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    Executivo avalia os riscos de 'sair do armário' no trabalho

    FELIPE MAIA
    EDITOR-ADJUNTO DE "CARREIRAS"

    09/08/2014 02h00

    John Browne, 66, demitiu-se do cargo de presidente-executivo da BP, uma das maiores petroleiras do mundo, em 2007 em um escândalo sexual. Um tabloide britânico publicou que ele se relacionava com um garoto de programa, revelando o segredo que o executivo guardou nos 40 anos em que trabalhou na empresa: ser gay.

    O britânico diz que não teve de deixar o emprego exatamente por sua orientação sexual, mas, sim, pelo impacto que a natureza do relacionamento teria sobre a imagem da multinacional. Mas ele considera que talvez não tivesse chegado ao topo se tivesse se assumido antes.

    "Uma pessoa que se assume no começo da carreira pode não ter as mesmas oportunidades que me foram dadas", diz o executivo no livro "The Glass Closet: Why Coming Out is Good Business" (o armário de vidro: por que se assumir é bom negócio, em tradução livre).

    Na obra, Browne usa relatos de profissionais e medidas adotadas por grandes empresas para analisar os problemas e os benefícios associados a revelar a orientação sexual no trabalho.

    Os riscos, ele avalia, são menores hoje em relação a quando ele começou a trabalhar, nos anos 1960, e tendem a ser superados pelos benefícios. O autor afirma que gays enrustidos tendem, por medo, a exagerar as consequências de se assumir, algo que se aplica à sua trajetória.

    Noah Berger - 29.jun.2014/Reuters
    Funcionários do Google e do YouTube participam da parada gay de San Francisco em junho deste ano
    Funcionários do Google e do YouTube participam da edição da parada gay de San Francisco, nos EUA, em junho deste ano

    Browne diz que um dos motivos de não ter se assumido era continuar podendo fazer negócios em países nos quais a homossexualidade é crime, caso de nações na África e no Oriente Médio. "Ficar no armário era uma decisão prática de negócio."

    Ele tinha de negociar, por exemplo, com o presidente russo Vladimir Putin, que no ano passado sancionou uma lei que proíbe a "propaganda gay" no país. Hoje, afirma, "os gays não deveriam sacrificar a própria felicidade para agradar alguém com mentalidade antiquada".

    Ele reconhece que seu livro é limitado ao cenário do mundo executivo em grandes empresas de países ocidentais.

    FALTAM GUIAS

    Um dos problemas identificados pelo autor é a falta de modelos: executivos gays extremamente bem-sucedidos que indiquem para os mais novos o caminho a seguir.

    Hoje, não há nenhum presidente-executivo homossexual entre as companhias que formam o ranking Fortune 500, das maiores corporações dos Estados Unidos.

    Na visão de Browne, líderes devem falar e agir mais abertamente em relação à inclusão desses funcionários. Não só por propaganda, mas como uma necessidade causada pela "guerra por talentos": ser uma companhia aberta à diversidade ajuda a atrair bons profissionais.

    Entre os motivos para Brendan Eich, ex-presidente da empresa de tecnologia Mozilla, perder o emprego neste ano estavam as críticas dos próprios funcionários. Eles armaram uma revolta e fizeram posts abertos nas redes sociais depois da revelação de que Eich doou dinheiro para apoiar um projeto de lei que bania o casamento gay na Califórnia.

    As companhias têm estimulado a criação de grupos de "gays e aliados" entre os empregados, como forma de apoiar o desenvolvimento desses profissionais e tentar corrigir possíveis problemas relacionados ao preconceito.

    O Google, por exemplo, tem os "Gayglers", e a companhia química Dow tem no Brasil o Glad (sigla para gays, lésbicas e aliados na Dow).

    Com esse cenário, o livro é mais bem-sucedido em retratar o que as corporações já fazem ou o quanto elas avançaram do que em apontar um mapa de ação para resolver o que falta ser resolvido, que é um de seus objetivos.

    "The Glass Closet: Why Coming Out Is Good Business"
    *AUTOR*John Browne
    EDITORA HarperBusiness
    QUANTO A partir de US$ 11
    (R$ 25; 240 págs.)
    Classificação Bom

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