inflação propriamente e apenas iria apreciar o Real.

    A margem de manobra é pequena no campo macro, 2015 será o ano da microeconomia. Esqueça mudanças drásticas.

    *ANDRÉ PERFEITO é economista-chefe da corretora Gradual Investimentos

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