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    Análise: Disputa de gigantes deve mudar jogo da telefonia no Brasil

    JULIO WIZIACK
    DE SÃO PAULO

    17/08/2014 02h20

    A disputa pela GVT entre Telefónica e Telecom Italia promete ser o maior negócio das telecomunicações no país. Caso uma das ofertas seja aceita pelo grupo de mídia francês Vivendi, dono da GVT, a transação movimentará pelo menos € 7 bilhões, o equivalente a R$ 21 bilhões.

    A fusão entre Oi e Portugal Telecom, que está em curso e criará um grupo de 100 milhões de clientes, girou R$ 14 bilhões recentemente.

    A GVT, criada há 14 anos oferecendo telefonia fixa e internet ultrarrápida, foi disputada em 2009 entre a Telefónica e a Vivendi. Os franceses adquiriram o controle da empresa por R$ 7,7 bilhões.

    Naquele momento, a GVT cobria 84 cidades e detinha 2% das receitas líquidas do setor. Hoje, ela atua em 153 cidades com pacotes de telefonia fixa, internet acima de 15 Mbps e TV e conta com 1,5 milhão de clientes.

    Nesse período, a GVT abocanhou 4% das receitas —disputando com Vivo (da Telefónica), Claro (do mexicano Carlos Slim), TIM (da Telecom Italia), Oi e Sky (adquirida pela AT&T). E isso sem prestar o serviço de telefonia celular.

    A GVT virou uma empresa de valor, mas, por R$ 21 bilhões, Telefónica e Telecom Italia estão comprando algo mais que a operadora.

    A Telecom Italia já negociava a fusão da TIM com a GVT (e uma sociedade com a Vivendi) antes de os espanhóis fazerem sua oferta. A proposta da Telefónica foi uma reação ao fortalecimento da TIM.

    Endividada, a operadora italiana estava tentando vender ativos para conseguir fôlego e continuar investindo.

    Mas a Telefónica é a maior acionista da Telecom Italia e, na visão dos minoritários, os representantes dos espanhóis no conselho da tele italiana pressionam pela venda da TIM. Se isso ocorrer, a subsidiária brasileira terá de ser fatiada em três. Vivo, Claro e Oi comprariam um pedaço cada uma. O acordo com a Vivendi seria, portanto, uma vacina.

    Ao mesmo tempo, a oferta da Telefónica é um passo para sua saída da Telecom Italia, uma das imposições do Cade, órgão brasileiro de defesa da concorrência, em 2013. Motivo: evitar conflitos de interesse e garantir a competição, já que a Telefónica controla a líder Vivo e tem, indiretamente, 10% da TIM.

    O que pode acontecer? Se a Vivendi aceitar a proposta da Telefónica, se tornará sócia da Vivo e poderá aceitar um pedaço da Telecom Italia que pertence aos espanhóis como parte do pagamento. Como receberá parte em dinheiro, poderá adquirir o restante da participação da Telefónica na Telecom Italia.

    Isso resolveria o problema da Telefónica com o Cade, mas deixaria a Vivendi com fatia em Vivo e TIM —e acenderia a luz amarela no Cade.

    Comecialmente, com a GVT, a Telefónica poderá vender pacotes "quatro em um" fora de São Paulo.

    Se a Vivendi preferir a Telecom Italia, daria mais musculatura para a TIM, que se fundiria com a GVT, e, ao mesmo tempo, teria mais poder de decisão na estratégia da operação italiana, em que a TV paga —ponto forte dos franceses— ainda é inexplorada.

    Em um mercado em que só grandes jogadores têm espaço, cada lance dessa partida vale mais do que parece.

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