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    Banco dos Brics mostra novo equilíbrio de poder, diz indiano

    ELEONORA DE LUCENA
    DE SÃO PAULO

    16/08/2014 02h00

    A criação do banco de desenvolvimento dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) é um sinal da mudança no equilíbrio de poder na economia mundial. A avaliação é do economista indiano Deepak Nayyar.

    Professor emérito da Universidade Jawaharlal Nehru, de Nova Déli, Nayyar diz que é preciso moderar o entusiasmo e amortecer o ceticismo em relação à novidade.

    Ele advoga que o Brasil adote uma política ativa para evitar o aprofundamento da desindustrialização. Na sua visão, é preciso buscar um modelo próprio de crescimento. Nayyar, 67, estará no Brasil na próxima semana e lança, no 2º Congresso Internacional do Centro Celso Furtado (no Rio), o livro "A Corrida pelo Crescimento".

    Leia a íntegra da entrevista.

    Divulgação
    O economista indiano Deepak Nayyar em Nova York, nos Estados Unidos
    O economista indiano Deepak Nayyar em Nova York, nos Estados Unidos

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    Folha - Qual é a sua visão sobre a criação do banco dos Brics?
    Deepak Nayyar - É muito importante e na direção certa. Poderá ser motivo de comemoração se evoluir como uma instituição internacional que ofereça condições melhores e diferentes do que as do FMI e do Banco Mundial. Existe o perigo de que possa evoluir da mesma maneira como o Banco Mundial, com um déficit democrático e com formas de ajuda baseadas no clientelismo. Devemos moderar o entusiasmo dos defensores e amortecer o ceticismo dos críticos.

    A cooperação entre esses países envolve a questão das moedas. Como o sr. a avalia?
    O arranjo de reservas de contingência é uma excelente ideia, pois iria permitir que esses países unissem reservas cambiais, se um deles tivesse um déficit em conta corrente incontrolável. Isso não é apenas sobre a gestão de crises. É também sobre a prevenção de crises.

    O sr. pensa que essa iniciativa afeta o poder americano?
    A iniciativa não afeta o poder dos EUA. Eu diria que o efeito é marginal e insignificante. Mas é um sinal de mudança no equilíbrio de poder na economia mundial.

    Por que o Brasil, apesar de avanço há alguns anos, tem hoje crescimento baixo?
    Programas de estabilização do FMI e planos de ajuste estrutural do Banco Mundial impuseram crises as economias latino-americanas, o que levou às décadas perdidas de 1980 e 1990. A recuperação só começou nos anos 2000. A atual conjuntura não é indicador do potencial do Brasil. A retomada do crescimento econômico é perfeitamente possível. Ele precisa de políticas adequadas.

    Como reverter o processo de desindustrialização no Brasil?
    É preciso ter uma política industrial pró-ativa. É necessária uma industrialização diversificada com base na manufatura. Há possibilidades promissoras. Afinal, o Brasil desenvolveu aeronaves com a Embraer e tecnologias de exploração de petróleo em profundidade no oceano.

    Alguns economistas argumentam que a desindustrialização é inevitável e que o país não pode competir com a China.
    Não há nada inevitável sobre a desindustrialização. Com o BNDES, o Brasil é um modelo para o financiamento ao desenvolvimento. O país deve criar o seu próprio modelo de desenvolvimento.

    O que o Brasil deveria fazer sobre câmbio e juros?
    Altas taxas de juros podem sufocar o investimento doméstico. Taxas de câmbio sobrevalorizadas podem diminuir o desempenho das exportações. A política cambial deve ser utilizada de acordo com o interesse nacional. Da mesma forma, as taxas de juros não devem ser mantidas em patamares tão elevados.

    O sr. afirma que governos se tornaram obsessivos com o controle da inflação. Qual deveria ser a política?
    É essencial retomar uma abordagem desenvolvimentista para políticas macroeconômicas, baseadas em uma integração de políticas fiscais e monetárias anticíclicas de curto prazo com os objetivos de desenvolvimento de longo prazo. O crescimento com pleno emprego deve ser o objetivo fundamental das políticas macroeconômicas.

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