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    Baixo crescimento é culpa da valorização do real, diz economista

    MARIANA CARNEIRO
    DE SÃO PAULO

    16/08/2014 02h00

    É a valorização excessiva do real frente ao dólar, e não os aumentos de salários, o principal motor da escalada dos custos trabalhistas no Brasil na última década.

    As empresas, principalmente as do setor industrial, passaram a gastar mais com mão de obra.

    Esse é o centro do debate sobre por que a indústria brasileira está em crise e o país parou de crescer.

    Segundo o economista argentino Roberto Frenkel, o custo unitário do trabalho no país subiu cerca de 80% entre 2002 e 2012, já descontada a inflação.

    Os reajustes salariais, segundo seus cálculos, responderam por menos de 10% desse movimento. O principal vetor foi a valorização excessiva e prolongada do real frente ao dólar.

    Para Frenkel, a valorização da moeda brasileira respondeu por dois terços do aumento do custo do trabalho, que onerou as empresas. Mais pesadas e pouco inovadoras, elas perderam a capacidade de competir com concorrentes estrangeiras.

    Para Frenkel, o real mais forte deixou os salários mais caros em dólar. Além disso, houve um ingresso relevante de recursos com a venda de matérias-primas no exterior.

    Esses processos combinados deixaram a economia entorpecida: havia empregos, geração de riqueza, mas ao mesmo tempo, a indústria encolhia. "No Brasil e na Argentina, é a apreciação do câmbio que está gerando o menor crescimento", disse ele, nesta sexta-feira (15), em seminário na FGV-SP.

    DIVISÃO

    A leitura do economista é distinta da de muitos analistas brasileiros, que relacionam a estagnação à perda de eficiência ao produzir.

    A opinião corrente é que, ao incorporar trabalhadores com menos qualificação, as empresas perderam produtividade. Ao mesmo tempo, reajustaram salários, o que as levou ao estrangulamento.

    Frenkel afirma que a produtividade do trabalhador recuou entre 2002 e 2012. Porém, este não foi o elemento mais relevante para os aumentos de custos.

    O economista argentino é um dos nomes mais destacados do grupo conhecido como "keynesianos", que se inspira nos escritos do inglês John Maynard Keynes.

    Para essa escola de pensamento, o câmbio é uma das principais ferramentas da política econômica e deve ser administrada pelo governo, a favor das empresas locais.

    Desde o ano passado, o Banco Central vem interferindo neste mercado, porém forçando a queda do dólar (valorização do real). Embora ajude no combate à inflação, a estratégia é alvo de críticas destes economistas. E também dos liberais, que defendem a livre flutuação, sem a interferência estatal.

    O ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira, que se alinha aos economistas "keynesianos", afirma que essa valorização excessiva do real é anterior a 2002 e explica a estagnação da renda per capita do país desde os anos 90.

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