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    Sucesso de Dilma deteriora economia, diz Santander a clientes ricos

    FERNANDO RODRIGUES
    DE BRASÍLIA
    BRUNO LUPION
    DO UOL

    25/07/2014 12h33

    O Banco Santander enviou neste mês de julho de 2014 aos seus clientes de alta renda um texto afirmando que o eventual sucesso eleitoral da presidente Dilma Rousseff irá piorar a economia do Brasil.

    A análise foi impressa na última página do extrato dos clientes na categoria "Select", com renda mensal superior a R$ 10 mil. Diz que se Dilma melhorar nas pesquisas de intenção de voto, os juros e o dólar vão subir e a Bolsa, cair.

    O texto vem sob o título "Você e seu dinheiro" e orienta os clientes do Santander: um cenário eleitoral favorável à petista reverterá "parte das altas recentes" na Bolsa.

    A informação foi divulgada no blog de Fernando Rodrigues nesta sexta-feira (25).

    O documento do Santander ao seus correntistas mais abastados contém uma análise que já frequentava o mercado financeiro brasileiro de forma difusa, mas nunca de maneira institucional por um grande banco.

    Reprodução
    Sucesso de Dilma deteriora economia, diz Santander a clientes ricos
    Reprodução do extrato enviado pelo Santander a clientes de alta renda

    Esse tipo de comportamento do mercado não é novo. Desde a primeira eleição direta pós-ditadura ocorrem interpretações nesse sentido. Em 1989, o empresário Mário Amato deu uma entrevista dizendo que se o petista Luiz Inácio Lula da Silva ganhasse naquele ano, 800 mil empresários deixariam o Brasil.

    Em 2002, quando o mercado financeiro novamente ficou apreensivo com uma possível vitória de Lula, o analista Daniel Tenengauzer, do banco Goldman Sachs, chegou a inventar o "lulômetro", que previa a cotação futura do dólar caso o petista fosse eleito. Tenengauzer acabou repreendido pelo banco, que considerou "leviano" e de "mau gosto" o nome de seu modelo matemático.

    O Santander confirmou a autenticidade do documento ao qual o Blog teve acesso. Em nota, disse adotar critérios "exclusivamente técnicos" em suas análises econômicas, "sem qualquer viés político ou partidário".

    O banco reconhece que o texto enviado a seus clientes "pode permitir interpretações que não são aderentes a essa diretriz" (de se ater a análises mais técnicas). A instituição emitiu uma nota na qual pede desculpas ao seus correntistas e diz que adotará providências internas.

    De capital espanhol, o Santander é o 5º maior banco e o 1º estrangeiro em atuação no Brasil. Fica atrás de Banco do Brasil, Itaú, Caixa e Bradesco. Em 2000, massificou sua operação de varejo ao comprar o Banespa, o antigo banco estatal que pertenceu ao governo paulista.

    Abaixo, a íntegra da nota do Santander:

    "O Santander esclarece que adota critérios exclusivamente técnicos em todas as análises econômicas, que ficam restritas à discussão de variáveis que possam afetar os investimentos dos correntistas, sem qualquer viés político ou partidário. O texto veiculado na coluna 'Você e Seu Dinheiro', no extrato mensal enviado aos clientes do segmento Select, pode permitir interpretações que não são aderentes a essa diretriz. A instituição pede desculpas aos seus clientes e acrescenta que estão sendo tomadas as providências para assegurar que nenhum comunicado dê margem a interpretações diversas dessa orientação."

    GOLDMAN SACHS

    O Goldman Sachs também elaborou um relatório analisando uma eventual reeleição de Dilma. Para o banco, um novo mandato da presidente deverá vir acompanhado de mudanças importantes na equipe econômica, adoção de medidas impopulares como a liberação de reajuste de preços represados (como energia e gasolina) e corte nos gastos públicos.

    "Após as eleições, assumindo que ocorra a reeleição, o mercado espera que a presidente Rousseff mude alguns membros importantes da equipe econômica. Com uma nova equipe e sem a preocupação eleitoral, as autoridades devem decidir fazer um ajuste fiscal moderado e coibir parte do ativismo dos bancos públicos, incluindo o BNDES. Mais adiante, deverão gradualmente permitir o reajuste de preços administrados há muito tempo congelados para evitar distorções macro e macroeconômicos adicionais", diz o relatório do Sachs.

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