• Mercado

    Saturday, 04-May-2024 07:05:56 -03

    Corpo de Ermírio de Moraes é velado em SP; empresários lamentam perda

    DE SÃO PAULO

    25/08/2014 10h56

    O corpo do empresário Antônio Ermírio de Moraes foi velado na manhã desta segunda-feira (25) no salão nobre do Hospital Beneficência Portuguesa.

    Familiares e amigos do presidente honorário do Grupo Votorantim já chegaram para se despedir do empresário, em evento aberto ao público.

    Ermírio de Moraes, 86, morreu de insuficiência cardíaca, em casa, em São Paulo, na noite de domingo (24). Ele deixa a mulher com quem teve nove filhos.

    O executivo teve os diagnósticos de Alzheimer e hidrocefalia confirmados em 2006 e afastou-se da gestão do grupo em 2008.

    O sepultamento ocorreu às 17h30 desta segunda, no cemitério do Morumby, zona oeste de São Paulo.

    Emocionado, o presidente da Associação Comercial de São Paulo, Rogério Amato, afirmou que o dia servirá não somente para dar adeus a Moraes, mas para recordar seu legado.

    "Existem homens que marcam a história de um país. Esse era um deles", disse. "Precisamos, hoje, reaver valores e princípios dele, como o trabalho, a simplicidade e o patriotismo."

    O presidente do conselho deliberativo do Hospital Beneficência Portuguesa, Fernando Ramalho, também falou à imprensa.

    "A família Ermírio de Moraes dedicou várias décadas à administração dessa instituição. Graças a isso, continuamos superando obstáculos para atender a toda a população."

    Lázaro de Mello Brandão, presidente do Conselho de Administração do Bradesco, falou em nome do banco.

    "Era um excelente profissional, que dizia nunca tirar férias e tinha obstinação pelo que fazia, trazendo o melhor para o país. Cumpria suas obrigações e deixou um exemplo excepcional", disse.

    O presidente da instituição financeira, Luiz Carlos Trabuco Trappi, também compareceu ao velório.

    "Foi uma grande perda. Desde os seis anos frequento a casa do doutor Antônio", conta o diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, Benjamin Steinbruch. "Tenho o maior respeito e admiração [pela família] e vim aqui prestar o meu carinho".

    O ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega ressaltou a atuação do empresário na gestão do grupo Votorantim. "É um homem que destoa de sua geração porque conseguiu manter, ampliar e diversificar o grupo que, junto com seus irmãos, herdou de seus pais."

    Delfim Netto, que também ocupou o cargo de ministro da Fazenda, durante o regime militar, ressaltou as qualidades profissionais de Moraes e o legado de sua família. "A família Ermírio de Moraes há três gerações ajuda a construir o país", disse.

    Ainda prestaram homenagem a Moraes o ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Luiz Furlan, o ex-ministro da saúde Adib Jatene e o médico Raul Cutait, ex-diretor do Hospital Sírio-Libanês.

    O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, afirmou que o país sofreu uma "grande perda" com a morte do executivo.

    "Ele era um grande brasileiro, apaixonado pelo Brasil e inconformado com o potencial deste país", afirmou o governador, visivelmente abatido.

    Alckmin disse ainda que Moraes dedicou sua vida ao Hospital Beneficência Portuguesa (região central de São Paulo), além de ter contribuído com as artes e a cultura do Estado.

    "Em nome da população de São Paulo, ofereço nossa homenagem, orações, carinho e o nosso abraço à sua família."

    O governador de Goiás e candidato à reeleição Marconi Perillo (PSDB) viajou a São Paulo para prestar homenagem a Ermírio Moraes.

    "Vim trazer as condolências à família", disse. "Trago o agradecimento dos goianos por todos os investimentos [da Votorantim] feitos no Estado."

    Paulo Skaf (PMDB), candidato ao governo paulista, disse que Ermírio de Moraes foi um exemplo de chefe de família, pai, irmão, empresário e homem público.

    "É uma referência de trabalho e simplicidade, usando aqueles ternos desengonçados que o caracterizavam. Tenho certeza que estará em bom lugar, porque em vida só fez coisa boa", afirmou.

    GENEROSIDADE

    Para José Pastore, autor da biografia de Ermírio e professor da USP, o empresário deixa generosidade como lição.

    "A grande lição que ele [Antônio Ermírio de Moraes] deixa é a generosidade. Ele dizia que, para um homem rico era muito fácil assinar um cheque e doar, mas ele queria vir aqui [Hospital Beneficência Portuguesa] para ajudar na administração."

