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    Cresce número de acordos salariais com aumento real para trabalhador

    CLAUDIA ROLLI
    DE SÃO PAULO

    21/08/2014 09h40

    O número de acordos salariais que terminaram com reajuste acima da inflação para os trabalhadores aumentou.

    De janeiro a junho deste ano, passou para 93% o percentual dessas negociações que terminaram com ganho real (acima da inflação). Esse índice havia recuado para 83,5% em igual período do ano passado. Em 2012, considerado o melhor ano das negociações salarias, chegou a 95,6%.

    Somente 2,6% dos acordos do primeiro semestre não zeraram as perdas da inflação. No ano passado, eram 5,8%.

    Os dados estão em estudo divulgado nesta quinta-feira (dia 21) pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), que analisou 340 negociações salariais de trabalhadores da indústria, do comércio e do setor de serviços com data-base de janeiro a junho.

    Os acordos do primeiro semestre também tiveram aumento real médio acima do negociado no mesmo período do ano passado.

    Nos primeiros seis meses deste ano, o ganho real médio (acima da inflação) foi de 1,54%, ante 1,08% de igual período de 2013.

    Esse é o terceiro maior aumento real médio verificado desde que o Dieese começou a acompanhar em 2008 os acordos salariais dessa série de 340 acordos.

    "Apesar da onda de pessimismo e dos efeitos da inflação na economia, os aumentos reais médios foram melhores do que os de 2013", diz Airton Santos, coordenador de atendimento técnico sindical da entidade.

    Isso porque, afirma o técnico, a inflação acumulada nos 12 meses anteriores a cada data base ficou em patamar inferior neste ano.

    "Para repor a inflação acumulada em abril do ano passado, os trabalhadores precisavam negociar reajustes de 7,22%. Neste ano, o INPC acumulado em abril foi de 5,62%", diz Santos.

    Com taxa de desemprego baixa e inflação em menor patamar, o mercado de trabalho continuou aquecido no período, e os sindicatos conseguiram negociar reajustes que ficam acima da inflação.

    COMPARE OS REAJUSTES

    Variação %
    Acima do INPC-IBGE 317 93,2
    De 4,01% a 5% acima 7 2,1
    De 3,01% a 4% acima 19 5,6
    De 2,01% a 3% acima 66 19,4
    De 1,01% a 2% acima 153 45
    De 0,01% a 1% acima 72 21,2
    Igual ao INPC-IBGE 14 4,1
    De 0,01% a 1% abaixo 9 2,6
    Abaixo do INPC-IBGE 9 2,6
    TOTAL 340 100

    Fonte: Dieese

    -

    O melhor ganho real médio foi obtido pelos trabalhadores em 2012, quando os salários tiveram aumento de 2,15% acima da inflação medida pelo INPC. O indicador é mais utilizado pelos sindicatos para negociar reajustes.

    MELHORES AUMENTOS

    Na indústria, foram os trabalhadores da construção e mobiliário, os metalúrgicos e os empregados das empresas de alimentação os que conseguiram os maiores aumentos reais médios. No comércio, o destaque foi para o ramo de minérios e derivados de petróleo.

    Os trabalhadores das áreas de transporte e turismo também conseguiram embolsar os melhores aumentos reais no setor de serviços.

    Metroviários, motoristas de ônibus e empregados do setor de limpeza urbana são algumas das categorias que conseguiram aumentos salariais com paralisações e greves que ocorreram antes e durante a Copa do Mundo.

    O Mundial, realizado entre junho e julho deste ano, também serviu de fator de pressão para negociar aumento de salário e benefícios para algumas categorias, segundo revelou reportagem da Folha.

    "As paralisações bem sucedidas podem ter servido de estímulo para que outras categorias profissionais reivindicassem ganhos salariais maiores", afirma o coordenador.

    COMPARE OS REAJUSTES POR SETOR (em %)

    Variação Indústria Comércio Serviços
    Acima do INPC-IBGE 92,9 95,7 92,8
    De 4,01% a 5% acima 2,6 0 2,2
    De 3,01% a 4% acima 8,3 0 4,3
    De 2,01% a 3% acima 16,7 15,2 23,9
    De 1,01% a 2% acima 45,5 71,7 35,5
    De 0,01% a 1% acima 19,9 8,7 26,8
    Igual ao INPC-IBGE 2,6 2,2 6,5
    De 0,01% a 1% abaixo 4,5 2,2 0,7
    Abaixo do INPC-IBGE 4,5 2,2 0,7
    TOTAL 100 100 100

    EM BAIXA

    Dentre os trabalhadores que não conseguiram recuperar o poder de compra no primeiro semestre e tiveram reajustes inferiores ao INPC acumulado em suas datas-base, sete acordos foram negociados área industria l–corresponde a 4,5% das 156 negociações analisadas nesse setor.

    A produção na indústria recuou pelo quarto mês consecutivo em junho. Os dados do IBGE mostram perda de ritmo generalizada do setor.

    A indústria tem sido afetada pela desaceleração econômica no país, calendário apertado pela Copa, e mais recentemente pela crise argentina e seu impacto no setor automotivo.

    Os dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) também mostraram que a indústria sofre a piora no emprego formal em junho, com fechamento de 28,6 mil postos.

    No comércio, dos 46 acordos analisados pelo Dieese, somente um não teve reajuste igual ou acima da inflação. O mesmo ocorre no setor de serviços, em que 138 negociações salariais foram verificadas e somente uma ficou abaixo do INPC.

    O QUE VEM POR AÍ

    Para o segundo semestre, a tendência é de esses resultados se manterem, de acordo com o técnico.

    "Como o mercado de trabalho ainda está gerando vagas, apesar de ter diminuído o ritmo de abertura de vagas, e a inflação, segundo vários indicadores, sinalizar para tendência de queda, os acordos salariais negociados até dezembro devem se manter em patamares semelhantes aos do primeiro semestre", diz Santos.

    Petroleiros, bancários, metalúrgicos e comerciários são algumas das categorias profissionais com data-base no segundo semestre que já se mobilizam para obter reajustes acima da inflação em suas campanhas salariais.

    VEJA O AUMENTO REAL MÉDIO DOS SALÁRIOS, EM %

    Atividade Econômica 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
    Alimentação 0,86 0,61 0,86 1,32 1,68 0,8 1,46
    Construção e Mobiliário 1,73 1,25 2,8 2,39 3,41 1,77 2
    Fiação e Tecelagem 0,73 0,23 0,76 0,61 1,2 0,56 1,31
    Gráfica 0,8 0,6 1,57 0,78 1,42 0,83 1,23
    Metalúrgica, Mecânica e Mat. Elétrico 1,25 0,65 1,57 1,78 2,57 1,27 1,87
    Química e Farmacêutica 0,77 0,18 1,01 1,1 1,51 0,79 1,08
    Urbana 0 0,31 0,52 0,64 0,97 0,04 0,98
    Vestuário 0,22 0,25 0,99 0,72 1,53 0,99 1,14
    Total 0,98 0,67 1,59 1,47 2,17 1,09 1,55

    Fonte: DIEESE

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