A presidente Dilma tem buscado se reaproximar do setor privado, mas três encontros recentes de empresários mostram que a petista ainda está distante de atingir seu objetivo. Num deles, foi ouvido até o grito de "Fora, PT" quando o nome da petista foi citado em discurso.
Nos três encontros, realizados nas duas últimas semanas, o governo ou a presidente Dilma foram alvos de protestos e críticas feitos por empresários da indústria, setor que sofre forte retração neste ano e está demitindo.
O mais recente ocorreu em evento de comemoração dos 70 anos da Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná), na segunda-feira (18), em Curitiba, com a presença de cerca de mil pessoas no auditório da entidade.
Durante palestra do ministro Mauro Borges (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), representante do governo federal no encontro, os empresários começaram a demonstrar desconforto e irritação com a defesa que ele fazia das políticas econômica e industrial.
No momento em que o ministro citou o nome de Dilma, um empresário não se conteve e gritou, da plateia, "fora, PT", recebendo o apoio de colegas presentes à reunião.
Empresários e políticos presentes relataram à Folha que o clima era de "insatisfação" com o governo, afinal todos "conhecem bem a realidade de crise enfrentada pela indústria brasileira". Segundo um deles, o clima não era o mais propício para discurso em defesa do governo.
Mauro Borges foi socorrido pelo presidente da Fiep, Edson Campagnolo, que não poupou, porém, o governo de críticas em seu discurso de fechamento da reunião.
Campagnolo fez questão de dizer que falava em tom "institucional", evitando tomar posição partidária, mas atacou o "tamanho do Estado", criticando o número de ministérios e os mais de 20 mil cargos de confiança. "Nós vamos continuar pagando essa conta?", questionou.
Outro encontro em que o governo foi alvo de críticas aconteceu na sexta-feira (15), em reunião em São Paulo do MEI (Mobilização Empresarial pela Inovação), que reuniu dirigentes de grandes empresas do país.
Durante a reunião, o empresário Pedro Passos, sócio da Natura e colunista da Folha, criticou a estratégia da política industrial de escolher os setores beneficiados e disse que o Brasil perdeu muitas posições no âmbito da competitividade mundial por causa do protecionismo.
Ele defendeu uma política industrial mais horizontal, sem escolha dos campeões, e benefícios fiscais focados em projetos de inovação. Presente ao encontro, coube ao presidente do BNDES, Luciano Coutinho, fazer a defesa do Palácio do Planalto.
O Planalto também foi criticado no Congresso do Aço, realizado na terça-feira (12), quando o empresário Benjamin Steinbruch, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e colunista da Folha, surpreendeu ao dizer que só louco investe no Brasil neste momento e que medidas paliativas não resolvem os problemas da crise brasileira.
A fala de Steinbruch arrancou aplausos efusivos da plateia e gerou forte descontentamento no Planalto e na Fazenda. Mereceu, inclusive, reparos do ministro Guido Mantega, que afirmou que o empresário estava "redondamente" equivocado.