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    Apesar de pessimistas, empresas brasileiras devem investir mais

    CLAUDIA ROLLI
    DE SÃO PAULO

    28/07/2014 12h00

    Mesmo preocupadas com entraves logísticos, aumento do custo de energia e incertezas da economia, cresceu no segundo trimestre o percentual de companhias brasileiras que planeja investir em máquinas e equipamentos e nos próximos 12 meses.

    Enquanto 52% das companhias do país estão mais seguras e pretendem investir mais, na média global esse percentual caiu e chegou a 35%. No primeiro trimestre deste ano, eram respectivamente 46% no Brasil e 37% no mundo as companhias que tinham intenção de fazer esse investimento.

    O Brasil ficou bem acima da média de 40% dos Bric, o bloco emergente do qual o país faz parte ao lado de Rússia, Índia e China (a África do Sul não está incluída aqui).

    Os dados são da consultoria Grant Thornton, que divulga a cada trimestre o IBR (International Business Report) e fornece informações sobre o índice de otimismo, os entraves e as expectativas com a economia doméstica de 10 mil empresas de 35 países.

    No Brasil, são 300 empresas de médio porte consultadas, por meio de entrevistas com presidentes, diretores e executivos em cargos de liderança.

    Apesar do maior pessimismo no nível de confiança no segundo trimestre, 57% preveem aumento da receita de suas empresas no Brasil. O percentual no país está acima da média global, de 54%.

    "As vendas do varejo decresceram, as importações tomam espaço da produção nacional e o período da Copa trouxe queda acentuada à fabricação. O empresário já chegou ao fundo do poço", diz Fernando Pimentel, superintendente da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil).

    "Portanto, agora se espera uma melhora. E, sem investir, a indústria não sobrevive", complementa o executivo.

    Quase seis em cada dez empresas do setor têxtil e de confecção informaram que a produção em junho deste ano ficou abaixo ou muito abaixo do esperado, segundo pesquisa conjuntural da Abit obtida com exclusividade pela Folha.

    Para 70% dos fabricantes têxteis, o nível de vendas também ficou menor ou muito menor do esperado.

    O levantamento da Abit, realizado em junho, aponta ainda melhora das expectativas de vendas para os próximos 60 dias ­- e corrobora com as informações da consultoria Grant Thornton.

    No setor de eletroeletrônicos (inclui fabricantes de material elétrico, de celulares, computadores), as expectativas também são otimistas para este mês e para este semestre na comparação com iguais períodos de 2013.

    Sondagem feita com 500 fabricantes do setor mostra que, para o terceiro trimestre do ano, a perspectiva é de expansão das vendas para 56% das empresas consultadas. Percentual semelhante (60%) espera crescimento no segundo semestre deste ano em comparação com igual período do ano anterior.

    "As empresas usaram o período da Copa para fazer ajustes na produção, nos estoques e se adequarem ao menor nível de encomendas. Esperam agora um semestre melhor", diz Humberto Barbato, presidente da Abinee.

    "Os empresários ainda não jogaram a toalha", afirma o executivo, em alusão ao boxe, em que o gesto de jogar a toalha pela equipe de um pugilista sinaliza sua desistência da luta.

    No setor de máquinas, a avaliação não é a mesma. "Estamos com queda cavalar na produção, um processo de desindustrialização silencioso em curso e sem perspectivas de mudança nesse cenário", diz Carlos Pastoriza, presidente Abimaq, associação que reúne fabricantes de máquinas.

    CONTRATAÇÕES

    Apesar de esperar aumento da demanda e de pretender realizar mais investimentos em máquinas e equipamentos, diminuiu o percentual de empresas que pretende contratar mais funcionários no Brasil nos próximos 12 meses.

    O percentual passou de 33% no primeiro trimestre deste ano para 20% no segundo trimestre. Na média dos Bric, ocorreu o inverso: passou de 22% para 43%.

    Na média global das economias pesquisadas, também houve aumento do percentual de empresas que planejam ampliar o emprego. Nesse mesmo período foi de 31% para 35%.

    "Existem muitas questões estruturais que afetam o dia a dia das empresas e têm impacto no custo, como a burocracia, falta de mão de obra qualificada e reformas que precisam ser feitas e não saem do papel, como a tributária e a trabalhista", diz Artemio Bertholini, presidente da Grant Thornton Brasil.

    "Por isso, as empresas utilizam outros recursos, antes de assumir o custo fixo de mais contratações em um cenário de incertezas econômicas", diz.

    No setor de eletroeletrônicos, quase um quarto dos fabricantes informaram na sondagem da Abinee que reduziram o nível de emprego em junho. No mês anterior foram 19%. É o maior percentual desde junho de 2013, quando 24% disseram ter reduzido.

    No têxtil e na confecção, 1.314 empregos foram fechados no Estado de São Paulo em junho. Esse foi o pior junho desde a crise de 2008, segundo o Sindtêxtil-SP, que estimam fechamento de 5.000 vagas.

    ENTRAVES

    Entre as preocupações dos empresários brasileiros, estão o aumento do custo com energia e entraves logísticos, de acordo dados da pesquisa da Grant Thornton.

    O percentual de companhias apreensivas com aumento de custo de energia passou de 23% para 35% do primeiro para o segundo trimestre deste ano.

    Na média dos Bric, esse percentual teve queda de seis pontos percentuais na mesma comparação - foi de 44% para 38% no segundo trimestre deste ano.

    "Produzir no Brasil é brochante", diz Pastoriza, da Abimaq, que representa 6.500 empresas no país.

    Segundo o levantamento da consultoria, as empresas brasileiras estão mais apreensivas com custo de logística (infraestrutura da área de transporte). Passou de 26% para 32% (do primeiro para o segundo trimestre deste ano) o percentual de empresas que têm preocupação com esse item.

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    MENOS CONFIANTE
    Confiança do brasileiro vai na contramão do mundo

    • Expectativas para os próximos 12 meses das empresas consultadas (em %)
    Países Confiança na economia doméstica Planejam investir em máquinas e equipamentos Planejam contratar mais
    Brasil 32 52 20
    Alemanha 79 44 28
    México 48 36 46
    Rússia 15 32 15
    Índia 86 41 76
    Estados Unidos 74 24 34
    Argentina -16 48 16
    Média dos Bric* 36 40 43
    Média Global 46 35 35
    Média da América Latina 31 46 27
    Média do G7** 53 32 32
    • Como é feita a pesquisa?

    São entrevistados presidentes, diretores, e executivos em cargos de relevância de 10 mil empresas de 35 economias. No Brasil, foram 300 companhias

    * Brasil, China, Rússia e Índia **Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos

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