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    Investimento no segundo trimestre tem maior queda desde 1º tri de 2009

    PEDRO SOARES
    LUCAS VETTORAZZO
    DO RIO

    29/08/2014 11h05

    Diante da menor confiança de empresários, do fraco ritmo do consumo, do crédito restrito e dos juros altos, os investimentos tiveram o maior tombo desde o primeiro trimestre de 2009, período em que o país vivia o pico da crise global iniciada em 2008.

    A queda de 5,3% frente ao primeiro trimestre foi a segunda taxa negativa consecutiva.

    Sob impacto negativo da Copa, de freada do consumo e da retração dos investimentos, o PIB do país caiu 0,6% no segundo trimestre na comparação com os três primeiros meses deste ano.

    O IBGE também revisou para baixo o desempenho do primeiro trimestre, para queda de 0,2%, indicando, segundo analistas –embora o termo não haja consenso sobre o termo–, que o Brasil entrou em recessão técnica.

    Se para o PIB a recessão ainda é dúvida, o mesmo não se pode dizer para os investimentos.

    Boa parte dessa queda se deve à forte retração de 2,9% na construção civil, a maior dentre os subsetores do PIB. Para Silvia Matos, da FGV, as famílias estão endividadas e com ganhos cada vez menores de renda, o que trava o mercado de lançamento imobiliários.

    "Isso já até afeta o preço dos imóveis, que já começam a cair, após o 'boom' do setor até o ano passado."

    Com o problema orçamentário do governo federal, que contingenciou recursos, e as incertezas de empresários, as obras de infraestrutura também não deslancharam como o previsto, diz Matos.

    Na comparação com o segundo trimestre de 2013, a construção despencou 8,7%. Foi a maior queda desde o primeiro trimestre de 2002.

    Editoria de Arte/Folhapress

    TRABALHO

    Rebecca Pallis, do IBGE, diz que outro ponto que já sinalizava a crise do setor é a redução do número de vagas, já apontada pela pesquisa mensal de emprego do instituto.

    Também afetou o desempenho dos investimentos, diz Pallis, a menor produção de máquinas e equipamentos destinados ao aumento da capacidade produtiva do país.

    Na comparação com o segundo trimestre de 2013, o tombo dos investimentos na economia foi ainda mais intenso: 11,2%, maior retração desde o segundo trimestre de 2009.

    No acumulado dos últimos quatro trimestres, esse item do PIB é o único a encolher (-0,7%). Até 2013, os investimentos mantinham tendência de expansão.

    Com o agravamento da crise de confiança de empresários e consumidores (que investem, por exemplo, em reformas e compra de imóveis) –algo que tradicionalmente piora em anos de eleição–, o investimento sofreu mais neste ano. Também pesaram juros mais altos e inflação maior, que corrói salários e amplia o custo das empresas –ou seja, sobra menos dinheiro para investir.

    Isadora Brant - 10.jul.2014/Folhapress
    Consumidores observam produtos da Copa na 25 de Março (SP) após eliminação do Brasil; consumo das famílias cresceu só 0,3% no 2º tri
    Consumidores observam produtos na 25 de Março (SP); consumo das famílias cresceu só 0,3% no 2º tri

    Diante do fraco desempenho neste ano, a taxa de investimento despencou de 18,1% para 16,% entre o segundo trimestre de 2013 e o mesmo período.

    Economistas estimam que o Brasil precisa de uma taxa (total dos investimentos realizados como proporção do PIB em valores) da ordem de 22% para sustentar um crescimento econômico entre 4% e 5% ao ano e ampliar a capacidade de produção e a infraestrutura –fatores que hoje restringem a expansão do PIB.

    CONSUMO

    O consumo das famílias, que nos últimos anos tem sido o ponto de sustentação do PIB, mostra fraco desempenho neste ano, com queda de 0,2% no primeiro trimestre e leve alta de 0,3% no segundo, na comparação com os períodos imediatamente anteriores.

    A discreta melhora se deve à inflação um pouco menor no segundo trimestre, o que aumentou marginalmente o poder de compra das pessoas.

    Embora cresça num ritmo bem mais moderado, o consumo segue em alta em relação a 2013, com avanço de 1,2%, ainda mantido pelo mercado de trabalho –vetor da economia que não sentiu ainda de modo tão intenso o atual cenário de desaceleração econômica.

    POUPANÇA

    Com a menor renda disponível com a inflação maior e a alta menor dos salários, porém, as famílias pouparam menos. O mesmo ocorreu com as empresas e com o governo, que vive uma deterioração fiscal, com corte de recursos orçamentários.

    Diante disso, a taxa de poupança da economia brasileira caiu de 16,1% no segundo trimestre de 2013 para 14,1% no mesmo período deste ano.

    Um dos destinos principais da poupança é investir na compra da casa própria, na ampliação por parte das empresas de seus negócios e da infraestrutura.

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