    O cardeal Odilo Scherer compareceu ao velório e afirmou que Moraes era "um apoiador das causas boas".

    "Tenho apreço pela personalidade que ele foi e é. Um grande trabalhador, empresário, mas também solidário".

    O maestro João Carlos Martins também lamentou a morte de Ermírio.

    "Devo a ele [Moraes] a minha volta à música. Foi a primeira pessoa que depositou confiança em mim, ao publicar um artigo na Folha de S.Paulo", disse. "Sinto que perdi um pai."

    O artista teve os movimentos da mão direita comprometidos após ser agredido durante um assalto e teve de superar os transtornos para voltar à música.

    O presidente do Itaú, Roberto Egydio Setubal, também compareceu ao velório.

    "Era um exemplo de empresário, um grande brasileiro, de ética incomparável. Vai deixar saudades".

    O rabino americano Henry Sobel exaltou o caráter do empresário.

    "Ele era um gigante espiritual e moralmente. Diante dessa perda, eu gostaria de lembrar que se continuamos a amar aqueles que perdemos, nunca perderemos aqueles que amamos. Descanse em paz."

    O fundador e sócio da Natura, Pedro Passos, também prestou o último adeus à Moraes.

    "Uma grande perda para o Brasil, de um grande brasileiro. Um homem conhecido pelas suas ideias, vigor e inteligência, que pôde transformar o cenário brasileiro."

    Para Wilson Ferreira Jr., presidente da CPFL Energia, com a morte do executivo, "o Brasil perde o melhor sinônimo do bom e ótimo empresário".

    Leia aqui, na íntegra, as notas de pesar sobre a morte do empresário.

    Moraes era engenheiro metalúrgico formado pela pela Colorado School of Mines (EUA) e iniciou a carreira na Votorantim em 1949. Ele foi responsável pela pela instalação da Companhia Brasileira de Alumínio, em 1955.

    Moraes publicou ao menos cinco livros e escreveu por 17 anos uma coluna dominical na Folha, mas seu principal hobby era o teatro. Ele escreveu e produziu três peças teatrais que focalizavam os problemas brasileiros e foram representadas em várias cidades do país: "Brasil S.A.", "SOS Brasil" e "Acorda Brasil.

    As atividades como escritor lhe garantiram a cadeira 23 da Academia Paulista de Letras.

    O empresário também dedicou parte da sua vida a atividades filantrópicas em instituições como a Cruz Vermelha Brasileira e a Sociedade Beneficência Portuguesa de São Paulo.

    Moraes construiu um dos maiores impérios econômicos do país –o Grupo Votorantim está presente em mais de 20 países e atua em diversos segmentos industriais como cimentos, metais, siderurgia, energia, celulose, agroindústria e negócios de banco de investimento– em mais de 50 anos de história brasileira.

    Sem receio de gerar desafetos, criticou a ditadura militar e a atuação de multinacionais e tentou carreira política.

    Em 1986, o empresário se lançou candidato pelo PTB ao governo do Estado de São Paulo, perdendo para Orestes Quércia (PMDB).

    Em entrevista à colunista Mônica Bergamo, em 2000, o empresário disse que se candidatou ao governo para combater Paulo Maluf. "Não voto em Maluf de jeito nenhum", disse Ermírio. "Nunca votei e nunca votarei."

    Moraes afastou-se da gestão do Grupo em 2008, após ser diagnosticado com Alzheimer.

    Em 2013, o sociólogo José Pastore, que conviveu por mais de 35 anos, escreveu a biografia do empresário: "Antônio Ermírio de Moraes, Memórias de um Diário Confidencial".

    Em nota, a Votorantim informou que "o grupo perde um grande líder, que serviu de exemplo e inspiração para seus valores, como ética, respeito e empreendedorismo, e que defendia o papel social da iniciativa privada para a construção de um país melhor e mais justo, com saúde e educação de qualidade para todos".

    GRUPO VOTORANTIM

    O lucro líquido consolidado da Votorantim Industrial em 2013 foi de R$ 238 milhões, 174% acima dos R$ 87 milhões de 2012. A empresa abrange os negócios de cimento, metais, mineração, siderurgia e papel e celulose do Grupo Votorantim.

    Houve aumento de 14% na receita líquida sobre 2012, totalizando R$ 26,3 bilhões no ano passado.

    Enquanto isso, o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) –um indicador da capacidade de geração de caixa– somou R$ 5,4 bilhões em 2013, crescimento de 19% em relação ao valor obtido em 2012.

    No segundo trimestre deste ano, a Votorantim Industrial lucrou R$ 514 milhões.

    Com agências de notícias

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024